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“Martelo batido sobre GP do Brasil”, diz diretor do projeto F-1 no RJ

JR Pereira, diretor executivo da holding Rio Motorsports, disse que o Rio está perto de ser confirmado como sede do GP Brasil de Fórmula 1

atualizado

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FREDERIC LE FLOCH/FOX PRESS PHOTO/AE
GP do Brasil de F1
1 de 1 GP do Brasil de F1 - Foto: FREDERIC LE FLOCH/FOX PRESS PHOTO/AE

JR Pereira, diretor executivo da holding Rio Motorsports, disse, em entrevista, que o Rio de Janeiro está perto de ser confirmado como sede do GP do Brasil de Fórmula 1 a partir de 2021 – o acordo da categoria com São Paulo termina em 2020.

O responsável pela empresa que elaborou o projeto de construção do novo autódromo carioca, em Deodoro, zona oeste da capital fluminense, afirmou que a cidade fluminense vai vencer a concorrência com São Paulo por oferecer condições mais lucrativas aos donos da principal categoria do automobilismo mundial.

De acordo com JR Pereira, o maior trunfo do Rio é a confiança em conseguir pagar para a F-1 a taxa anual de promoção, a famosa “promoter fee”, de US$ 35 milhões (cerca de R$ 130 milhões). A candidatura se respalda no apoio público do presidente Jair Bolsonaro e em um contrato assinado com a categoria com a promessa de que até novembro a exclusividade nas negociações sobre o GP do Brasil é com o Rio.

Apesar das declarações do empresário, São Paulo também se considera em fase avançada de conversa com a categoria. O promotor do GP do Brasil, Tamas Rohonyi, disse ao Estado que, por cláusulas de confidencialidade, não pode comentar sobre as finanças da prova. Ele garante que, em reunião em junho, o chefe da F-1, Chase Carey, e o governador João Doria deixaram alinhada uma renovação. “Ficou acordada a extensão do contrato até 2030 e as negociações estão em curso”, diz.

Procurado pelo Estado, Doria disse não ter sido contactado por JR Pereira sobre o GP e negou ter marcado reunião com a F-1. A categoria, por sua vez, não quis comentar o tema. A prefeitura de São Paulo afirmou que mantém as negociações para renovar.

Confira abaixo a entrevista:

Como estão as negociações?
A negociação começou dois anos atrás, quando a F-1 nos procurou. Criamos o circuito com ideia para a MotoGP. As negociações estão indo bem. A gente está muito satisfeito.

Até quando é possível ter uma definição sobre qual será o palco do GP do Brasil a partir de 2021?
A decisão está feita. Será no Rio de Janeiro, a cidade da esperança (risos). Mas tirando a brincadeira, o Rio tem todas as características de poder sediar a prova. Existem vários fatores que têm de ser analisados: econômicos, logísticos, segurança, qualidade do autódromo, a parte técnica. Eu acredito que fazendo um bom trabalho, desenvolvendo um bom circuito, com características para o público, levando o show business para dentro do evento, a gente tem uma chance muito boa de sediar a Fórmula 1 a partir de 2021.

Desde quando o presidente Jair Bolsonaro, o governador Wilson Witzel e o prefeito Marcelo Crivella apoiam o projeto do Rio?
O prefeito apoiou já nos primeiros 20 dias de mandato. Em 2017, assim que ele venceu as eleições, nós o procuramos. Depois disso houve a eleição em outubro do ano passado, o Chase Carey (chefe da F-1) veio ao Brasil e fez questão de se encontrar com o governador eleito, que deu seu apoio. Neste ano fizemos a apresentação do projeto ao presidente, que se entusiasmou, como todo mundo sabe. Espero aproveitar esse apoio e levar para o Rio uma grande corrida.

São Paulo diz que vai manter o GP. Como vê a concorrência?
A corrida aqui em São Paulo, se não me engano, até 2017 fazia os pagamentos da taxa para trazer a prova, mas depois disso, pelo que nos consta, houve problemas financeiros na disputa e a F-1 precisa de uma solução. Isso que a levou, eu imagino, a nos procurar. Ela tem feito isso no mundo inteiro, não é só no Brasil.

