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Instituto Volpi denuncia descaso do Itamaraty com afresco do pintor

O mural conta com respingos de tinta branca e rachaduras. Iphan vai vistoriar a obra de arte

atualizado

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Daniel Ferreira/Metrópoles
Palácio do Itamaraty, afresco “O Sonho de Dom Bosco”
1 de 1 Palácio do Itamaraty, afresco “O Sonho de Dom Bosco” - Foto: Daniel Ferreira/Metrópoles

O presidente do Instituto Volpi, Pedro Mastrobuono, tenta, sem sucesso, que o Itamaraty restaure o afresco “O Sonho de Dom Bosco”, de Alfredo Volpi. Vista da fachada do prédio, a obra de arte, que retrata o mito da criação de Brasília, está suja de tinta, com rachaduras e buracos. A negligência revolta o especialista, responsável por administrar o acervo do pintor brasileiro.

“É muito preocupante. A obra faz parte da identidade artística nacional”, analisa Mastrobuono. Ele enfatiza que, desde 2013, alerta o Itamaraty e o Iphan sobre os problemas do mural e que tem sido sistematicamente ignorado pelos órgãos. “A tinta degrada o material e as rachaduras mostram que a pintura está frágil”, explicou.

O Metrópoles entrou no Itamaraty para conferir o estado da peça. Há, em todo o mural, respingos de tinta branca que foram derramados após uma restauração mal-sucedida do ambiente em 2013 – destruído após as violentas manifestações que ocorreram em julho do mesmo ano. Além disso, é possível ver rachaduras. A falta de proteção também preocupa: apenas um rodapé de vidro separa o afresco dos visitantes.

Instituto Volpi/Divulgação
Afresco do pintor está com rachaduras, buracos e tinta

 

“O Sonho de Dom Bosco” possui grande valor artístico. Além de contar o mito da fundação de Brasília, em que o sacerdote teria sonhado com o lugar da nova capital brasileira, o afresco é o único trabalho de Volpi tombado pelo Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

O Ministério das Relações Exteriores (MRE) diz ter pedido ao Instituto Volpi uma indicação de um restaurador e que a contratação do especialista será feita por “processo de inexigibilidade”, em que dispensa licitação. No entanto, a instituição alega que o “processo deverá levar algum tempo”.

O presidente do Instituto Volpi revela que o MRE pediu uma indicação de restaurador em 2013. Ao receber o nome, o órgão federal não teria mais entrado em contato, nem se posicionado sobre a reforma do afresco histórico. Mastrobuono publicou a troca de e-mails entre as instituições em seu site.

Demora e abandono
O Iphan informou que o Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural aprovou o tombamento individual de “O Sonho de Dom Bosco” em setembro de 2016.  O órgão anuncia uma uma vistoria nos próximos dias. O laudo, feito por um restaurador, será enviado ao Itamaraty junto a um pedido de solução dos problemas.

Instituto Volpi/Divulgação
Alfredo Volpi durante a pintura do afresco, em 1966

 

O MRE, por sua vez, empurra a responsabilidade para os responsáveis pela manutenção do edifício. Segundo a instituição, foram cometidos erros durante a pintura do ambiente em que se encontra o afresco e “medidas de punição da empresa e de ressarcimento dos danos estão sendo solicitadas”. Em relação às rachaduras, o órgão culpou a passagem do tempo e o clima de Brasília.

O Itamaraty não concorda com a acusação de que a obra estaria desprotegida. Para o órgão, a visita controlada, “coordenada por profissionais treinados”, e o rodapé de vidro trazem uma segurança superior àquela ofertada na “imensa maioria das obras expostas em museus”, nos quais “há somente uma faixa amarela no chão”.

 

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