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Obra com referência a Bolsonaro é vetada pela Caixa Cultural

Trabalho de Diego Bresani estaria na mostra Transborda Brasília, mas foi excluído pela instituição. Caixa justifica o veto pela legislação

atualizado

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Diego Bresani/Divulgação
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1 de 1 jair-bolsonaro - Foto: Diego Bresani/Divulgação

O fotógrafo brasiliense Diego Bresani foi surpreendido enquanto montava a obra My Sweet President (“meu doce presidente”, em tradução livre) durante os preparativos da mostra Transborda Brasília 2018, prevista para abrir ao público nesta terça-feira (7/8), na Caixa Cultural. Por conta de referências ao pré-candidato do PSL à presidência, Jair Bolsonaro, a instituição vetou a obra e alegou que a legislação eleitoral não permite qualquer menção aos candidatos durante o período que antecede as eleições.

A exposição Transborda Brasília visa mapear a produção de arte contemporânea do Distrito Federal a cada edição, por meio de 12 artistas selecionados por uma curadoria especializada. Escolhida entre 1 mil trabalhos inscritos, a referida obra propõe uma reação artística às ameaças, aos xingamentos e aos insultos direcionados a Diego Bresani no ano passado, por conta do retrato de Bolsonaro que abre esta matéria, clicado pelo fotógrafo do DF, cujos trabalhos já estamparam publicações como a revista Rolling Stones ou o jornal The New York Times.

O retrato em questão foi feito originalmente para a revista GQ em 2014 e, posteriormente, republicada pela IstoÉ. Foi quando o filho de Bolsonaro, o deputado Eduardo Bolsonaro, publicou uma foto de Diego Bresani no Instagram, vinculando-o à publicação. Eduardo revelou ainda informações pessoais de Bresani, como a cidade onde ele morava e a universidade onde tinha estudado, e o marcou no post. A imagem clicada por Bresani foi amplamente rejeitada pelos seguidores de Bolsonaro por conta do caráter “diabólico” atribuído.

A partir daí, Bresani passou a ser perseguido virtualmente por eleitores do presidenciável, que destilaram palavras de baixo calão, ameaças e ofensas ao fotógrafo. Ao longo dos três primeiros dias, de maior intensidade, Bresani foi aconselhado a permanecer em casa. Ao todo, ele registrou mais de 2 mil comentários e mensagens de conteúdo agressivo. O impacto emocional do episódio o conduziu a propor a obra My Sweet President, vetada pela Caixa.

Achei importante tirar isso tudo da mídia digital e colocar na mídia impressa. Quis ver o tamanho, a  proporção de um ataque virtual, o que resultou em um trabalho de 3m x 1,40m de mensagens agressivas. Saiu da vontade de tirar da internet e tornar isso material. Ver o tamanho que isso ocupa no espaço

Diego Bresani

As tantas mensagens que integram a obram acabaram categorizadas por temas, que perpassam o medo, a homofobia, as agressões e a “esquerdopatia”. Há desde gratuidades, como “lixo humano”, a reais ameaças, a exemplo de “vc é ridículo idiota merece tomar porrada na cara” (reproduzido aqui exatamente como publicado), ou ainda “tem que dar uma surra nesse merda pra ver se ele vira homem”.

Curiosamente, a maior parte dos internautas tomou partido sem compreender o real papel de Diego Bresani no material veiculado pela IstoÉ. Isso porque Eduardo Bolsonaro, no mencionado post, publicou a capa da revista, ilustrada pelo pai por meio de uma imagem que não era de Bresani. O retrato feito pelo brasiliense estava no interior da revista e sequer foi republicado pelo deputado. Assim, muitos criticaram o fotógrafo pela foto errada ou ainda pela autoria da matéria, como se fosse o jornalista responsável. Profissão essa que nunca exerceu.

 

Mesmo diante do veto ao trabalho de Diego Bresani, a mostra Transborda Brasília está confirmada na Caixa Cultural, onde deve permanecer até outubro, permeada pelos trabalhos dos 12 artistas. No local da obra excluída, o espaço permanecerá em branco, apenas com a legenda do trabalho. A produção da mostra busca um novo local que possa hospedar o trabalho My Sweet President.

O veto da Caixa 

Por meio de nota oficial enviada ao Metrópoles, a Caixa confirmou que a obra não será exposta “por cumprimento da Lei 9.504/97”, que rege o processo eleitoral. A nota afirma ainda que “os agentes públicos, são proibidos de veicular qualquer conteúdo relativo a candidatos durante os três meses que antecedem o primeiro turno das eleições”.

O posicionamento foi ratificado pelo advogado e professor universitário Frederico Teixeira Barbosa, que endossou o posicionamento da Caixa. Consultado pela reportagem, Barbosa confirmou que “não cabe a qualquer empresa pública ou de economia mista fazer menção ou alusão a qualquer candidato ou partido, seja positiva ou negativamente, durante o período eleitoral”.

Opinião compartilhada pelo colega Bruno Martins, advogado e especialista em direito eleitoral, também procurado pelo Metrópoles. De acordo com Martins, a legislação assim estabelece a partir de um “tratamento isonômico” perante os candidatos, de forma mantê-los todos “em pé de igualdade”. O advogado alerta, por exemplo, que o público visitante da exposição poderia ser influenciado pela obra, favorecendo ou desfavorecendo opiniões em virtude de um único candidato. “Uma possível forma de evitar esse conflito seria se todos os candidatos fossem abordados, o que não foi o caso”.

Por enquanto, portanto, a obra permanece inédita ao público.

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