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Crítica: baseado em tirinhas, Mulheres Alteradas não se sustenta

Nem mesmo o hilário e experiente quarteto principal conseguiu salvar o filme, que tem roteiro desinteressante

atualizado

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Paris Filmes/Divulgação
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1 de 1 capa15 - Foto: Paris Filmes/Divulgação

Mulheres Alteradas, para quem não se lembra, eram tirinhas em formato de lista, elaboradas pela cartunista argentina Maitena Burundarena. As esquetes fizeram bastante sucesso na década passada, retratando situações cômicas que falam a diferentes perfis de mulheres: casadas e solteiras, adolescentes e idosas, gordas e magras, donas de casa e CEOs.

Maitena não tinha personagens específicas, desenhou mulheres genéricas. No máximo, a mesma garota protagonizava uma tira do início ao fim. Assim, para fazer um filme sobre o assunto, o roteirista Caco Galhardo precisou elaborar as personagens e a história do zero, usando apenas as tiras de referência. O cartunista criador d’Os Pescoçudos assina seu primeiro roteiro para um longa-metragem e, por se ancorar tão fortemente nas esquetes da tirinha, acaba se perdendo na história.

O filme é tão mal amarrado que as quatro protagonistas, Keka (Deborah Secco), Marinati (Alessandra Negrini), Sônia (Mônica Iozzi) e Leandra (Maria Casadevall), não se encontram, apesar de fazerem parte do mesmo círculo social. A história divide o grupo em duas: a dinâmica entre chefe e secretária, de Keka e Marinati; e a relação entre as irmãs Sônia e Leandra.

Enquanto Keka insiste em levar o marido para um resort, na tentativa de salvar o casamento, a workaholic Marinati põe sua carreira a perder porque se apaixona perdidamente por um estranho. Vividos por Sérgio Guizé e Daniel Boaventura, os dois homens de destaque do filme são completamente patéticos e os relacionamentos, inacreditáveis. Pensar que a belíssima Keka está há um ano sem fazer sexo com o marido ou que a independente Marinati quase cai no golpe do baú é fora de sério. Ao menos, a dupla tem o final sem embustes que merece.

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Do outro lado da história, a baladeira Leandra topa cuidar dos sobrinhos para que a irmã, Sônia, possa ter uma noitada. A progressão do relacionamento das duas e a visão de cada uma sobre a solteirice e a maternidade são discussões que infelizmente dão lugar aos bobos esquetes de Keka e Marinati na praia. Casadevall aparece tão pouco que nem parece ser uma das protagonistas: das outras três, a única com quem contracena é Iozzi.

O filme tem algumas piadas que se salvam, além de ter uma belíssima edição de som, evidenciada na cena em que Sônia entra, maravilhada, em uma boate. O uso constante de câmera na mão enriquece e dinamiza as cenas, mas os enquadramentos tortos nos momentos de delírio de Marinati mais distraem que comunicam.

A característica redentora do filme é a iluminação, impecável em todas as cenas e lindamente utilizada como linguagem em uma esquete: ao ver o ex-namorado beijando outra mulher em uma balada, Leandra atravessa o corredor listando o que sente. A cada luz neon, um sentimento: raiva, tristeza, saudade, ciúme e, por fim, arrependimento. Ah, se o roteiro do filme fosse tão cuidadoso quanto essa cena…

Avaliação: Ruim

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