Crítica: Pixies tenta retomar a boa forma em “Head Carrier”
Novo disco da atual formação, com a argentina Paz Lenchantin definitivamente integrada, ambiciona retomar a brilhante época da banda entre os anos 80 e 90
atualizado
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Certas bandas pertencem ao seu tempo. Para ir longe na comparação, os Pixies são para o período entre o fim dos anos 80 e o início dos 90 o que os Beatles representaram para a década de 60. Um catálogo de revoluções líricas, sonoras e melódicas quase que disco a disco, ano a ano, de 1986 a 1993. E o que acontece quando uma banda dessas retorna com material novo? É o dilema que se impõe frente ao novo álbum da banda, “Head Carrier”.
Em termos conceituais, trata-se do primeiro CD de fato desta nova formação, com a argentina Paz Lenchantin no lugar da (insubstituível) baixista Kim Deal, egressa em 2013. “Indie Cindy” (2014) é descrito como o disco de retorno após “Trompe le Monde” (1991), mas basicamente reúne os EPs que a banda lançou entre 2013 e 2014 após a saída de Kim – e ainda sem Paz na formação. Um rascunho do que teríamos nos 33 minutos de “Carrier”.
As exigências são rígidas para a banda liderada por Black Francis e completada desde sempre por David Lovering (bateria) e Joey Santiago (guitarra). Paz, agora considerada integrante do grupo, parece relativamente à vontade. Ela arrisca interpretar uns versos em “Bel Esprit” e até divide a composição e assume o vocal em “All I Think About Now”, curiosamente uma música de despedida sobre Kim: “Lembra quando éramos felizes? Se eu estiver atrasado, posso te agradecer agora?”.
Os Pixies, o passado e a saudade de si
Uma constante na carreira de Francis desde a retomada dos Pixies, em 2003, é um certo saudosismo em torno da própria mítica da banda. Num espaço de nove anos, o grupo lançou um single para o iTunes (“Bam Thwok”) e provou que tinha material logo após o adeus a Kim, com “Bagboy”. De lá para cá, tudo que o quarteto (ou trio, antes de Paz) soltou parece um decalque de músicas do passado – claro, sem as poderosas linhas de baixo de Kim. Não é diferente em “Head Carrier”.
“Um Chagga Lagga” não chega a ofender, mas parece uma revisão preguiçosa de alguns dos vários registros garageiros frenéticos do Pixies original, como “I’m Amazed” ou “Debaser”. “Classic Masher” tenta reler o pop inesperado de “Monkey Gone to Heaven” e “Gigantic” e também não vai longe. “Baal’s Back” é o flerte punk com “Rock Music”: fica no quase. Dá para chamar de simpático, e só.
A melhor coisa do Pixies fase 2010 é a nova leva de clipes, como os divertidos vídeos de “Tenement Song” (acima) e “Bagboy”. No mais, Black Francis e companhia tentam reviver a banda a força. Passados dois discos e mais de duas dezenas de canções, nada feito.
Avaliação: Regular
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“Head Carrier” ainda não está disponível em versão física no Brasil
O disco pode ser ouvido online: Deezer, Google Play, iTunes, Spotify, Tidal