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Cannes: “Baradaran-e Leila”, de Saeed Roustaee

Prepare-se para amar e odiar uma família inteira, com uma mulher tentando mantê-la viva e os homens ao seu redor fazem questão de atrapalhar

atualizado

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Festival de Cannes/Divulgação
Leila´s Brothers
1 de 1 Leila´s Brothers - Foto: Festival de Cannes/Divulgação

Inúmeros artigos de filme sobre famílias começam com aquela citação inescapável de Anna Karenina que nem vou citar aqui, só pra ser diferente, mas o filme “Leila´s Brothers” transforma tudo em uma montanha-russa por vezes hilária e outras agoniante. No centro de tudo está a Leila (Taraneh Alidoosti) do título. O título é uma pista interessante. pois se propõe a ser um filme sobre os irmãos dela. Só que este título não tem o nome dos irmãos dela, mas sim o dela. Ou seja, no espaço dela, este corpo maciço de homens acabam atrapalhando tudo, mesmo que não sejam tão importantes quanto ela.

Vamos a estas figuras: Alireza (Navid Mohammadzadeh) perde o emprego numa fábrica logo no começo do filme. Ele parece ser o mais centrado e moral de todos, mas estas qualidades não o impedem de se indignar em seu vitimismo. Farhad (Mohammad Ali Mohammadi) é um taxista com ambições de lutador de luta livre. Parviz (Farhad Aslani) é o homem de família, um faxineiro obeso. E Manouchehr (Payman Maadi) é o que, em vez de trabalhar, está sempre atrás de mais um trambique.

Por cima de todos ainda vemos o pai, Esmail (Saeed Poursamimi) que, além de ter seus próprios defeitos ecoados nos filhos, é obcecado em fingir que a família não está à beira da ruína. Para tal, quer usar as economias de sua vida para comprar o título de patriarca do clã. É um título cultural, que pode levar um pouco de tempo para públicos de fora do Irã a entender. Vale dizer que é uma posição de prestígio, e não necessariamente de fonte de renda. Um primo distante promete ajudar Esmail a se eleger para a tal posição, mas o preço é todo o dinheiro que ele tem: 40 moedas de ouro.

Leila quer usar este dinheiro para abrir um negócio num shopping chique da cidade. Além dela ser a única membra da família a ter um trabalho estável e, por isso, sustentar toda essa machaiada, ainda tenta planejar uma maneira de todos prosperarem. Só que ali ninguém quer trabalhar–além de preguiçosos, vivem iludidos pela promessa de dinheiro fácil, sem trabalhar (ou seja, trambiques).

Filmado em um estilo documentarista, os vais e véns desta pobre mulher, cansada do patriarcado fazendo besteira ao seu redor, é vibrante e surpreendente. Acompanhando tanta gente, o roteiro consegue mexer com a cognição de quem os assistes, por vezes achando que algo vai dar certo, e em momentos seguintes xingando todos os envolvidos. Uma sequencia envolvendo um esquema de leasing de carros é particularmente agonizante.

Além de construir uma família complexa e interessante, o diretor ainda fazer o comentário maior de como as mulheres não tem escolha além de aguentar o machismo. Neste assunto, o filme é quase que uma parábola. Fatores políticos no Irã estão sempre a beira do colapso neste filme, e Roustaee parece refletir que, se uma singela família não consegue trabalhar ou se unir, que esperança teria o país inteiro?

Sim, é difícil não pensar no cinema de Asghar Farhadi e seus dramas familiares. Só que o filme de Roustaee é um contraponto excelente. Farhadi é íntimo enquanto Roustaee é explosivo, comedido vs. fluído, preciso vs. extravagante. Os roteiros de Farhadi parecem ser seguidos à letra, enquanto seria aceitável perceber bastante improvisação pelos atores.

Avaliação: Ótimo (4 estrelas)

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