Artistas do DF usam a internet para fazer espetáculos durante a pandemia
Performances circenses, música, pinturas em tela e mais: não faltam opções aos brasilienses sedentos por cultura durante a quarentena
atualizado
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A arte nunca se fez tão necessária quanto agora, no momento em que o mundo enfrenta a pandemia do novo coronavírus. Isoladas, por vezes sozinhas, pessoas de todas as idades só têm como companhia a poesia das manifestações artísticas. Acostumados com as adversidades de uma carreira que normalmente já apresenta desafios, artistas do Distrito Federal conseguiram se reinventar neste período, descobrir novas plataformas de comunicação com o público e criar meios de manter a renda familiar.
Nos novos tempos, a tecnologia se tornou a grande aliada de músicos, atores, cineastas e artistas plásticos da capital federal. Seja na música, no teatro, nas artes plásticas ou no cinema, opções culturais não faltam para quem está sedento pelo alívio mental experimentado na arte.
O Metrópoles conversou com agentes culturais de Brasília e descobriu ações interessantes que vão melhorar a qualidade da quarentena dos brasilienses.
Circo-Rebote-RED
O casal Érika Mesquita e Carlos Atawalpa faz performance circenses por meio de lives no Instagram Divulgação
Carmen-San-Thiago-RED
Carmen San Thiago, 44 anos, nascida em Rondônia e residente em Brasília há 29 anos, é ilustradora, diretora de arte e artista plástica. Descobriu nas aulas de pintura virtuais uma nova paixão Arquivo Pessoal/ Divulgação
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Morador de Sobradinho, o músico, produtor e porfessor de violão Alberto Salgado também precisou se reinventar durante a pandemia Instagram/ Reprodução
Fred-Magalhães
Diretor geral do grupo Patubatê, Fred Magalhães transformou sua casa num estúdio de edição de vídeos para produzir lives de melhor qualidade Instagram/Reprodução
Tubo de Ensaio
Idealizado pelas produtoras Formiga Produções Artísticas e Três, Quatro, Valendo, o Tubo de Ensaio prepara, entre os dias 11 e 17 de maio, um festival de música on-line, que vai reunir cerca de 28 artistas do Distrito Federal.
Nomes reconhecidos da cena artística local como Emília Monteiro, GOG, Esdras Nogueira, Felipe Cordeiro e Alberto Salgado vão garantir uma programação variada. Os shows virtuais serão transmitidos gratuitamente, porém, uma campanha de arrecadação voluntária vem atrelada à plataforma.
Contribuições, em qualquer valor, serão bem-vindas. Tudo que for arrecadado servirá para remunerar os músicos, a equipe de produção e uma parte será destinada a pessoas em situação de vulnerabilidade social.
Para assistir às transmissões, siga o Tubo de Ensaio no Instagram e Facebook e o canal no YouTube.
Música de cura
Além de ser uma das atrações do Tubo de Ensaio, o músico, cantor, compositor e produtor musical Alberto Salgado também é professor de violão. Com os show cancelados, tem dedicado boa parte do tempo à composição e produção de vídeos. Uma das canções recentes do artista, Cura fala sobre o amor como remédio para o coronavírus. O videoclipe foi gravado com a participações de vários instrumentistas, cada um em suas casas.
“Com a pandemia eu tive de me moldar. Eu continuo fazendo meus shows, só que virtuais, pelas minhas redes sociais. Infelizmente não tem os aplausos calorosos do público, mas ter a tecnologia como aliada já é uma coisa maravilhosa”, ressalta Alberto.
Outra adequação ao período de isolamento foram as aulas de violão que ministrava pessoalmente e passaram a ser realizadas on-line.
Circo Rebote
Formada pelo casal de acrobatas e palhaços Atawallpa Coello e Erika Mesquita, a Cia. Circo Rebote nasceu em 2004 com a proposta de realizar Circo Teatro e espetáculos de rua. Com o isolamento social, os artistas tiveram de interromper a agenda de eventos. “Nós abraçamos muito forte essa vontade de renovar. Aproveitamos que a nossa casa é a sede do circo, e tivemos a ideia de fazer lives de nossas performances”, conta Erika.
