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Fábio Baroli demonstra linguagem amadurecida em mostra de sua recente obra no CCBB

Formado pela Universidade de Brasília, o jovem pintor mineiro de 34 anos domina sua expressão e apresenta um estilo imediatamente reconhecível

atualizado

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Lucas Las-Casas/Divulgação
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Em cartaz até 21 de dezembro na Galeria III do Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), a exposição “Deitei para Repousar e Ele Mexeu Comigo” é um evento não apenas para seu autor, Fábio Baroli, mas também para toda a sua geração de artistas plásticos.

Formado pela Universidade de Brasília (UnB), o pintor Fábio Baroli tem 34 anos de idade e uma linguagem já plenamente construída. Foi colega de Camila Soato, Márcio H Mota, Moisés Crivelaro pelos ateliês do Instituto de Artes da UnB. É contemporâneo de Raquel Nava, André Santângelo, Virgílio Neto. Como todos esses, cada qual em sua estética e temática próprias, Baroli domina sua expressão e apresenta um estilo imediatamente reconhecível.

Daí parece não apenas oportuno, mas extremamente apropriado que um dos centros culturais da cidade receba uma mostra de fôlego de Fábio Baroli. Sob curadoria de Renata Azambuja, sua ex-professora na UnB, o artista apresenta um bom naco de sua produção mais recente, realizada nos últimos, dois, três anos.

E mais do que isso, Fábio Baroli conta no CCBB com um amplo espaço e um generoso projeto expositivo. Assim suas telas — muitas delas de larga escala — podem respirar. Assim os visitantes — muitos deles não familiarizados com o artista — podem entrar no universo de Fábio Baroli. Quase que literalmente.

*Reprodução*
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Luz e cor
Estes trabalhos de “Deitei para Repousar e Ele Mexeu Comigo” emergem de uma temporada de recuo e recolhimento. Depois de trocar Brasília pelo Rio de Janeiro e experimentar um crescimento (inclusive de valor de mercado) na cena da arte contemporânea brasileira, Fábio Baroli resolveu voltar para sua terra natal, Uberaba, Minas Gerais, reencontrar familiares e ficar ainda mais próximo do objeto de sua arte.

O matuto moderno, com seu cotidiano, seus usos e costumes, é o centro narrativo e emocional da obra de Baroli. E o visitante urbano que adentrar a Galeria III do CCBB logo será recebido por um imenso mural, fragmentado, parcialmente pintado sobre a parede, parcialmente constituído por 10 telas que ali se encaixam como num quebra-cabeças.

“Pra Lá de Dois Pé-de-Guariroba” (2015) é o nome deste trabalho site-specific de três metros de altura e mais de oito de comprimento. Ao longo dele se abre uma longa paisagem. Uma estrada de terra, um capinzal alto, um pasto com bois, uma lagoa lá no fundo, uma cerca de madeira, um banco vazio. A ausência da figura humana, tão cara em Fábio Baroli, permite agora que os olhos do espectador percorram livres toda essa cena, sem serem puxados por nenhum elemento específico.

E assim, primeiro palmilhando o habitat natural do artista, o visitante está preparado para conhecer os matutos que emprestam vida, cor e verve à Fábio Baroli. Essa gente que está nas ruas, nos botecos, nos galpões, nas feiras de Uberaba. Gente como o tiozinho e as crianças do díptico “Cê Gosta de Laranja?” (2013, acima).

*Reprodução*
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Memória e cinza
Elemento recorrente em Fábio Baroli é sua peculiar dinâmica de aproximação-e-distanciamento com o mundo real. Ao mesmo tempo em que sua pincelada busca um realismo quase fotográfico ao apreender volumes, formas e texturas, o pintor quebra essa sensação através da espacialização das figuras em sua tela. Amplos trechos vazios, sobreposição de cenas e o uso de dípticos e trípticos causam ruídos constantes que interferem na ilusão de realidade.

Nesse sentido, o já citado mural “Pra Lá de Dois Pé-de-Guariroba” (2015) é feliz ao apresentar, ainda na primeira sala da mostra, esse mundo fragmentado do artista. E também nesse sentido, a expografia de Gladstone Menezes é igualmente feliz ao perceber e respeitar esse movimento do autor.

Ao longo das paredes da exposição, ora se valoriza a individualidade de uma peça, ora se valoriza a força do conjunto. Nesse segundo caso, entram as seis dezenas de pequenas telas da série “Quando a Seca Entra” (2015, acima uma delas) que fecham toda uma parede. Cada um desses trabalhos traz a reprodução em tinta a óleo de uma antiga fotografia do álbum da família Baroli.

Aqui as cores fortes do pintor então cedem vez a um descolorido, vizinho ao preto-e-branco, que atravessa cada uma das miúdas e cotidianas cenas. Crianças brincando, jovens à beira do rio, um par de cachorros, os retratos do avô e da avó.

*Reprodução*
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Fogo e noite
Ao fundo da Galeria III, no entanto, uma sala escurecida abriga o trabalho mais perturbador desta safra. Após descortinar um mundo diurno e ensolarado, Fábio Baroli deixa a noite cair. “A Terra do Zebu e a Casa do Caralho” (2014) foi iniciado após as manifestações populares de junho de 2013 estourarem nas capitais e se embrenharem pelo interior do país, chegando ao Triângulo Mineiro.

Uma cena noturna, recortada em políptico, mostra a eclosão de uma revolta popular. No detalhe ao alto desta página, um jovem levanta uma tocha em gesto de solitário desafio contra os prédios de apartamentos iluminados que se erguem lá no fundo da imagem. Labaredas percorrem e esquentam todo o conjunto, colocando uma Igreja em risco e envolvendo em chamas a camionete SUV tão bacana de algum senhor de terras.

Ainda na mesma sala, uma sequência de seis pequenas telas compõe o ambiente (acima). Alastrando o incêndio para uma segunda parede, essa série funciona como uma novela fotográfica. Enquanto o políptico preenche o espaço e os sentidos com a força da violência, esse segundo momento funciona como um zoom, permitindo que cada segundo da explosão seja apreendido no que há de belo e terrível.

Em algum lugar por ali, entre o breu da noite e o vermelho do fogo, desponta a figura de um homem vestindo uma cabeça de zebu. Um elemento fantástico e aterrador. Um personagem a rasgar silenciosamente a cena. O tão pacato matuto de Fábio Baroli pode se revelar um minotauro a dançar em seu labirinto.

Até 21 de dezembro, no Centro Cultural Banco do Brasil (Setor de Clubes Esportivos Sul, Trecho 2, lote 22, 3108-7600). De quarta a segunda, das 9h às 21h. Entrada franca. Livre.

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