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Cannes: “L’Amant Double”, de François Ozon

O que poderia ser um excelente thriller erótico não passa de uma versão adolescente e mal pensada do gênero

atualizado

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Festival de Cannes/Divulgação
L’Amant Double
1 de 1 L’Amant Double - Foto: Festival de Cannes/Divulgação

Os anos 80 foram um terreno fértil para um gênero de filme muito mal-dito: o thriller erótico. Respeitado desde os anos 40, quando protótipos como “Cat People”, de Jacques Tourneur, foram limitados à mera sugestão de uma sexualidade, devido à censura, chegou ao ápice em “Instinto Selvagem”, de Paul Verhoeven, em 1992, já livre de qualquer amarra imagética ou temática. Na década de ouro, nomes como Brian De Palma, David Cronenberg, Roman Polanski, e mesmo Pedro Almodóvar, presidente do júri de Cannes este ano, realizaram filmes consagradores, misturando sexo, violência e psicologia.

François Ozon, prolífico diretor francês, gosta de experimentar gêneros diferentes, e aqui lança seu thriller erótico. É a história de Chloé (Marine Vacth) que, sofrendo de dores abdominais psico-somáticas, vai se tratar com o terapeuta Paul Meyer (Jérémie Renier). Os dois se apaixonam rapidamente e vão morar juntos. Paul, preocupado com ética, sugere que ela se trate com outro terapeuta. Bizarramente, ela descobre que seu namorado tem um irmão gêmeo, Louis, que o segue na profissão, e para explorar esta presença misteriosa, Chloé vira sua paciente. A atração, novamente, é instantânea.

“L’Amant Double”, como o próprio nome indica, coloca a dualidade como sua metáfora central. Chloé está um pouco perdida entre dois homens de aparência igual, mas de temperamentos diferentes. Não só Paul e Louis representam as duas faces de uma personalidade só, mas também os dois desejos que Chloé tem: o homem sensível e inteligente e o bruto selvagem.

Porém, o filme não tem nada de interessante pra falar sobre isso. É clichê e desinteressante. Espelhos e reflexões dominam a fotografia e os cenários. A trilha sonora bombardeia momentos escuros de suspense. Toques estéticos, em vez de formarem uma visão original, são uma colagem do que já foi feito antes, muito melhor. Logo na primeira cena, vemos Chloé cortar o cabelo à la Mia Farrow, em “O Bebê de Rosemary”. O split-screen habitual de De Palma é usado em sequencias chave. Etc, etc.

O maior problema reside na escolha dos atores. Escolhidos mais pelos físicos de modelos e menos pela capacidade profissional, Vacth e Renier são presenças escaldantes nas muitas cenas de sexo, e nulas no jogo de gato-e-rato que deveria sustentar a trama. Alguns atores são experts em retratarem personagens frios, porém complexos, que escondem poços de riquezas psicológicas por trás de seus rostos (o excelente “Elle”, com Isabel Huppert seria o modelo ideal).

O mistério central da trama sequer faz sentido, e o twist final, de tão clichê, revoltará. Assim, “L’Amant Double”, mais parece um fanfic adolescente de um thriller erótico do que um exemplo do gênero.

Avaliação: Ruim (1 estrela)

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