Pela presença de governadores e presidente na disputa pelo GP, existe a possibilidade de que a decisão seja política?
Zero. A definição da Fórmula 1 vai acontecer 100% na questão técnica, show business e financeiro. É isso o que tenho visto, é essa a mensagem que a F-1 tem me passado (em recentes encontros) A prova em São Paulo contempla 67 mil espectadores. No Rio de Janeiro, é para o dobro disso. Isso cria um fator econômico mais propício à Fórmula 1.

Como seria bancado o valor de quase R$ 700 milhões para construir o autódromo no Rio?
Essa engenharia financeira eu guardo como um segredo. Vou declinar de responder no detalhe. Mas posso te dizer que existe uma parte de investimento de atores internacionais que já estão acostumados a investir na parte do automobilismo. Você tem a parte de patrocínios, que é muito importante. Lembre-se que o autódromo do Rio de Janeiro não é só para a Fórmula 1.

Houve recentemente decisões desfavoráveis ao andamento da licitação. Isso não atrapalha?
A decisão que houve (suspender a contratação da licitação) não afeta em nada. A decisão deixa claro que é necessário o estudo de impacto ambiental. Isso é lei. A gente continua trabalhando da mesma forma.

De onde viria a expertise para a organização da corrida?
Toda a expertise para realizar os grandes eventos nós vamos trazer de fora. São empresas internacionais que estão acostumadas a fazer esses eventos lá fora. Algumas dessas empresas são partes do consórcio. Esse know-how para um evento de 130 mil pessoas não existe na América do Sul.

A presença de investidores garante que o Rio conseguirá pagar a taxa de promoção?
Com certeza. Esse ponto já foi estruturado não só para a Fórmula 1, como também para todos os eventos que nós estamos trazendo para o Brasil.

É viável ter um autódromo no Rio de Janeiro sem o GP de F-1?
É viável. Hoje nos eventos de Fórmula 1 você precisa ter mais de 100 mil pessoas. O problema de São Paulo, eu imagino, é que com 65 mil pessoas (público de cada dia) você não consegue gerar massa crítica suficiente para pagar a taxa. A Fórmula 1 não faz dinheiro nenhum no Brasil hoje. Até a edição de 2017, ela fazia, porque a taxa estava sendo paga.

A Fórmula 1 fez um leilão entre as cidades do Rio e São Paulo?
Tenho certeza que ela fez. Nós já acertamos valores. Não tem mais negociação. Eu estou acertando os detalhes do contrato. Quanto tenho de pagar de taxa, quais as minhas propriedades, quais as contrapartidas… O martelo já está batido. Fui lá (em Londres) para saber as condições de pagamento.

Em algum momento São Paulo hesitou e permitiu que o Rio avançasse na concorrência?
Eu procurei há dois anos o Nelson Wilians (um dos advogados particulares do governador João Doria). Quando a F-1 nos procurou, queria entender se, com a ideia de privatização do Autódromo de Interlagos, qual era a posição de São Paulo sobre o GP do Brasil. Aí o Nelson conversou com ele e me retornou: “Ele não quer saber dessa conversa, é torta, é complicada, ele vai colocar isso para privatizar e é essa a posição dele”. Então eu conversei com a F-1 e disse que eles (de São Paulo) queriam vender o terreno para construir prédios (privatizar).

São Paulo menosprezou?
Sim, com certeza.

Mas o governador João Doria prometeu se esforçar…
Ele foi conversar com a Fórmula 1 e eles avisaram o Tamas (Rohonyi, promotor do GP do Brasil) para ele não ir, porque não iriam recebê-lo. Ele foi para Londres, largou tudo aqui e não se encontrou com a F-1. Falaram para o Doria que não poderiam conversar sobre 2021 até novembro.

Há tempo para construir um autódromo no Rio?
Sim. Estamos com dois anos de folga, se começar em novembro. Quero fazer em 16 meses. Significa contar esse prazo a partir da emissão da licença ambiental.

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