“Olmo e a Gaivota” discute maternidade e corpo feminino
Uma das estreias desta quinta (5/11), o filme mistura documentário e ficção ao retratar um casal de atores europeus durante a gestação do primeiro filho
atualizado
Compartilhar notícia
Às voltas com a primeira gravidez, o casal de atores Olivia Corsini e Serge Nicolaï conversa sobre o futuro. Ele está preocupado com as despesas. Ela vive a angústia de perder a próxima produção do grupo do qual os dois fazem parte, o Théâtre du Soleil. De repente, uma das diretoras, sem aparecer na frente da câmera, fala com os personagens e pede mais intensidade à cena. É nessa fresta entre o documentário e a ficção que se encontra o filme “Olmo e a Gaivota”.
Dirigido pela brasileira Petra Costa (de “Elena”) e pela dinamarquesa Lea Glob, o longa acompanha as descobertas da italiana e do francês durante a primeira gestação. A hibridez de gêneros só fica clara quando, de fato, as cineastas interferem na encenação e se comunicam com os atores. Na maior parte do tempo, o filme funciona como um drama realista sobre a relação da mulher com o próprio corpo – entre momentos de carinho e desespero sobre o que está por vir.
Com close-ups íntimos e intensos, Petra e Lea mostram até mesmo o momento em que Olivia descobre que espera um filho: no banheiro, quando ela faz o teste de gravidez por meio da urina. A notícia veio num momento delicado. Baseada em Anton Tchekhov, a montagem de “A Gaivota” está em pleno período de ensaios, prestes a estrear na América do Norte. Olivia poderá perder as datas da turnê por causa da gestação.
Um gesto bonito – e um filme irregular
A quantidade de diálogos e monólogos sobre a identidade do ator entrega aquilo que existe de misterioso no filme: justamente a relação ambígua entre Olivia e Nicolai, baseada tanto em suas personalidades domésticas quanto em personagens ficcionais. “Está protegido de tudo, quando se faz teatro”, diz Olivia, estranhando o novo papel que deverá encarar: o de mãe.
Ao desejar discutir a arte do ator, “Olmo e a Gaivota” por vezes tropeça em seus próprios procedimentos. Nesse sentido, as interferências vocais das diretoras soam como caprichos autorais: quebra-se o diário particular construído pela câmera em prol de uma terceira discussão, agora sobre o filme em si.
Entre cenas improvisadas e planejadas, o longa opera uma investigação importante sobre o corpo da mulher. Aqui, Petra e Lea dispensam aquele velho clichê da tal sensibilidade feminina (ou materna) e propõem questionamentos mais urgentes, de fundo existencial e psicológico. Ainda assim, “Olmo e a Gaivota” parece funcionar mais como um gesto poderoso do que como um filme minimamente regular.
Avaliação: Regular
Veja horários e salas de “Olmo e a Gaivota”.