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Netflix: Tuca & Bertie explora a vivência feminina através de aves

Desenho animado para adultos explora múltiplos aspectos das mulheres sem perder a atenção especial às protagonistas

atualizado

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Cortesia da Netflix
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1 de 1 Tuca___Bertie_S01E01_3m19s4774f - Foto: Cortesia da Netflix

Lisa Hanawalt. Muitos não sabem, mas a criadora do novo desenho animado para adultos da Netflix, Tuca & Bertie, é a artista responsável pelo visual da série BoJack Horseman, na qual personagens humanos e antropomórficos convivem em sociedade.

Desta vez, no entanto, Hanawalt decidiu focar em duas mulheres não-brancas: Tuca, cuja dubladora é a atriz e comediante Tiffany Haddish, e Bertie, com voz feita pela também humorista Ali Wong. O desenho é criado por uma mulher, sobre a experiência feminina, para mulheres que talvez se encontrem na mesma situação que as protagonistas.

A série começa com a separação de duas amigas que se encontram em uma parte crucial de suas vidas. Bertie (Wong), um tordo-comum, está prestes a morar com seu namorado, um tordo-americano chamado Speckles (Steven Yeun, de The Walking Dead). Tuca (Haddish), sua melhor amiga e companheira de apartamento, deve se mudar (para o andar de cima do mesmo prédio) e viver sozinha.

A série tem um formato de sitcom, em que as protagonistas se encontram em situações absurdas e miraculosamente conseguem sair delas ilesas. A diferença é que, já que esta é uma série animada, as possibilidades são infinitas. Em um episódio, por exemplo, Tuca e Bertie têm de ir a um supermercado para comprar um remédio para a DST de Tuca – “insetos sexuais” que gostam de fazer festa. Ao longo do episódio, o que deveria ser uma viagem de dez minutos acaba se tornando um julgamento sobre os direitos dos “insetos sexuais” que agora são do tamanho de outros seres do mundo.

Os temas de assédio sexual, estupro, vícios, dismorfia corporal e doenças mentais são tratados tão delicadamente que conseguimos rir do mesmo humor niilista presente no “show-primo”, BoJack. O fato de os personagens serem não-humanos (aves, plantas e até batatas) facilita o tratamento de temas mais pesados com uma leveza especial: um senso de falta de esperança que as coisas não mudarão, mas ainda podemos apreciar a vida com isso em mente.

No entanto, desta vez as protagonistas são personagens que têm sua redenção apesar de terem errado no passado. Este show traz muito mais esperança do que BoJack, e é isso que o faz tão caracteristicamente feminino. Mulheres – representadas por Tuca, Bertie, Draca (a misteriosa planta hippie) e todas as outras personagens femininas – têm de lidar com diversos eventos em suas vidas, sejam eles bons ou ruins.

Há uma vivência específica de mulheres explorada em Tuca & Bertie. Duas amigas estão sendo separadas por suas próprias vidas após passar anos formando uma identidade juntas. Como um time, as duas são ideais, mas o seriado mostra a realidade e as emoções da situação. Após tantos anos andando de mãos dadas, os dias passados separadamente por cada ave abrem muito espaço para suas transformações.

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Tuca é uma ex-alcoólatra, sóbria há seis meses, e ainda tem problemas em sua vida amorosa. Bertie sofre com ansiedade – definida por Tuca como “mão posso sair porque tudo me assusta e meu corpo está mantendo minha mente como refém” – e, por conta disso, às vezes não consegue expressar o que está sentindo em certas situações. Isso as torna humanas, e é a perseverança delas (até por falta de escolha) que faz da série um programa inspirador.

Além do estilo único, a série também faz parte de um movimento importante de representatividade. Ela não fala diretamente de empoderamento, mas da experiência de duas jovens mulheres no caminho do empoderamento.

Avaliação: Ótimo

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