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Cannes: “Diego Maradona”, de Asif Kapadia

Kapadia encerra sua trilogia sobre a fama com um personagem que continua vivo: o astro argentino do futebol.

atualizado

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Festival de Cannes/Divulgação
Diego Maradona
1 de 1 Diego Maradona - Foto: Festival de Cannes/Divulgação

Se o cinema transforma homens em ídolos, o futebol tem a possibilidade de transformá-los em deuses. O diretor britânico Asif Kapadia uniu as duas possibilidades em seu novo documentário, o terceiro seguido sobre uma pessoa famosa. Desta vez, diferentemente de Ayrton Senna e Amy Winehouse, Diego Maradona está vivo, e poderá assistir este filme sobre sua vida. Na verdade, Kapadia evita desta vez fazer um filme que leva o personagem do berço ao caixão, focando apenas em um período muito específico da vida e carreira do ídolo argentino, seus anos como jogador do time de Nápoles, uma pequena cidade italiana consumida pela pobreza e pelo tráfico de drogas. Lá, Maradona viraria um deus.

Quando Maradona foi contratado pelo SSC Napoli, ele já vinha de uma vitória na Copa do Mundo de 1986 (que incluiu o famoso gol da mano de Díos), porém de temporadas fraquíssimas no Barcelona. O mundo do futebol já o contava como um “has-been”, alguém que não viveria o potencial que prometia quando novo. Talvez fosse apenas esta relativa mediocridade em um time gigante que tornou possível sua ida ao Napoli. Na conferência de imprensa em que os dirigentes anunciam sua contratação, a primeira pergunta de um jornalista é se o preço alto do jogador envolveu financiamento pelo crime organizado.

Nápoles era uma cidade desprezada pelas partes prósperas da Itália. Kapadia consegue ser eficiente em relacionar o estado da cidade com a infância do jogador, em uma cidade pobre da Argentina. O encontro fortuito de Maradona com Nápoles é quase como um encontro do destino, onde os dois trabalharão um com o outro para trazerem o melhor de si aos estádios de futebol, e à futura conquista da Copa Europeia. O filme abre com uma trilha sonora incrível dos anos 80 na primeira ida de Maradona ao estádio, onde 85 mil fãs o esperavam, fora todos aqueles que se amontoaram nas ruas.

Reverenciado como um Deus, literalmente, Maradona chegou ao topo do mundo em Nápoles.

Infelizmente, o jogador e a cidade tinham vícios em comum. Um ajudando o outro, como na virtude, assim na tragédia. A disponibilidade de festas, mulheres e principalmente drogas, tudo patrocinado pela Camorra, era tanta que não havia como um mero mortal resistir. E nem um Deus. A tragédia do destino se aprofunda na Copa de 1990, quando a Argentina eliminou a Itália em Nápoles, no estádio onde Maradona jogava e onde ele pediu para o povo italiano torcer para a Argentina em vez de sua seleção. A Itália é um país extenso, e cheio de estádios de futebol, e a tragédia quase randômica, em que Itália e Argentina obtiveram resultados nas equipes de chaves que levaram a este desfecho, tem proporções épicas. Uma verdadeira história dos Deuses.

Todas as imagens do filme vem de arquivo, e o material de entrevistas novas serve apenas como base sonora para guiar a narrativa, como se deu em “Amy”. O próprio Maradona depõe no filme, sem aparecer em sua forma atual, e ainda impenetrável.

Avaliação: Ótimo (4 estrelas)

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