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“Brasília é uma utopia que caducou”, diz o filósofo Eduardo Gianetti

Em bate-papo exclusivo com Metrópoles, o autor de Trópicos Utópicos falou sobre a cidade e a política nacional

atualizado

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Bruno Spada/Divulgação
Eduardo Gianetti
1 de 1 Eduardo Gianetti - Foto: Bruno Spada/Divulgação

Respeitado pensador do Brasil contemporâneo, o economista e filósofo Eduardo Gianetti é conhecido por trazer à tona o aspecto social da economia. Além de ter assessorado Marina Silva (Rede) durante a campanha eleitoral de 2014, fez doutorado em economia na Universidade de Cambridge, na Inglaterra, e trabalha como professor no Ibmec, em São Paulo.

De passagem pela capital, onde proferiu o workshop “Sustentabilidade – Exigência para o Crescimento das Empresas, o economista deu uma entrevista exclusiva ao Metrópoles. No bate-papo, ele fala sobre Brasília, argumenta alguns tópicos apresentados em seu último livro, “Trópicos Utópicos” (2016), faz projeções sobre a política nacional e dá impressões sobre a nova geração.

Metrópoles: Em “Trópicos Utópicos”, o senhor fala que o Brasil deve se equilibrar entre a “civilização” e o “selvagem, o índio”. Poderia nos explicar melhor essa equação?

Eduardo Gianetti: Quando estive na Inglaterra, tive a oportunidade de ver meu país com um olhar de fora. Nisso percebi que o Brasil é marcado por uma fusão de culturas pré-modernas, africanas e europeias que não encontramos em outro lugar. Essa convivência comum é notoriamente marcada pelo lado emotivo dos brasileiros, o que foge à lógica imposta por outras culturas do ocidente. Assim, se faz necessário que haja um equilíbrio entre o que vem de fora e o que é natural da nossa terra.

Sabe-se que o encontro entre culturas no Brasil foi notoriamente marcado pela violência, que culminou no massacre de povos indígenas e em um longo período de escravidão de negros. Seria possível então chegarmos a um equilíbrio?

Os brasileiros são pacíficos e violentos ao mesmo tempo. Por exemplo: embora o racismo ainda esteja presente na sociedade, costumes e tradições de povos negros e africanos foram assimilados pela população geral, certo? Nos aproximarmos de um equilíbrio de culturas é o nosso objetivo enquanto brasileiros. Porém, alcançar isso é o que chamo de “utopia brasileira”.

Falando em utopias e sonhos, gostaria de saber o que o senhor pensa de Brasília enquanto uma cidade desenhada e planejada de modo a representar o futuro do país. Esse futuro chegou?

Brasília é uma utopia que caducou. Um sonho de modernidade que não funciona. Já vim à cidade algumas vezes e percebi que ela é segregadora, impede a convivência entre as pessoas e torna os vizinhos estranhos entre si. Essa setorização é monstruosa. A sociedade não é uma colmeia.

Você diz que um sentimento de frustração marca a geração atual de jovens. Por que isso ocorre?

Vivemos um momento de grandes contrastes. Quem hoje está na casa dos 20 anos cresceu durante os florescimentos econômico, social e cultural no país. Hoje, o cenário é completamente oposto. Esse desânimo provoca sérios sentimentos de frustração nos jovens, que acabam perdendo a visão de projetos a longo prazo.

Em 2015, o senhor afirmou que não acreditava na possibilidade de um colapso econômico brasileiro. Você mantém esse posicionamento?

Sim. Estamos vivendo uma das piores recessões da história moderna do país, mas não acredito que iremos entrar em colapso. Estamos, agora, enfrentando a pior parte dessa crise e a ressaca deve demorar a passar, mas em 2017 o cenário não será tão ruim quanto o que vivemos neste ano.

O impeachment da presidente Dilma Rousseff veio para melhorar a situação ou é um golpe, como dizem os oposicionistas ao governo de Michel Temer?

Olha, se a Dilma ficasse doente e fosse afastada do poder, Temer não subiria e faria as mesmas coisas? Seria tratado como golpe também? Para mim, é um processo com validade institucional. Ela não caiu por causa de “pedaladas fiscais”, mas porque perdeu o controle da política e da economia nacional. Já o Temer, acho que está indo pelo caminho certo. A PEC do Teto é um bom começo.

De acordo com o Datafolha, Marina Silva venceria em 2º turno contra o ex-presidente Lula. Você acha que ela seria capaz de governar o Brasil?

Acredito que seria uma grande honra para qualquer país ter Marina como governante. Porém, entendo que falta a ela ter um posicionamento sobre sua liderança. Ela precisa deixar claro se quer ser líder de um movimento ou de um Estado.

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