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Crítica: fragmentado, “4:44” renova Jay-Z com desabafos e confissões

Novo disco do rapper comenta traição conjugal, lembra origem humilde e alfineta indústria musical

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Theo Wargo/Getty Images for TIDAL
jay z TIDAL X: 1020 Amplified by HTC – Show
1 de 1 jay z TIDAL X: 1020 Amplified by HTC – Show - Foto: Theo Wargo/Getty Images for TIDAL

“4:44”, novo disco de Jay-Z, “4:44”, é a carta de arrependimentos, confissões e desabafos escrita por uma das pessoas mais ricas da indústria musical. Sem lançar álbum desde o morno “Magna Carta Holy Grail” (2013), o rapper nova-iorquino embala uma crônica absolutamente pessoal nos ágeis 36 minutos do CD.

Ao longo de mais de 20 anos de carreira, Shawn Carter nunca pareceu tão sóbrio e objetivo. Jay-Z jamais gravou um disco tão enxuto quanto “4:44” – todos os 12 álbuns anteriores tinham no mínimo 50 e poucos minutos de duração.

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O tom confessional também ganha todo um novo sentido. Saem as crônicas de violência urbana e autoafirmação na música, entram letras desarmadas sobre um homem estilhaçado, mas disposto a se reerguer (e renovar sua arte) com outros sentimentos: humildade, respeito às mulheres e abertura à diversidade.

 


Um traidor arrependido
Impressiona como Jay-Z compacta tantos estratos pessoais em apenas 36 minutos. Ele confessa sua traição a Beyoncé e pede perdão (“Kill Jay-Z”), arrepende-se da briga com a cunhada Solange e celebra a mãe, Gloria, revelando que ela é lésbica em “Smile” (leia detalhes sobre as letras).

Se “Reasonable Doubt” (1996) reinventou o imaginário gangsta e “The Blueprint” (2011) mudou o hip-hop ao revolucionar o uso de samples de soul e R&B, “4:44” desbrava uma leveza lírica por meio de outras paisagens sonoras.

Apesar de talvez ser fragmentado demais, o disco espertamente escolhe o reggae e a soul music como refúgios para formatar o catálogo de confissões composto por Carter.

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Infância, família e legado
“Caught Their Eyes” mostra um narrador preocupado com quem o cerca, mas a colaboração de Frank Ocean está lá justamente para acalmar a tempestade. O reggae retorna como reinvenção da persona gângster do rapper em “Bam”, parceria com Damian Marley, caçula de Bob.

Em “Marcy Me”, Jay-Z lembra os sonhos de infância nutridos no Marcy Houses, projeto habitacional situado no Brooklyn e voltado a populações humildes. “As ruas são minhas artérias, as veias da minha existência”, descreve.

E, assim, a cada faixa, Jay-Z segue virando outras páginas em sua biografia agora reescrita. Beyoncé colabora com letra e voz em “Family Feud”, em que o rapper cita o filme “O Poderoso Chefão” para ensinar uma lição a si mesmo (“um homem que não cuida da sua família não pode ser rico”).

Nesta miscelânea de fragilidades e pequenas redenções, Carter deixa para a despedida, “Legacy”, algo para o futuro. Jay-Z abre a canção com a voz de Blue Ivy. “Papai, o que é um testamento?”. Porque ele sabe bem que qualquer conversa com quem ama vale mais que o melhor dos seus versos.

Avaliação: Bom

“4:44” está disponível em streaming pelo Tidal

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