metropoles.com

Descaso compromete tradicional réveillon da Prainha em Brasília

As esculturas da Praça dos Orixás foram depredadas, há buracos nas calçadas e o estacionamento é pequeno. O local só será restaurado em 2018

atualizado

Compartilhar notícia

Rafaela Felicciano/Metrópoles
praça dos orixás
1 de 1 praça dos orixás - Foto: Rafaela Felicciano/Metrópoles

Primeiro levaram partes dos adereços. Um cetro foi arrancado. Depois retiraram membros. Braços, pernas e outras partes do corpo. Por fim, atearam fogo numa estátua inteira. A imagem de Oxalá da Praça dos Orixás só não foi reduzida a cinzas graças ao aviso de um morador de rua que presenciou o atentado e chamou os bombeiros.  

Depredações a símbolos religiosos na Prainha do Lago Paranoá são casos de intolerância contra as religiões de matriz africana no Brasil. É nesse terreno à beira lago, perto da Ponte Honestino Guimarães, que os praticantes de Umbanda e Candomblé do Distrito Federal realizam parte de seus rituais.

“A Prainha é considerada o grande terreiro aberto das religiões de matriz afro-ameríndia no Distrito Federal. A nossa luta não é apenas para revitalizar. Queremos garantir sua manutenção”, defende Virgínia Rosa, representante do coletivo Mulheres de Axé do Distrito Federal e Entorno.

A imagem de Oxalá queimada em abril de 2016 até hoje não foi restaurada. Outras estátuas de orixás seguem sem reparo e com partes da estrutura faltando. “Não houve nenhum interesse do poder público em reconstruir as esculturas da Prainha. Nós sabemos que a reforma não vai sair neste ano”, constata Rafael Moreira, presidente da Federação de Umbanda e Candomblé do Distrito Federal e Entorno.

Com a proximidade das celebrações de final de ano, a questão volta a ser debatida já que o local abriga uma das festas mais tradicionais da cidade. “O sentimento de impunidade encoraja ataques às religiões de matriz africana. Esses infratores passaram a não respeitar a fé dos outros”, constata Moreira.

Em 2006, imagens inteiras chegaram a ser arrancadas dos pedestais. Quatro anos depois, foram recuperadas e o GDF prometeu reforçar a segurança e manutenção do local. Em 2017, além da piora na conservação das estátuas, a Praça dos Orixás encontra-se em péssima condições.

0

Há buracos nas calçadas, falta lixeiras e a área de estacionamento é insuficiente para a quantidade de pessoas que visitam o local na virada do ano. Mesmo apresentando uma estrutura precária, o réveillon da Praça dos Orixás (ou Prainha) atrai milhares de pessoas às margens do Lago Paroná todos os anos.

A falta de conservação e segurança é quase sempre um fator que dificulta a realização de eventos culturais no local. Stefanie Oliveira, uma das curadoras do festival musical São Batuque, conhece bem essa realidade. O projeto existe há 10 anos e ocupou o lugar em duas ocasiões.

É sempre uma dor de cabeça conseguir viabilizar eventos na Prainha. As medidas de conservação que normalmente são tomadas em espaços públicos simplesmente não existem por lá

lamenta a produtora

Por meio de sua assessoria, a Secretaria de Estado de Gestão do Território e Habitação (Segeth) do Governo do Distrito Federal (GDF) respondeu que o projeto de revitalização da área está em fase de planejamento e deve ser concluído até dezembro deste ano. Não há previsão para o início das obras de recuperação. Portanto, o réveillon deve ser realizado em meio à estátuas depredadas, tirando um pouco do brilho da festa.

Segundo o subsecretário de Igualdade Racial do Distrito Federal, Victor Nunes Gonçalves, o processo de restauração das figuras é muito delicado. “Por se tratar de obras de um artista plástico, as estátuas só podem ser reconstituídas pelo próprio autor. É uma logística complicada, as peças têm de ser enviadas de caminhão até Salvador, onde ocorre o procedimento de restauro. Depois, devem ser devolvidas para o seu lugar de origem”, explica.

Rafaela Felicciano/Metrópoles

O custo da operação, segundo Gonçalves, deve girar entre R$ 350 e R$ 450 mil. O subsecretário acredita que a recuperação estrutural da Prainha será realizada em 2018. “Estamos tentando articulação intersetorial para concretizar a revitalização do local como um todo. O projeto vem sendo discutido com o poder público e movimentos sociais”, afirmou.

O presidente da Federação de Umbanda e Candomblé do Distrito Federal e Entorno, Rafael Moreira, garante que não haverá mudanças no réveillon da Prainha: “Por enquanto, a festa continua no mesmo lugar. Estamos fechando parcerias e acordos”.

Segundo Moreira, haverá programação diurna e noturna no dia 31 de dezembro, e a segurança da festa será intensificada. “Nós gostaríamos de contar com o reforço da Polícia Militar e redobrar a segurança particular contratada para o evento. É preciso articular com a Secretaria de Segurança Pública e Secretaria de Cultura para que isso seja efetivado”, acredita.

Compartilhar notícia

Quais assuntos você deseja receber?

sino

Parece que seu browser não está permitindo notificações. Siga os passos a baixo para habilitá-las:

1.

sino

Mais opções no Google Chrome

2.

sino

Configurações

3.

Configurações do site

4.

sino

Notificações

5.

sino

Os sites podem pedir para enviar notificações

metropoles.comEntretenimento

Você quer ficar por dentro das notícias de entretenimento mais importantes e receber notificações em tempo real?