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Claudia Raia sobre os tempos atuais: “Público é bem mais polarizado”

A atriz vive a personagem Lidiane na trama Verão 90, com direção de Jorge Fernando

atualizado

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João Cotta/TV Globo
Verão 90
1 de 1 Verão 90 - Foto: João Cotta/TV Globo

Após surgir para o Brasil nos anos 1980 ao brilhar como a Ninon de Roque Santeiro (1985), Claudia Raia experimentou um sucesso estrondoso na década seguinte, quando estampava capas de revistas e era considerada musa. Difícil esquecer alguns de seus personagens, como a Adriana, de Rainha da Sucata (1990), a Maria Escandalosa, de Deus Nos Acuda (1992), e a Engraçadinha, da minissérie homônima, de 1995.

Em 2019, ela está de volta à telinha como Lidiane, uma mulher espalhafatosa e carismática, sob medida para conquistar o público em Verão 90, nova novela das sete da TV Globo. Em um bate-papo com o Metrópoles, Claudia se diverte falando sobre o novo trabalho e relembrando o que os anos 1990 representaram para ela.

O que o público pode esperar de Lidiane em Verão 90?
A Lidiane é um desacerto acertadíssimo! Ela tem todas as emoções ao mesmo tempo e é uma personagem puramente de comédia. Uma mãe apaixonada pela filha e que faz qualquer coisa para ela estar feliz, principalmente por acreditar piamente no sucesso da Manu. É também uma ex-atriz de pornochanchada. É uma mulher “bagaceira”? É, mas com o coração maravilhoso! Uma heroína às avessas.

João Cotta/TV Globo
Manuzita (Isabelle Drummond) e Lidiane (Claudia Raia): filha e mãe em Verão 90

Você está bastante empolgada com ela, não?
A Lidiane é uma personagem muito rica, que possibilita ir da alta comédia à comédia mais “bagaceira”, passando pelo drama mais profundo. Tudo isso em uma única frase. Então, é bem difícil de fazer, pois ela tem várias emoções ao mesmo tempo e sem controle sobre isso. Pode ir a qualquer lado, e isso, para uma atriz, é um presente.

O que você inseriu no universo da Lidiane?
Estou fazendo sotaque carioca pela primeira vez e amando isso! Meus filhos (Enzo e Sophia) são cariocas e eu estou imitando os dois. Sou paulista de Campinas, mas tenho um sotaque neutro. Morei no Rio de Janeiro por 30 anos, mas nunca adquiri o jeito de falar local.

Você mudou o visual para a personagem?
O cabelo está bem ruivo, que é uma cor muito dos anos 1990. A gente achou que isso daria o tom “quente” da Lidiane. Essa versão é mesmo para a personagem e eu uso o cabelo bem crespo na novela. O figurino é inaceitável, pois ela erra em tudo!

Você mantém a forma por causa da dança?
Esse corpo foi construído ao longo de uma vida inteira. Tenho 52 anos e eu o construo há, pelo menos, 48. Dança, malhação, alimentação: é uma vida inteira, não é da noite pro dia. A gente colhe o fruto da vida que teve. Uma vida sem álcool, sem drogas e sem hormônios…

Como foi a preparação para viver a Lidiane?
A preparação foi mais da minha memória, por ter vivido os anos 1990 intensamente, época onde eu já tinha uma carreira consolidada. Isso é muito bacana. Toda essa liberdade que hoje a gente não tem mais. A musicalidade, a alegria, o encontro na praia nos fins de tarde, no Baixo Leblon, onde você via todo mundo, onde a cultura e a música eram efervescentes e, principalmente, a alegria habitava o coração de todas as pessoas. Isso, infelizmente, a gente perdeu nos tempos atuais.

Você acha que a novela vai conseguir resgatar sentimentos da época?
Eu acho que a novela pode fazer um resgate dessa alegria, trazer a lembrança feliz de qualquer um de nós, mesmo de quem é muito jovem. Quem não pensa na infância de uma maneira afetuosa? Então, toca o coração de todo mundo de uma maneira diferente. É uma novela extremamente feliz e alegre. Claro que tem seus desalinhos, suas separações, todas as coisas que uma novela precisa ter, mas, essencialmente, é uma comédia.

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Lidiane (Claudia Raia) e Patrick (Klebber Toledo) em Verão 90

A novela vai ter muita dança?
A novela tem muito disso. Fala bastante sobre lambada, jazz, todas as coisas que eram dos anos 1990. Eu faço uma professora de jazz. Na verdade, ela não é professora, dá aulas de jazz porque vive numa “pindaíba” horrorosa.

Nos anos 90, qual novela você mais gostou de fazer?
Acho que Rainha da Sucata.

Quais as diferenças entre aquele tempo e o atual?
Muitas. Hoje o público é bem mais polarizado e as coisas se dividem muito mais. Mas a teledramaturgia é uma invenção nossa, brasileira. A gente sabe fazer muito bem isso. Então, não podemos ter vergonha das telenovelas. A gente tem que ter orgulho, porque a TV Globo faz isso melhor do que qualquer televisão no mundo. E nós vamos a 197 países. É um grande produto. Não sejamos ingênuos de achar que a TV fechada roubou esse público de novela. Mentira. Isso é cultural.

Qual é a sua lembrança mais feliz dos anos 1990?
Eu só sinto felicidade quando penso nos anos 1990. Encontrar as pessoas na praia, marcar um encontro no Leblon num fim de tarde, depois do teatro. As pessoas se viam, se amavam e eram muito alegres, faziam coisas juntas. É muito bacana isso porque é o resgate das relações humanas. Eu acho isso.

Houve algum desafio para fazer essa personagem?
Para começar, tenho 38 anos de televisão. Então, preciso não me repetir. Fazer personagem de comédia, já fiz algumas com essa temperatura, mas que não seja igual às outras. A Lidiane é uma personagem extremamente rica, que tem muitas coesões ao mesmo tempo. Então, é difícil vivê-la. Fazer comédia é uma tarefa árdua, mas nas mãos do Jorge Fernando (diretor) a gente se entrega e tudo dá certo.

Quem você prefere: a Claudia dos anos 1990 ou a atual?
Acho que sou melhor hoje. Havia muito exagero. Nos anos 1980, a gente veio de ombreiras, brincos e cabelões. Aí, nos 1990, tentamos atenuar, mas ainda havia os cabelos crespos e as cores fortes. O corpo hoje é mais sequinho.

Como é lembrar que você foi a musa dos anos 1990?
Eu fui musa de tudo. Até do verão, mesmo com essa cor que eu tenho. Naquela época, ser musa era uma coisa que “bombava” as capas da Manchete e de todas as outras revistas. Em trinta anos de novela, fiz quatrocentas capas de revistas. Na época em que elas existiam. Hoje acabou.

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