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O gênio e o louco: conheça a trajetória de Jürgen Klopp

Além do sucesso dentro das quatro linhas, o técnico agora campeão mundial também é fã de rocke não hesita em comentar sobre política

atualizado

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Matthew Ashton/Getty Images
Liverpool FC v CR Flamengo – FIFA Club World Cup Qatar 2019
1 de 1 Liverpool FC v CR Flamengo – FIFA Club World Cup Qatar 2019 - Foto: Matthew Ashton/Getty Images

O alemão Jurgen Norbert Klopp, 52 anos, nem precisava ter vencido o Mundial de Clubes para ser considerado um dos melhores treinadores do mundo e uma lenda do Liverpool. Porém, a vitória sobre o Flamengo por 1 x 0 neste sábado (21/12/2019), no estádio Internacional Khalifa, que adicionou um título inédito à abarrotada prateleira do clube inglês, eleva ainda mais o status do treinador no mundo do futebol e em Merseyside.

Apesar de hoje ser algo próximo a uma unanimidade, os primeiros passos de Jürgen no futebol não pareceram tão promissores. Nascido em Stuttgart e criado em Glatten, cidade no meio da região da Floresta Negra, Klopp herdou a paixão pelo futebol do pai, mas o seu talento só o levou ao Mainz, como defensor, na segunda divisão da Alemanha.

“Na minha cabeça, eu era um jogador da Bundesliga (primeira divisão alemã), mas meus pés estavam na Landesliga (torneio inferior, equivalente à sexta divisão)”, definiu Klopp em trecho de sua biografia.

Apesar de não conseguir transmitir para os pés o que a cabeça pensava, Klopp fez a transição natural para treinador em 2001, assumindo o próprio Mainz já com seu inconfundível estilo: boné, óculos, casaco e calça esportiva. Lá, começou a implementar suas ideias de pressionar o adversário constantemente e, após três temporadas, conseguiu o primeiro acesso da história do clube para a Bundesliga, a primeira divisão alemã.

Borussia Dortmund
Após 18 anos de Mainz — 11 como jogador e sete como treinador —, história que, devido ao baixo orçamento do clube, terminou com um novo descenso para a Série B e pedido de demissão, Klopp assinou com o Borussia Dortmund em 2008. O clube vinha de uma temporada decepcionante, algo que logo mudou com o carismático treinador.

Já na sua segunda temporada, Jürgen liderou o Dortmund ao título da Bundesliga, se tornando o time mais jovem a vencer o campeonato. O bi veio na temporada seguinte, batendo recorde de pontos, com 81, vitórias, com 25 e vitórias consecutivas, com 28.

Na temporada seguinte, apesar de uma campanha nacional fraca, o time chegou à final da Champions League, batendo adversários como Manchester City, Real Madrid e Ajax no caminho. Na final, foi derrotado pelo rival Bayern de Munique por 2 x 1.

Em seus dois últimos anos no clube, irritado por ter perdido jogadores importantes para o rival Bayern, como Götze e Lewandowski, Klopp não conseguiu chegar tão longe, tanto na Champions quanto na Bundesliga, e avisou que deixaria o clube ao final da temporada 2014-15, tendo vencido dois Campeonatos Alemães, duas Copas da Alemanha e uma Supercopa.

Liverpool
Em sua primeira coletiva à frente do novo clube, que também vinha de uma temporada decepcionante sob o comando de Brendan Rodgers, Klopp prometeu brigar por troféus em quatro temporadas e se autodenominou “The Normal One” (O Normal), uma brincadeira com o apelido dado por Mourinho para ele próprio, “The Special One” (O Especial).

E sua primeira temporada à frente dos Reds seria, de fato, bem normal. Oitava posição na Premier League, ficando de fora dos torneios continentais, e derrota na final da Europa League para o Sevilla.

Aos poucos, no entanto, Klopp foi dando sua cara para o Liverpool, desenvolvendo jogadores como Robertson, Alexander-Arnold. O resultado foi a classificação para a Champions League em 2017-18, quando alcançou sua primeira final do torneio, contra o Real Madrid, a qual perdeu por 1 x 3 e sofreu críticas por sua defesa levar muitos gols.

Klopp lidou com o problema reforçando o time com nomes como Keita, Van Dijk e o goleiro brasileiro Alisson Becker. Os reforços deram certo e o Liverpool lutou até o fim pelo título da Premier League com o Manchester City. Apesar de não ter conseguido levantar o caneco do Inglês, finalmente venceu a Champions League que o escapava, derrotando o rival Tottenham na final.

Na temporada atual, além de ter vencido a Supercopa Europeia e o Mundial, tem guiado o time para uma campanha vencedora na Premier League, título que o torcedor do Liverpool mais almeja, e que não vem desde 1990.

Fora do molde
Fora das quatro linhas, Klopp demonstra várias facetas de uma personalidade que vai do carismático e sorridente até o duro e irascível, rendendo algumas suspensões em seu tempo na Alemanha por reclamações com árbitros.

Fã de KISS, Beatles e Genesis, Jürgen começou a demonstra cedo que era um boleiro diferente. Quando mais jovem, queria ser médico. Como era um mau aluno, suas notas o impediram de realizar o sonho da família. Decidiu estudar Ciências do Esporte na Universidade Goethe, de Frankfurt, enquanto se esforçava para virar jogador profissional.

Já estabelecido como treinador bem-sucedido, Klopp não hesita em falar sobre suas preferências religiosas e políticas em entrevistas.“Eu diria que nossa missão é fazer com que nosso minúsculo pedaço de terra seja um pouco mais bonito”, disse ao Westdeutsche Zeitung, em 2007. “A vida consiste em fazer com que os lugares por onde passamos sejam melhores, e em não nos levarmos tão a sério. Em se esforçar ao máximo. Em amar e ser amado”, afirmou o treinador, cristão de inclinação protestante.

Ao diário Taz, afirmou que nunca votaria na direita. “Creio no estado de bem-estar social. Nunca pagarei um plano privado de saúde. Nunca votarei em um partido porque promete baixar os impostos”.

Sem papas na língua e trabalhando na Inglaterra, Klopp também comentou sobre o Brexit para o Guardian. “Não sou a pessoa mais adequada para falar do Brexit, mas, se me perguntam, dou minha opinião. Será que vão me escutar? Talvez esse seja o problema: a gente escuta às pessoas erradas. Por isso, [Donald] Trump é presidente dos Estados Unidos. Por isso, os ingleses votaram o Brexit! A União Europeia não é perfeita, não foi perfeita e não será perfeita. Mas é a melhor ideia que tivemos até o momento. Devemos repensar o Brexit, levá-lo à votação outra vez com informações adequadas. Aprovar o Brexit por 51% dos votos diante de 49% contrários não tem o menor sentido”, concluiu.

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