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Crítica: “A Moscou! Um Palimpsesto” moderniza clássico de Tchekhov

A peça propõe recriar o passado com intuito de apagar erros e arrependimentos

atualizado

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Diego Bresani/Divulgação
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1 de 1 A-Moscou-Foto-Diego-Bresani - Foto: Diego Bresani/Divulgação

Imagine que sua vida é o texto original de uma peça de teatro, mas você pode rasurar, mudar o curso dos acontecimentos e, em uma segunda temporada, passar os erros a limpo. Esta é a premissa do espetáculo “A Moscou! Um Palimpsesto”, em cartaz de 7 a 16 de abril, no Teatro Sesc Garagem, na 913 Sul.

Palimpsesto, diz o dicionário, é um tipo de pergaminho medieval que permitia apagar informações, para que pudessem ser reescritas. A obra escolhida para a transformação é “As Três Irmãs”, texto clássico da dramaturgia russa, escrito por Anton Tchekhov. Encenada pela primeira vez em 1901, a obra apresentou ao público três irmãs habitantes de um vilarejo russo que sonham em voltar para Moscou, onde nasceram, mas sempre adiam o projeto, o que causa frustração coletiva e desesperança. A metrópole russa surge como o avesso do presente, uma possibilidade nunca realizada.

Nesse processo de reescritura, as três irmãs russas vivem no nosso tempo, em um trabalho que subverte, de forma respeitosa, a obra de Tchekhov. As premissas e os principais personagens estão presentes, mas o tom dos acontecimentos foi atualizado de forma criativa. Para começar, elas expõem as entranhas da produção, transformam o tablado em sala de ensaio e conduzem o público em uma coleção de hipóteses, que já são, por si só, a versão rascunhada do espetáculo.

Diretora, criadora e atriz, Ada Luana se destaca em cena com atuação precisa, sem exageros, e pela mão delicada com que conduziu todos os elementos em jogo. Um dos pontos altos é a reflexão inicial feita por ela: vale a pena dar um passo em qualquer direção, mesmo que ele nos aproxime da morte?

A trilha sonora, executada ao vivo no piano e no violino, acompanha a ambientação e transporta o espectador para o lugar triste das angústias, do desencantamento e da opressão impostos pela realidade. Apesar de serem ótimos músicos, Filipe Togawa e Kalley Seraine não possuem qualquer desenvoltura cênica, porém, atuam em papéis de destaque. Portanto, quando precisam se expressar como atores, transmitem a impressão de timidez e desconforto.

Como a ação se passa nas celebrações de aniversário da irmã caçula, a família serve bolo e bebidas no palco. Em três ocasiões diferentes, compartilha quitutes da festa com a audiência. Essa é apenas uma das formas usadas pela montagem para quebrar a quarta parede. No teatro, este termo quer dizer que os atores reconhecem a plateia como tal e a incluem, de alguma forma, na encenação.

A cenografia e a iluminação acertam em cheio. A sala da casa, epicentro de toda a trama, passa por diversas transformações, feitas pelo próprio elenco durante as cenas. Os moradores vão deixando suas marcas no espaço, enquanto realizam uma coreografia sutil. Nas pequenezas do cotidiano, no tempo lento da realidade, a peça revela um olhar novo sobre este clássico que, ao contrário dos sonhos das irmãs, resiste ao tempo e instiga criadores a explorarem suas infinitas possibilidades.

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