Crítica: a primazia do corpo em “Pendular” e “Inocentes”
A noite competitiva de ontem, domingo (17/9) do 50º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro apresentou a primazia dos corpos em películas que se destinam a discutir afetos e a sexualidade humana. Em comum, o curta-metragem “Inocentes”, de Douglas Soares e o longa “Pendular”, de Júlia Murat desnudaram seus personagens para amplificar sentimentos de desejo […]
atualizado
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A noite competitiva de ontem, domingo (17/9) do 50º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro apresentou a primazia dos corpos em películas que se destinam a discutir afetos e a sexualidade humana. Em comum, o curta-metragem “Inocentes”, de Douglas Soares e o longa “Pendular”, de Júlia Murat desnudaram seus personagens para amplificar sentimentos de desejo e amor.
Em tempos de censura artística, mostrar corpos sem culpa é um ato político emblemático. Ambos os títulos tiveram também como ponto de partida uma correlação embrionária com artistas de outras áreas artísticas que não são a sétima arte.
Longa-metragem
A cineasta Júlia Murat (“Histórias que Só Existem Quando Contadas”) declarou que se baseou na trajetória de vida da artista performática sérvia Marina Abramovic e sua relação com seu marido e companheiro de performances, o alemão Ulay (ambos foram amantes e parceiros de trabalho nos anos 1970), para criar o universo de seus personagens ficcionais de “Pendular”, terceiro longa apresentado na mostra competitiva do Festival.
A parceria romântica e profissional entre Marina e Ulay foi apresentada no documentário “Marina Abramovic – Artista Presente” (2011), dirigido por Matthew Akers, que narrava a relação dos dois artistas durante os anos 1970 quando criaram performances impactantes sobre relações de poder entre duas pessoas que se propuseram a dividir a vida pessoal e profissional.
Portanto, aproximações entre o filme brasileiro e o norte-americano podem ser feitas No filme de Murat, um casal de artistas divide a cama e o espaço de criação. O artista plástico em crise criativa interpretado pelo ator Rodrigo Bozan é Ele. Enquanto, a dançarina de dança contemporânea encarnada por Raquel Karro é Ela. Ele e Ela escolheram um galpão abandonado para chamar de casa. É também um espaço de trabalho divisão (injusta) entre os dois.
As relações de poder entre o casal e ocupação do espaço físico são representadas pela colocação de etiquetas, formações de linhas de separação demarcadas no chão. Com o passar da narrativa, Murat embaralha os papéis sexuais entre os amantes num momento justamente onde se rompe a harmonia entre o casal.
As relações de poder e entre homem e mulher. Principalmente, o poder de escolha é uma das linhas a guiar a narrativa de “Pendular” e mostra que o domínio do corpo da mulher pode estar nos movimentos coreografados de uma dança ou na decisão de escolher “quando” gestar um filho.
Avaliação: Bom
“Inocentes”, de Douglas Soares
Nos calçadões das praias do Rio de Janeiro, rapazes exercitam os corpos musculosos ignorando o olhar de um voyuer que os observa de longe. O olhar da câmera, organizado pelo diretor Douglas Soares se aproxima dos objetos de observação. Aos poucos, o ambiente externo é deixado para trás para dar vazão aos desejos de homens mantidos no privado. Soares conseguiu representar com perfeição as imagens homoeróticas produzidas pelo fotógrafo Alair Gomes (1921-1992), um dos ícones da arte LGBT no Brasil e cujo nome precisa ser relembrado num momento de ataque e censura à cultura gay.