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Cannes: “Gongjak”, de Jong-Bin Yoon

Thriller sobre espionagem entre as Coreias do Sul e do Norte tem alta relevância no momento atual

atualizado

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Festival de Cannes/Divulgação
Gongjak
1 de 1 Gongjak - Foto: Festival de Cannes/Divulgação

De vez em quando, a vida acelera a relevância da arte. Tal é o caso em “Gongjak” um filme sobre um espião sul-coreano que começa a se infiltrar no governo da ditadora vizinha em 1993, quando o mundo começou a se preocupar com a possibilidade da Coreia do Norte desenvolver armas nucleares. O filme se diz verídico, inspirado em depoimentos do agente secreto “Black Venus”, Park Suk-young (Hwang Jung-min), que infiltrou a alta cúpula do Partido Comunista Norte Coreano posando como um empresário corrupto.

Os encontros iniciais são na China, e após um começo um tanto rápido e um pouco confuso sobre o que exatamente está acontecendo, Park consegue contato com o diretor do conselho econômico, Ri (Lee Sung-min) e fornece uma mala recheada de dinheiro para o Partido, incapaz de financiar seu programa nuclear. As ramificações desta missão envolvem visita à Ditadura, o mapeamento de uma usina nuclear, e interferências eleitorais nas eleições democráticas da Coreia do Sul.

Com o que acontece hoje em dia na península coreana, a produção de “Gongjak” teve uma sorte imensurável ao lançá-lo durante o Festival. O fato da história não se passar nos dias de hoje, mas sim durante todo um processo histórico, ainda serve para caracterizá-lo como uma potente metáfora. Não seria um spoiler dizer que este é um filme otimista sobre o futuro, apesar da retórica bélica do novo ditador do Norte. Aliás, uma das presenças mais hilárias e interessantes no filme é a de Kim Jong Il, interpretado loucamente.

Quem espera um thriller de bombas a explodir e de relógios em contagem regressiva se decepcionará com esta trama mais ponderosa e consequente. Mantendo-se como “história real”, o diretor se livrou do espetáculo cinematográfico e decidiu contar uma história sobre relacionamentos. Não é a espionagem do bangue-bangue, mas sim a de conversas escusas em salas privadas, regadas a uísque e fumaça.

Até sem querer, é um filme que retrata nossas piores fantasias sobre as relações entre o Estado e o empresariado. Também escancara a hipocrisia anti-mercado do discurso comunista quando estes atingem o poder, visto que na hora de buscar recursos, são sempre os primeiros aliados de quem tem dinheiro. A venda de facilidades e de monopólios econômicos não existe apenas na península coreana. Apesar disso tudo, e da hostilidade entre os dois países, “Gongjak” parece indicar que é possível existir relacionamentos fraternos entre pessoas que deveriam ser inimigos.

Avaliação: Bom (3 estrelas)

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