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Cannes: “Zimna Wojna”, de Pawel Pawlikowski

Com quantos minutos se faz um épico? Em apenas 84, o filme conta a história de duas vidas e de um amor trágico, porém completo.

atualizado

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Festival de Cannes/Divulgação
Cold War
1 de 1 Cold War - Foto: Festival de Cannes/Divulgação

As histórias de amor trágicas, aonde um homem e uma mulher não conseguem continuar vivendo um sem o outro, e que também não conseguem viver juntos sem algo catastrófico acontecer, são mais antigas do que a Bíblia. Pois enquanto a maioria se trata de dois jovens perdidamente apaixonados, o novo trabalho de Pawel Pawlikowski, diretor polônes vencedor do Oscar, nos mostra personagens muito mais complexos e perturbadores do que de costume.

Logo após o calor da Segunda Guerra, países começariam um conflito de cultura e influência. Na Polônia rural, dois diretores musicais, o pianista Wiktor (Tomasz Kot) e a produtora Irena (Agata Kulesza), estão realizando testes para uma trupe que percorrerá a Europa Oriental com um ato musical tradicional. Uma jovem, Zula (Joanna Kulig), rapidamente conquista seu espaço no grupo e no interesse de Wiktor. Com o passar do tempo, os dois vão ficando mais bem sucedidos e cada vez mais próximos, até virarem amantes. Quando a troupe é convidada para uma performance em Paris, Wiktor sugere que ele e Zula fujam para o ocidente.

Tudo isso logo no começo do filme, e portanto não se trata de uma revelação imprópria. Também não seria demais revelar que Zula não é exatamente o que aparenta ser, pois desde o primeiro momento em que a vemos, seus colegas compartilhar fofocas sobre ela e a própria menina se contradiz constantemente. Seu passado recente inclui um conflito armado com o pai e sua atuação como uma menina campestre durante os testes é rapidamente desmascarada. Wiktor fica pouco surpreso quando ela lhe revela que o diretor da trupe, Kaczmarek (Borys Szyc), pede que ela espie o pianista, em busca de sinais de subversão.

Em um filme com intriga política em seus centro, este seria o cerne da trama. A casualidade com a qual estes detalhes são revelados na crítica, porém, sinalizam que tudo isto se passa logo no começo. O filme deslancha mesmo após o show de Paris, e a sugestão de fuga por Wictor, cujas consequencias não merecem ser reveladas para quem ainda não assistiu o filme. “Zimna Wojna” quer dizer Guerra Fria, e os conflitos ocorrem tanto no panorama mundial quanto no relacionamento entre Wictor e Zula.

Não se trata aqui de um filme feliz, mas no cinema de arte, quantos amores terminam felizes para sempre? O desenrolar da trama ocorre durante duas décadas, em mais de três países. Mas enquanto nenhum tiro é disparado, o terror da repressão está presente em tudo do filme. Mesmo quando os personagens conseguem liberdade, suas circunstâncias continuam proibindo-os de experimentarem a real felicidade.

É provável que a narrativa de “Zimna Wojna” tenha pistas de como tudo vai acabar, e que por isso uma segunda sessão seja cheia de recompensas. Com meros 80 e poucos minutos, o filme é disparado o épico mais curto já feito no cinema (um dos maiores, “Lawrence da Arábia”, leva 3 horas e 40 minutos para contar sua história), o que indica sua maestria narrativa. Contar uma história que se passa por décadas, com personagens bem definidos, em tantos países, e que ainda dá a sensação de compartilhar duas vidas inteiras é para os melhores roteiristas e diretores. “Ida”, também curto, se passava em dois dias.

Um último destaque vai para o fotógrafo Lukasz Zal, cujas composições poderiam ser imprimidas e penduradas na parede como quadros. Um clichê de se dizer, é verdade, mas nem por isso seria mentira. Claro que também fez “Ida”. A trilha sonora vai de composições clássicas de piano, próprias a Wiktor, passa por melodias de jazz, gênero ao qual Zula se dedica, e termina com o bom rock ‘n roll americano que sinaliza a derrota do mundo soviético por vir.

Avaliação: Excelente (5 estrelas)

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