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Crítica: “O Nó do Diabo” desbrava terror para comentar a escravidão

Longa paraibano dirigido por quatro cineastas e curta paranaense “Tentei” foram atrações nesta quarta (20/9) no 50º Festival de Brasília

atualizado

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Vermelho Profundo/Divulgação
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1 de 1 o-nó-do-diabo_Ramon-Porto-Mota-Gabriel-Martins-Ian-Abé-e-Jhésus-Tribuzi_cred-vermelho-profundo-32 - Foto: Vermelho Profundo/Divulgação

Os filmes desta quarta-feira (20/9) trouxeram um clima de tensão e desespero para a tela do 50º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro.

Ambos selecionados na mostra competitiva, o longa “O Nó do Diabo” (PB) reúne cinco histórias sobre escravidão e racismo ambientadas em diferentes épocas da história brasileira e o curta “Tentei” (PR) acompanha o sofrimento de uma mulher na periferia de Curitiba.

Leia crítica dos filmes exibidos nesta quarta-feira (20/9) na mostra competitiva:

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“O Nó do Diabo” (PB): o racismo no Brasil em cinco episódios
Assinado pelo quarteto Ramon Porto Mota, Gabriel Martins, Ian Abé e Jhésus Tribuzi, o longa paraibano evoca a tradição dos filmes de terror episódicos.

É o Brasil em cinco tempos, de 2018 a 1818 – sim, do futuro ao passado – num trabalho ambicioso que passeia por gêneros cinematográficos e decide comentar o racismo e a escravidão por meio das delícias (e também dos riscos) de reler a história por meio da fantasia.

Cada capítulo se inscreve num estilo distinto – e, aos poucos, do futuro ao passado, os tomos também variam na qualidade de realização. A narrativa secular sobre uma propriedade privada fundada na opressão começa em 2018, com um vigia que policia os limites da fazenda.

Nesse Brasil não muito distante, em que radialistas celebram o recrudescimento das autoridades, esqueça a justiça: quem tem terra também adquire licença para matar quem colocar o pé no lugar.

Saímos do filme de ação (muitíssimo bem construído visualmente, sobretudo nas cenas noturnas) nos rincões sem lei e voltamos a 1987, quando um casal chega à tal propriedade dos Vieira em busca de emprego. Puro território de terror sobrenatural e paranoia, com ecos de “Corra!”.

O filme segue aprofundando quão atado é esse nó na violenta história do Brasil. Em 1921, o engenho de Vieira parece ter resistido à abolição de escravos. Duas irmãs convivem com memórias da mãe, abusada e morta, e sofrem elas próprias torturas parecidas. Até que ambas reagem. Metade trama de vingança, metade origem de super-herói.

Inventivo nos dois primeiros segmentos e eficiente no terceiro, “O Nó do Diabo” dá sinais de declínio quanto mais desbrava o passado. Em 1871, um escravo fugitivo procura pelo quilombo, mas o roteiro insiste numa estrutura circular e alucinatória que pouco convence.

Em 1818, vemos um filme de cerco à la John Carpenter de um grupo de escravos sitiado por senhores de engenho – Vieira, sempre ele, permanece como a figura autoritária inesgotável de um Brasil intolerante.

Certos macetes de terror já não soam tão engenhosos quanto antes (o gore, por exemplo, e as mortes filmadas sempre de um jeito pulp), mas pelo menos o episódio, um filme de cerco, ousa religar a trama a 2018 ao entregar o protagonismo para as mulheres e consolidar uma genuína rebelião zumbi quando os mortos se levantam.

Deslizes à parte, “O Nó do Diabo” funciona como exercício de gênero que alia sofisticados atributos técnicos de produção (som, trilha, fotografia) a uma corajosa ideia de transformar os horrores da história nacional em um filme que se comunica de maneira franca e prazerosa com o público.

Avaliação: Bom

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“Tentei” (PR): as dores da periferia
Uma mulher negra da periferia de Curitiba não aguenta mais tanto sofrimento. Em casa, vive um cotidiano de humilhações, abusos, agressões psicológicas e físicas.

Formatado como um filme de militância feminista, o curta de Laís Melo tenta aplicar à história um pouco da estética urgente que consagrou os irmãos Dardenne: uma forte carga de comentário social transmitida por pontos de vista instáveis, íntimos das dores da protagonista. Não deixa de ser também a escolha mais cômoda.

Glória, a personagem, no fim das contas toma coragem para formalizar uma denúncia. Volta para casa e se debate diante da câmera. Inegável relevância pelo tema levantado, mas aridez de boas ideias na realização.

Avaliação: Regular

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