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Instapoetas: conheça brasilienses que viralizam com versos nas redes

João Doederlein, o @akapoeta, Julianna Motter e Rafael Daher ressignificam a rede social com obras autorais e de consumo rápido

atualizado

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Vinícius Santa Rosa/Metrópoles
Literatura
1 de 1 Literatura - Foto: Vinícius Santa Rosa/Metrópoles

Quantas curtidas merece um bom poema? Fundamentais para qualquer negócio, as redes sociais também têm ajudado os artistas das letras a divulgarem seus trabalhos na internet. Sobretudo o Instagram, onde a comunicação é movida a imagens e textos curtos. Ideal para os escritores que se dedicam à poesia. São os instapoetas.

A obra desses autores, porém, não se resume às postagens na web – quase todos eles começaram publicando em blogs. A plataforma serve como complemento a uma carreira já em curso, ajuda a gerar contatos, fidelizar seguidores-leitores e a fazer os versos circularem com agilidade. No fim das contas, o objetivo de um escritor é sempre ver seu nome assinando a capa de um livro. O que não exclui a importância da experiência digital para quem lê e produz literatura.

João Doederlein, o @akapoeta
Aos 22 anos, o autor brasiliense tem o privilégio de dizer que já vive de sua escrita. Tudo começou como um mero projeto pessoal. Na primeira entrevista ao Metrópoles, em 2016, os versos de Doederlein atraíam mais de 100 mil seguidores no Instagram. Hoje, são mais de 1 milhão.

“Virou minha profissão de fato”, comemora. A série mais conhecida do @akapoeta na rede, Ressignificados, simula o visual de dicionário para redefinir o conceito de palavras variadas, como pressa, samba, desistência, autoestima. O projeto saiu do ambiente digital e ganhou repercussão de best-seller com O Livro dos Ressignificados.

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“O Instagram tem uma limitação que se transforma em necessidade, com formato de imagem padronizado. A quantidade de postagens é pequena. Existe mais espaço para aparecer às pessoas. Mas você tem que ser criativo no manejo daquilo. Tive que trabalhar com o que tinha e criar o melhor possível”, explica.

Em meados de 2018, o estudante de publicidade na Universidade de Brasília (UnB) lançou seu segundo livro, Coração Granada. Deve se formar no próximo ano. Com o marketing digital como principal aliado, Doederlein pretende usar a formação superior a favor da sua arte. “A ideia é fazer entretenimento que traz amor próprio, reflexões sobre saudade. Sentimentos com os quais a gente pode fugir um pouco do caos do dia a dia”.

Julianna Motter: entre a militância e o afeto
Ela brinca que, após anos escrevendo em blogs, foi “totalmente lesada pelas redes sociais”. Tanto que Motter se multiplica em três frentes no Instagram. Pelo coletivo Amorço, registra intervenções urbanas realizadas em vários pontos da cidade. “A ideia é levar a poesia para a rua e depois para a internet. É sobre o amor, o afeto. O amar como ato político”, define a escritora, de 26 anos.

O Velcro Choque mistura essa experiência urbana com militância LGBT. “Veio para pensar a relação do afeto lésbico com os espaços. Para criar como se fosse um léxico sobre essa vivência na cidade”, descreve ela, formada em comunicação pelo UniCEUB, mestre em direitos pelos humanos pela UnB e atualmente no curso de filosofia da instituição.

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Em seu perfil pessoal, Motter revela um lado mais confessional e íntimo da sua escrita. “Um rolê de falar do lugar que meu corpo ocupa numa sociedade. Tem militância e construção de afetos. Escrevo muito sobre Brasília também”, adianta. Quatro anos após seu primeiro livro, De Carne e Concreto, lançou um novo trabalho, Desculpa por Ainda Escrever Poemas de Amor, lançado no segundo semestre pelo selo independente Padê Editorial.

Em tempos de intolerância contra as minorias e de guinada política em direção ao conservadorismo, a autora acredita que criar versos inspira uma “disputa por linguagem e por discurso”. “Nesse momento vai ser importante a gente construir outras narrativas sobre quem os LGBTs são, as violências que a gente vive, as formas que temos de resistir”, observa.

Rafael Daher: a magia dos sentimentos
Astrólogo e jornalista, o autor acaba de publicar seu livro de estreia, Reconstrução. “Agora tenho conhecimento de que sou poeta”, reflete. A exemplo dos colegas supracitados, nasceu para a literatura na era dos blogs e hoje articula seus versos pelas redes sociais.

“Há excesso de informação e pouco conhecimento ventilando pela internet. A web possibilita uma maneira de despertar e provocar o público”, diz Daher, de 27 anos. “Há vários mundos na rede. A gente tem de tomar cuidado e saber transitar neles. Pode ser enriquecedor”, completa.

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Já com outro livro engatilhado, quase pronto, o brasiliense compara a agilidade do Instagram à expressão urbana dos lambe-lambes, uma das marcas do trabalho de Julianna Motter, sua amiga. “Você anda pela rua e não tem como escapar de um poema. A poesia é síntese de uma amplidão de sentimentos”, nota.

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