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Grafiteiros do DF rompem fronteiras e expõem traços ao redor do mundo

Nomes aqui do quadrado estão compondo a paisagem urbana de Buenos Aires, Barcelona e Paris

atualizado

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Omik/Divulgação
Omik_França
1 de 1 Omik_França - Foto: Omik/Divulgação

Para artistas urbanos, mais que um museu a céu aberto, Brasília é também uma tela em branco feita de concreto e pronta para ser preenchida pelo colorido dos grafites. Entre poesias, frases, desenhos e intervenções, os criadores transformam espaços e proporcionam novos pensamentos aos pedestres. Depois de amadurecer o estilo e fazer fama no Distrito Federal, nomes como Thales Pomb, Daniel Toys, Mikael Omik, Camilla Siren e Gurulino têm ganhado cada vez mais destaque dentro e fora do país.

Seguindo passos de grafiteiros como Os Gêmeos, Eduardo Kobra, Fabio Crânio e Binho Ribeiro – estrelas brasileiras reconhecidas na “gringa” –, os brasilienses estão deixando seus desenhos em diversos países da Europa, América Latina e também nos Estados Unidos – além, claro, dos mais distantes rincões do Brasil.

Pelos muros da Europa
Nascido em Brasília, Omik, 24, trabalha com a arte de rua há oito anos, apesar de se interessar pelo movimento desde a adolescência. Depois de preencher o Cerrado de cor, o grafiteiro levou sua arte para cidades como São Paulo e Rio de Janeiro, mas não parou por aí. Ao lado do amigo e parceiro de profissão Daniel Toys, aproveitou o convite do Festival Loures, em Portugal, arrumou as malas e embarcou em uma turnê europeia de três meses.

“Eu queria ampliar o meu trabalho. Quando vivemos uma constante, nós nos acomodamos, e viajar é sempre uma forma de manter a mente em movimento”, afirma o grafiteiro. De acordo com Omik, já nos primeiros dois dias de passeio, ele pôde sentir o impacto de estar diante de uma cultura tão diferente da sua. “Fui influenciado principalmente pela questão estética dos traços originais”, confessa.

De Portugal, os amigos receberam convites para pintar murais em outras três cidades: Paris, na França, Londres, na Inglaterra, e Hamburgo, na Alemanha. De acordo com Omik, o estilo forte dos brasileiros chamou atenção entre os europeus. “Na Europa, a maioria dos grafites têm um tom pastel, porque as cidades são assim. Nós, brasileiros, somos ricos em cores, e isso atrai os olhares deles”, afirma.

Daniel Toys lamenta a mentalidade de parte de brasileiros, que esperam os artistas serem reconhecidos internacionalmente para, só então, valorizá-los. “É uma questão cultural do Brasil. É muito delicado isso. Nós já estamos sentindo a diferença. Quando voltamos, recebemos mais convites”, revela. Segundo o grafiteiro, a experiência fora permite “subir um degrau” na carreira. “Estamos sendo mais respeitados, parece que tivemos de ir lá fora e mostrar como somos bons”, considera.

Com viagens marcadas para Chile, Argentina e Bolívia, os amigos pretendem continuar investindo na carreira internacional. “Tivemos uma experiência incrível de aceitação por onde passamos e queremos continuar ampliando nossos horizontes”, pontua. Apesar disso, Toys afirma não deixar seu país de lado. “Já participamos de muitos trabalhos pelo Brasil, inclusive na Amazônia. Amamos nossa nação e tudo que aprendemos com os nossos amigos.”

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Aos pés de Jordan
Atualmente com 29 anos, Thales Pomb é um dos mais importantes artistas do gênero. Um dos últimos feitos do brasiliense, formado em desenho industrial pela Universidade de Brasília (UnB), foi ser convidado pela Nike Global para assinar uma ilustração exclusiva em um dos tênis da marca. “Foi uma surpresa, uma alegria muito grande e, principalmente, muito importante na minha caminhada”, considera.

Com desenhos espalhados por capitais como Argentina e Barcelona, o artista reconhece a importância da validação multinacional, que colocou seu desenho no tênis do ex-jogador de basquete Michael Jordan, para as pessoas passarem a enxergá-lo de maneira diferente. Ainda assim, não entende a fama no exterior como ferramenta essencial para a valorização aqui no país. “Hoje em dia, não é tão essencial. Muitos artistas dão show e são valorizados só divulgando o trabalho nas redes sociais”, conclui.

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Talento feminino
A mais nova da turma, tanto em idade quanto em tempo de carreira, é Camilla Siren, 21. A jovem brasiliense ainda não levou suas obras para fora do país, mas as linhas do quadrado já foram rompidas. A convite da TV Combate, a grafiteira viajou a São Paulo, participou de um programa sobre futuros campeões do UFC e foi incumbida do retrato da lutadora Poliana Botelho. “Eu nunca tinha ido a São Paulo e fiquei impressionada com a cidade, com a quantidade de grafites. Lá a gente não pode piscar”, lembra.

Mas, para Siren, nada foi mais emocionante que ir até a Ilha Combú, no Pará, e transformar a simplicidade das casas dos ribeirinhos em obras de arte, no projeto intitulado Street River. “Foi uma viagem longa, junto com Omik e Toys, que me enriqueceu muito como profissional e também como pessoa”, conta a artista. Atualmente, ela investe em uma técnica que mistura bordado e grafite tanto em tecidos como em paredes.

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Os precursores
Gustavo e Otavio Pandolfo, Os Gêmeos, certamente estão entre os mais conhecidos artistas de rua brasileiros. A carreira deles começou no bairro do Cambuci (SP), em meados dos anos 1980, e rapidamente decolou. Atualmente é possível conferir obras da dupla em países como Espanha, Inglaterra, Estados Unidos e Alemanha, inclusive em museus.

Reprodução
Obra d’Os Gêmeos

 

A mistura de crítica social e povos indígenas nos desenhos de Crânio ficou mundialmente conhecida. Os personagens, que são a cara do Brasil, levaram o artista a expor trabalhos em lugares como França, Barcelona, Amsterdã e Miami.

Com a união de retratos de personalidades e mistura de cores e texturas em formato 3D, o paulistano Eduardo Kobra recebeu os primeiros convites para ir ao exterior. Mas foi com o projeto chamado Muro de Memórias que se tornou mundialmente conhecido.

Reprodução
Painel de Kobra em Nova York

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