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“Não contei antes porque não consegui”, desabafa Diego Hypólito

De acordo com o esportista, a confissão só aconteceu após anos de terapia e apoio de outros atletas

atualizado

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JONNE RORIZ/ESTADÃO CONTEÚDO
Diego Hypolito
1 de 1 Diego Hypolito - Foto: JONNE RORIZ/ESTADÃO CONTEÚDO

Diego Hypólito foi um dos convidados do Encontro nesta segunda-feira (7/5). No programa, ele falou acerca dos casos de abuso que sofreu ainda criança quando treinava no Flamengo, no Rio de Janeiro.

“Muita gente me questiona sobre não ter dito antes. Não contei porque não consegui”, explicou. Segundo o esportista, a confissão só aconteceu após anos de terapia e apoio de outros atletas. “Passei muito mal antes de contar. Quando contei, fiquei com vergonha de olhar para as pessoas, não consegui treinar.”

Denúncia
Motivado pelas denúncias contra o técnico Fernando de Carvalho Lopes, acusado de assédio sexual por 40 ginastas, o medalhista olímpico Diego Hypolito decidiu resgatar fatos marcantes da sua trajetória. Em entrevista à TV Globo, o atleta revelou ter sido vítima de bullying quando criança e ainda treinava no Flamengo, no Rio de Janeiro.

O bicampeão mundial no solo contou que as intimidações eram frequentes. Segundo ele, chegavam a envolver atos sexualmente constrangedores, sempre com o consentimento dos treinadores. Hypolito relembra ocasião específica, quando tinha de 10 para 11 anos, em um Campeonato Brasileiro em Ribeirão Preto (SP).

Eles me faziam ficar pelado e pegar com o ânus uma pilha com pasta de dente em cima. Nesse dia, tive um ataque epilético e não consegui terminar a prova. Depois, a gente colocava, ainda com o ânus, a pilha dentro de um buraquinho do tênis. Se caísse fora, voltávamos e fazíamos a prova de novo. Fiquei muito nervoso com a situação, me deu desespero.

Diego Hypolito

O ginasta afirma, ainda, nunca ter relatado aos pais o bullying. Mas até hoje convive com o trauma de situações pelas quais teve de passar, como asfixiamento. “Quando a gente não treinava certo ou acontecia alguma coisa errada, tinham períodos do ano em que eles (técnicos) colocavam a gente dentro de uma tampa de plinto e jogavam magnésio com a gente dentro, igual a um caixão. Hoje eu tenho problema para entrar em avião e elevador, locais fechados. São reflexos do que eu vivi quando eu era criança e que eu jamais imaginei”, desabafa.

Aluno de Lopes, entre 2014 e 2016, Diego acredita que a revelação dos casos de abuso de seu ex-treinador deve ser encarada como uma chance de reflexão e mudança de hábitos recorrentes no meio olímpico. “Eu nunca pude me defender porque a sensação que eu sempre tive é que, se eu faço isso, eu poderia ser punido. Mas não tem mais como a gente passar por isso e ficar impune. Porque isso dará reflexos para o resto da minha vida”, conclui.

A entrevista do atleta gerou grande repercussão na internet. Em alguns comentários, internautas contaram ter passado por violência semelhante a do ginasta. “Gente, isso que o Diego Hypolito falou no Jornal Nacional acontece em qualquer lugar… Já passei muito por isso quando fazia natação, onde os mais velhos tinham de mostrar que mandavam e os diretores e treinadores achavam saudável para a convivência em equipe”, disse um seguidor.

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