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Após sofrer grave acidente, ex-ginasta da Seleção Brasileira que mora no DF se reinventa no teatro e revive seu drama em espetáculo

Beatrice Martins estava em ônibus que colidiu com caminhão, deixando seis mortos e dezenas de feridos. Obrigada a abandonar a ginástica, ela hoje compartilha a experiência em “Por um Triz”, que tem sessão neste domingo (21), na Usina

atualizado

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João Saenge/Divulgação
beatrice martins, teatro, por um triz,  joão saenge
1 de 1 beatrice martins, teatro, por um triz, joão saenge - Foto: João Saenge/Divulgação

Superação, paixão e atitude são mais que palavras para Beatrice Martins. A atriz paulista, radicada em Brasília desde criança, hoje em dia leva aos palcos a garra de quem viu a morte por um triz ao sofrer um grave acidente que deixou seis mortos e dezenas de feridos. Na época, ela tinha 15 anos e era ginasta da Seleção Brasileira treinada pela técnica Georgette Vidor — que ficou paraplégica em decorrência do mesmo acidente.

Vinda de uma família de esportistas, Beatrice começou a praticar ginástica olímpica aos 5 anos de idade por influência do pai e do irmão, também ginastas. Em 1997, quando estava a caminho de mais uma competição, o ônibus que transportava a equipe de ginástica artística do Flamengo colidiu com dois caminhões, na Via Dutra, em São Paulo. Cinco pessoas que estavam no ônibus morreram. Beatrice sofreu uma fratura exposta no pé direito.

Acordei dentro de uma ambulância. No início, não acreditava no que estava acontecendo. Via o meu pé exposto e só queria sair do hospital para treinar

Beatrice Martins, atriz
Acervo pessoal
Com a equipe do Flamengo, em 1996. Beatrice é a que está de collant verde

A partir daí, a vida da atleta, obrigada a abandonar os treinos, passou a girar em torno de uma palavra: superação. Atendida no Hospital Sarah Kubitschek, Beatrice conta que teve sorte ao ser acompanhada por grandes profissionais. “Entrei no Sarah com princípio de gangrena, meu pé poderia ter sido amputado, mas me recuperei bem e não preciso de nenhum instrumento para andar”.

Ela afirma que não possui nenhum trauma, apesar das dificuldades físicas e emocionais para lidar com uma situação complexa, numa fase tão delicada da vida como a adolescência. A recuperação durou cerca de um ano até que ela pudesse retomar completamente a independência de locomoção.

A arte como saída
Retornar à ginástica, porém  estava fora de cogitação. Foi então que Beatrice acabou encontrando na arte uma alternativa para continuar encantando o público. Três anos depois da recuperação, começou os treinos de circo na escola Setor Leste, na L2 Sul, onde também iniciou a ginástica. A maior motivação era estar em contato com o esporte, que praticava desde a infância. Imaginar uma vida longe dos movimentos era quase impossível. “Comecei e nunca mais parei”, comenta.

Junto com a arte circense veio a aproximação com o teatro. Em 2001, Beatrice iniciou nos palcos uma carreira que inclui trabalhos com a companhia americana UniverSoul Circus, com a Cia. Nós no Bambu e com a Instrumento de Ver, da qual faz parte até hoje. Com a companhia, fez espetáculos como “Parabolé”, “Noite de Giz” e “Meu Chapéu É o Céu”.

Desde dezembro do ano passado, ela circula com o espetáculo “Por um Triz”, em que retoma sua história, por meio de uma combinação de dança, música e circo. Dirigida por Raquel Karro, Beatrice relembra sua história em uma mistura de ficção e autobiografia.

Eu nunca tinha pensado em dar muita ênfase ao acidente no espetáculo, já tinha superado, já fazem 18 anos, mas minha diretora me incentivou

Beatrice Martins

“Por Um Triz” é um espetáculo carregado de emoção, que traz à tona os riscos que o artista circense passa no seu cotidiano. Utilizando um trapézio considerado o menor do mundo, com cerca de 1m de altura, a artista não fala em primeira pessoa, mas deixa aflorar a consciência de que a todo momento se vive na iminência de um risco. A intenção é despertar para a consciência de que viver intensamente cada momento é fundamental.

Na última quinta (18/2), Beatrice Martins apresentou o espetáculo no Teatro Plínio Marcos, da Funarte, para uma plateia muito especial, formada por pacientes da Rede Sarah. Neste domingo (21/2), ela volta a apresentar “Por um Triz”.

Desta vez a sessão será no Teatro Multiuso Yara de Cunto, da Usina — Centro de Arte e Entretenimento (Setor de Oficinas Norte, Quadra 1, Conjunto B, Lote 12 — entre a Leroy Merlin e a Água Mineral), numa versão adaptada para o espaço reduzido. A apresentação integra a programação do 18º Festival Internacional da Novadança (que restringe a classificação indicativa de todos os espetáculos para maiores de 18 anos).

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