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Mercado Sul, em Taguatinga, se torna exemplo de resistência cultural

Na QSB 12/13, tem ateliê de costura, oficina de construção de instrumentos e móveis, teatro, eventos e área é modelo de uso da arte como forma de subsistência

atualizado

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Beco/Síndrome Criativa
1 de 1 Beco/Síndrome Criativa - Foto: null

O ambiente conturbado da Avenida Samdu Sul e adjacências, em Taguatinga, saturado por comércios e poluição visual, ganha tons diferentes na altura da QSB 12/13. Naquela área, duas vielas chamam a atenção pelo colorido das fachadas dos prédios e das casas. Conhecido como Espaço Cultural Mercado Sul ou Beco da Cultura, o trecho urbano é hoje um ponto de convergência de artistas que ali fixaram residência e trabalham. Uma espécie de comunidade onde o cotidiano é regido pela criatividade.

Por trás das fachadas grafitadas, encontram-se ateliê de costura, oficina de construção de instrumentos musicais e móveis e teatro. Há também abrigo para talentos vindos de vários cantos do Brasil. A economia solidária prevalece nesses dois becos de cultura. Os artistas que ali vivem oferecem à comunidade uma gama de atividades, entre cursos, oficinas, mostras de artes, feiras e exposições.

Costumo dizer que aqui é uma universidade, apesar de eu ser avesso à escola. Mas aqui é uma escola de primeira instância. Eu não trocaria uma mansão no Lago Sul pela minha loja aqui no Beco

Virgílio Mota, mestre artesão
Reprodução/Facebook
Apresentação de dança no Beco da Cultura

 

O Mercado Sul de Taguatinga foi construído na década de 1950. Na época, a área era ocupada por armarinhos, açougues, mercadinhos e feirantes. Com o tempo e a modernização da cidade, o lugar perdeu força e muitos lojistas fecharam as portas, deixando a paisagem marcada pelo abandono.

Conheci aqui quando era realmente uma feira, tipo uma feira livre, gente tropeçando em gente, entre os anos 1965 e 1968

Seu Heleno, tapeceiro

Na década de 1990, o espaço começou a passar por um processo de revitalização. Foi quando chegaram o luthier Seu Dico, fabricante de violas artesanais, e o bonequeiro Chico Simões, que montou ali o seu Teatro de Mamulengo Invenção Brasileira. Simões ganharia fama por influenciar muitos artistas do Distrito Federal, principalmente em relação ao teatro de bonecos. Logo, outros produtores de arte começaram a chegar e a fixar ali suas bases.

Reprodução/Facebook
A EcoFeira ocorre mensalmente, nas tardes de sábado de lua cheia

 

Economia solidária
Hoje, os blocos de prédios de dois andares enfileirados abrigam dezenas de pessoas e famílias inteiras, que sobrevivem por meio da economia solidária. Cada um ajuda o outro no seu fazer artístico e no sustento da casa. Preocupados com a cultura tradicional brasileira, com o bem-estar social e com o meio-ambiente, as atividades são autossustentáveis e visam melhorar um pouco o mundo onde eles vivem.

Um bom exemplo é a oficina Tempo Ecoarte, que utiliza papelão, utensílios reciclados e água reaproveitada das máquinas de lavar para fabricar móveis e instrumentos musicais. O ateliê pode ser frequentado por qualquer pessoa interessada e o conhecimento é compartilhado. A mesma lógica é observada no ateliê de costura e no Bicicentro, um local de empréstimo de bicicletas.

Reprodução/Facebook
Evento noturno: arte, diversão e debate político-social

 

Vasta programação cultural
A programação cultural do Beco da Cultura é vasta. Vai de oficinas para fabricação de pães artesanais, passa por shows de danças e músicas da cultura tradicional — como reizado, bumba-meu-boi e maracatu — e cursos de comunicação comunitária. O moradores da área também promovem debates sobre questões políticas, sociais ou relacionadas ao patrimônio histórico e cultural do Brasil.

Mensalmente, nos sábados de lua cheia, acontece a EcoFeira, um espaço de exposição, troca e venda de produtos e serviços que seguem princípios ecológicos. Mais do que um mero evento mercadológico, a feira visa debater os princípios de sustentabilidade e reutilização de resíduos sólidos ou materiais orgânicos. Começa sempre às 14h, e além de banquinhas, conta com programação que inclui lançamentos de livros e apresentações de teatro e música. Todos os eventos são postados na página do movimento no Facebook.

No site do projeto, um parágrafo resume o que é o Espaço Cultural Mercado Sul: “No Beco tem costureira, borracharia, oficina, prato-feito, café-bar, ateliê, luthieria, espaço cultural, produtora, estúdio de comunicação, rádio, manicure, cabeleireiro, alfaiate, igreja, brechó… Tudo junto, misturado, interagindo com respeito às diferenças. No Beco, as crianças brincam na rua, constroem seus brinquedos. Conversamos nas calçadas, plantamos no pneu, criamos e fazemos projetos. Vivemos!”

Ocupação Cultural Mercado Sul Vive.
Espaço Cultural Mercado Sul (QSB 12/13, Bloco A, Taguatinga). www.mercadosul.org

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