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Milton Hatoum, autor de “Dois Irmãos”, lançará livro ambientado no DF

O escritor viveu em Brasília entre 1967 e 1969 e só voltou após 30 anos. Aqui, constatou que a capital é o “Brasil que teima em fracassar”

atualizado

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EDUARDO NICOLAU/ESTADÃO CONTEÚDO
O escritor Milton Hatoum
1 de 1 O escritor Milton Hatoum - Foto: EDUARDO NICOLAU/ESTADÃO CONTEÚDO

Milton Hatoum se tornou um dos principais escritores brasileiros ao incluir, no imaginário da literatura nacional, o cotidiano de Manaus (AM) e os costumes do Norte. Autor de obras como “Dois Irmãos”, que foi transformada em minissérie pela Rede Globo neste mês, ele anunciou que Brasília será tema central em seu próximo livro.

Em entrevista exclusiva ao Metrópoles, o escritor afirmou que sua próxima obra, ainda sem título nem data para o lançamento, tem dois volumes e já está em fase de conclusão. “A capital é muito importância nesta obra. O narrador não só caminha pelas ruas da Asa Norte, como passeia com seus amigos em Taguatinga”, antecipou.

Hatoum explicou que pela primeira vez a natureza exuberante da Floresta Amazônica e os costumes de culturas tradicionais vão ceder o espaço à paisagem árida, à “falta de memória” e à proximidade com as questões políticas – temas acentuados por sua vivência na capital.

Não tem como eu negar. Brasília faz parte da minha história.

Milton Hatoum

Passado

Poucos sabem, mas o autor manauara viveu em Brasília entre 1967 e 1969. “Foi a primeira vez que eu saí de Manaus para um local que era considerada uma metrópole”, disse. À época, com apenas 15 anos, Hatoum se viu no olho do furacão da política nacional. Ele estudava no Centro Integrado de Ensino Médio da Universidade de Brasília (extinto na década de 1970).

A instituição de ensino era conhecida por alunos irreverentes, que batiam de frente com as decisões políticas adotadas pelos militares – principalmente após o AI-5 ser decretado. As amizades daquele período e as situações vivenciadas marcaram o autor de tal forma que ele passou a militar contra o governo durante a década de 1970, quando estudava arquitetura na Universidade de São Paulo e vivia na capital paulista.

Hatoum chegou a ser perseguido pelo DOPS (departamento policial conhecido por torturar e matar presos políticos). “O que eu vivi e senti essa época funciona como motor para o livro”, revelou.

CEDOC/UnB
Hatoum estudou o Centro Integrado de Ensino Médio, que funcionou no campus Darcy Ribeiro da UnB até a década de 1970.

 

Mudança
Hatoum passou mais de 30 anos sem voltar em Brasília. Nesse período, ele viveu em São Paulo, em Paris (França), onde fez literatura comparada na prestigiosa Sorbonne, em Madrid e em Barcelona, ambas na Espanha. Além disso, foi escritor residente em três universidades dos Estados Unidos: Yale (New Haven), Stanford e California (Berkeley).

Ao pisar novamente na capital brasileira em 2002, durante uma visita a amigos locais, seu sentimento foi de puro horror. “A cidade das minhas lembranças havia sido completamente desfigurada. O desenho do Plano Piloto não era mais respeitado, a arquitetura já não tinha mais valor”. O imenso contraste entre a Brasília do passado e a do presente fez com que o escritor reavaliasse a visão da cidade como a capital do futuro.

À época da visita, Hatoum escreveu a crônica “Águas Encontradas”. No texto, o escritor opina que a capital é a síntese do “Brasil que teima em fracassar” e que o “salto para a modernidade e cidadania, sempre adiado pela desfaçatez de certos poderes e poderosos, ainda se encontra no horizonte da utopia”.

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