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‘Elis’, filme denso e forte de Hugo Prata, se destaca em Gramado

A vida e a obra da Pimentinha resultam em um ótimo filme, que chega aos cinemas em novembro

atualizado

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filme elis regina
1 de 1 filme elis regina - Foto: Divulgação

Sonia Braga foi a rainha da noite na abertura do 44º Festival de Cinema Brasileiro e Latino, na sexta (26/8). Ela veio poderosa, estonteante, pelo tapete vermelho. Levou seu Troféu Oscarito, que o festival outorga a grandes atores e atrizes do cinema nacional. Na sequência, veio o filme de Kleber Mendonça Filho, que estreia na quinta (1º/9), nos cinemas do país. “Aquarius” continua tão bom, senão melhor do que quando o repórter o viu em Cannes, em maio. Sai Sonia Braga e, no sábado, 27, outra atriz eletriza Gramado, e agora é Andreia Horta, a Elis Regina do longa de Hugo Prata.

“Elis” foi o primeiro filme da competição, e a primeira noite foi seguida por outro longa brasileiro que também concorre aos Kikitos – “O Roubo da Taça”, de Caíto Ortiz. Digamos que seja difícil montar uma grade de programação. Acomodar seis longas da competição brasileira, seis da latina, mais filmes fora de concurso, como “Aquarius”, e os curtas. O sábado teve filmes demais, mas talvez o problema tivesse sido contornado se houvesse uma inversão e a comédia “O Roubo da Taça” passasse antes de Elis. Após o denso e forte longa de Hugo Prata, a noite poderia ter terminado ali.

Se há uma coisa que o cinema brasileiro aprendeu a fazer nos últimos anos foram biografias. Cada um terá sua preferida, mas são invariavelmente boas. O diretor hesita em definir “Elis” como biografia de Elis Regina. É seu recorte sobre a vida da mítica cantora. Caberiam outros, que até poderão ser feitos, mas dificilmente resultarão melhores. “Elis” é ótimo. Dá conta de sua mítica personagem. De sua riqueza e complexidade. Não seria tão bom sem a desde logo antológica interpretação de Andreia Horta. Ela foi ovacionada. Vale viajar no tempo.

Em 1973, no 1º festival, o repórter estava lá e viu essa mesma vibração por outra interpretação – outra mulher lendária – que entrou para a história, a Darlene Glória de “Toda Nudez Será Castigada”, que Arnaldo Jabor adaptou da peça de Nelson Rodrigues. Anos depois, também estava lá quando a jovem Sonia Braga colheu seu memorável triunfo como Dona Flor, a que tinha dois maridos, de Bruno Barreto.

Já tem gente dizendo que só um golpe do júri tira o Kikito de Andreia.

Ainda vem muita gente, muitos filmes por aí, mas ela já colocou a barra lá no alto. Andreia foi muito preparada para o papel. Preparo vocal, físico. Não só ela. Gustavo Machado como Ronaldo Bôscoli e Júlio Andrade como Lennie Dale não são menos extraordinários. Caco Ciocler aprendeu a tocar piano para ser César Camargo Mariano. É tudo impressionante, mas tem o roteiro (com colaboradores) e a direção de Prata. Ele compactou a vida de Elis. Mostrou-a da chegada ao Rio à morte prematura. A Elis pública e a privada. A Pimentinha, brigando com a família, com seus homens, com os gorilas do regime militar. Eventuais reparos – Chico Buarque e Milton Nascimento são referidos por meio de diálogos, um dos maiores discos da MPB, “Tom & Elis” ficou de fora – poderão ser feitos, mas a escolha dos episódios para compor as diferentes fases e o arco dramático, centrado nas suas angústias de mulher e artista em busca da perfeição, tudo isso compõe um relato intenso, e apaixonante.

Prepare-se para o que vem por aí. “Elis” estreia no fim de novembro. Antes disso, chega dia 8 aos cinemas “O Roubo da Taça”. Uma espécie de comédia à italiana feita no Brasil, com ecos de Mario Monicelli (Os Eternos Desconhecidos), mas numa celebração estética do feio, do sujo e do malvado à Ettore Scola. Será preciso voltar ao filme de Caíto Ortiz, e revê-lo, à espera que saia da sombra de “Elis”.

O primeiro curta da competição veio de Pernambuco, como “Aquarius Black-Out” é obra de um coletivo. O nome mais conhecido é o do codiretor Felipe Peres Calheiros, que já concorreu em Gramado. Assim como “Aquarius” é sobre a luta de uma mulher contra o poder econômico representado pelas construtoras, “Black-Out” é sobre a luta dos quilombolas pela demarcação de suas terras. Pode até desconcertar, mas é muito forte.

Por Luiz Carlos Merten

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