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Especialistas explicam por que Pantanal é febre 32 anos após original

Exaltação à natureza, abordagem mítica e seleção do elenco, com veteranos e novas caras, conquistaram o público na nova versão

atualizado

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Ranyelle Andrade/Metropoles
Jove e Juma em Pantanal
1 de 1 Jove e Juma em Pantanal - Foto: Ranyelle Andrade/Metropoles

Em pouco mais de dois meses no ar, Pantanal se transformou em um grande sucesso, como há muito o gênero das telenovelas não via. Embora a versão de Benedito Ruy Barbosa tenha marcado época na TV Manchete nos anos 1990, muita gente duvidava que Bruno Luperi, neto do novelista, seria bem-sucedido na missão de adaptar a trama. No entanto, bastaram alguns dias no ar para não restarem dúvidas sobre o potencial da história na era da internet e do streaming.

Desde Avenida Brasil, exibida há 10 anos, a Globo não emplacava uma novela de tamanho impacto em sua programação, com roteiro, elenco, locação e orçamentos poderosos. Como resultado, a produção elevou não só a audiência mas também a repercussão nas redes sociais, que sequer existiam há 32 anos, quando Cristiana Oliveira encarnou Juma Marruá.

Diariamente, diversos nomes do novo elenco são lançados aos assuntos mais comentados do Twitter. Nenhuma cena ou boa atuação passam alheios aos internautas. Nessa semana, por exemplo, Gabriel Sater e Izabel Teixeira dominaram as menções à novela, com performances memoráveis de Trindade e Maria Bruaca, respectivamente. Aliás, a personagem da atriz já ganhou até fã-clube, os “bruaquers”.

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Na opinião de especialistas, vários motivos contribuem para o frisson causado pela trama. Para o pesquisador e crítico de TV Nilson Xavier, autor do Almanaque da Telenovela Brasileira, eles começam pelo roteiro original. “Bruno Luperi tem uma ótima história em mãos, arrisco dizer que é a melhor história do Benedito”, afirma.

“É uma novela que mexe com a fantasia, com um Brasil mítico, algo que andava afastado da TV brasileira. Também tem o fato da novela se passar no interior do Brasil e mexer com as memórias afetivas do público, depois de um momento muito duro para os brasileiros”, disse, referindo-se a pandemia de Covid-19, quando a programação foi invadida por reprises.

O especialista também avalia que Luperi está sendo feliz ao mostrar a exuberância do bioma brasileiro sem limitar a narrativa a ela. “O texto original é de 1990, quando a televisão tinha uma outra cara, pensava de outro modo. Mas não só no quesito diversidade de raça e gênero que Bruno Luperi fez uma boa atualização. É preciso salientar que Pantanal foi exibida em uma época na qual a TV a cabo ainda não era popularizada, não havia canais sobre viagens, natureza, etc. Hoje as paisagens não são novidade. Bruno foi esperto em não resumir sua obra à locação”, pondera.

Mauro Alencar, doutor em teledramaturgia pela Universidade de São Paulo (USP) e professor no Centro Universitário Belas Artes, concorda com o colega.

“A história de Benedito Ruy Barbosa é recheada de personagens míticos que se misturam com a natureza, com o paraíso selvagem, propiciando a nós espectadores a possibilidade de uma narrativa ao mesmo tempo repleta de ação, suspense e serenidade. Faço aqui um paralelo com o ‘mito do bom selvagem’, de Rousseau, onde a sociedade é responsável por incutir no ser humano hábitos que conduziriam ao conflito e aos problemas. É onde encontramos o conflito central – selvagem e urbano – representado pelos personagens Juma e Jove, respectivamente”, opina.

Mauro Alencar, crítico de TV e doutor em teledramaturgia

O docente salienta que o sucesso da trama original é resultado da temática e da produção, que estavam em sintonia com o momento social, político e econômico do país, o que Luperi também conseguiu agregar à versão atual.

“Pantanal trouxe uma nova linguagem para as telenovelas. Reside aí a sua principal importância. Foi uma novidade absoluta, tanto em termos de história quanto de narrativa audiovisual, a cargo de Jayme Monjardim. A questão mítica, que nos leva ao fantástico e lendário; o folclórico, ao lado do místico, representado pelo misterioso da mata, da selva, onde reina o espiritual. Temos, portanto, o mítico e o místico misturados na argamassa do folclore brasileiro”, diz.

Ele acrescenta que Pantanal também caiu no gosto dos brasileiros por fugir do padrão habitual de novela. “Um gênero é feito de arroz e feijão e, de tempos em tempos, temos temperos que fogem completamente ao habitual”, diz. Para ele, mais que trazer novidades, Pantanal conseguiu expandir os limites do gênero. “Da mudança comportamental do público, do avanço do streaming, das séries de ficção (que imperam cada vez mais no mercado consumidor) dentro dessa agitada nova era em que vivemos”, conclui ele.

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