As apresentações virtuais acontecem por meio do perfil oficial dos acrobatas no Instagram. A cada espetáculo on-line, o público é convidado a colaborar com o “chapéu virtual” com doações feitas através do Paypal. “Existe sim uma demanda de pessoas interessadas em assistir a nossas performances e, como já viajamos por muitos países, pessoas de fora do Brasil também contribuíram bastante”, completa a artista.
No próximo dia 16 de maio, a partir das 17h, o casal de palhaços realizará mais uma live-espetáculo. A transmissão acontecerá no Instagram e a filmagem, posteriormente, será publicada no YouTube. “Imagino que, mesmo após tudo voltar à normalidade, continuaremos a utilizar essa ferramenta, pois ela tem nos aproximado ainda mais do público”, disse Erika.
Aipim na Fogueira
Aipim na fogueira é uma live-espetáculo de teatro e circo criada por Davi Maia, o palhaço Aipim — integrante da Trupe Raiz do Circo e Circo Fulerage. Durante a apresentação, o artista faz, entre outros, performances com malabares.
Em seu perfil no YouTube, ele falou sobre a importância do apoio popular nessas lives. “É muito importante a presença do público, dos amigos, nessas apresentações. Público é uma peça essencial ao ciclo do artista, e o valor disso, edital e auxilio emergencial nenhum podem dar”, garantiu.
Nas descrições das publicações, Aipim tem deixado o número da conta para quem puder contribuir financeiramente com a performance virtual. “Como artista de rua, tenho tido dificuldades em conseguir renda durante este cenário pandêmico. Então, a quem já conhece e confia no meu trabalho, deixo aqui meu chapéu virtual aberto”, desabafou o palhaço.
Percussão virtual
No começo, foi um baque para Fred Magalhães, músico e diretor geral do Patubatê, ver toda a agenda de shows de 2020 cancelada, inclusive com turnês em palcos internacionais. “Estávamos voltando da Colômbia e com contratos assinados para apresentações em cidades das regiões Sul e Nordeste. Nossa renda foi cortada 100%”, conta o percussionista.
Fred, então, encontrou diversas maneiras de continuar fazendo música e ser remunerado por isso. Uma delas é a composição, produção e venda de ritmos sob encomenda para os clientes homenagearem seus entes queridos. “Eu pego o nome e informações sobre a pessoa e faço o som. Uso os instrumentos do Patubatê e faço um vídeo onde conto quem está oferecendo aquele ritmo para ela”, explica. O presente inusitado tem agradado.
Para completar o orçamento do mês, o músico também dá aulas on-lines particulares de diversos instrumentos. Fred também recebeu convite de instituições de ensino para criar conteúdo virtual de educação musical para turmas infantis. “A gente vai se virando, sobrevivendo como dá”, ressalta.
Cores, traços e técnicas…
Antes do coronavírus, a artista plástica Carmen San Thiago, 44 anos, trabalhava com cinema. Em 2019, recebeu o Troféu Cactos de ouro do 14º Encontro Nacional de Cinema e Vídeo dos Sertões como a melhor direção de arte de curta metragens. O currículo premiado rendia-lhe, também, diversos trabalhos em seu ateliê, agora, todos parados.
Acostumada a trabalhar em casa, Carmen tinha o ano de 2020 já todo programado. Nos períodos sazonais, se dividia em dar aulas, produzir ilustrações e pintar quadros para fazer exposições e tentar vendê-los.
Com o isolamento, o único trabalho que permaneceu foram as ilustrações. “Isso porque os contratos já estavam assinados com as cooperativas”. A artista plástica passou a receber encomendas de pinturas que algumas pessoas compram para presentear outras. “Isso tem ajudado bastante a pagar os boletos”, conta.
Mas a nova paixão, descoberta por acaso, são as aulas de técnicas de pintura ministradas virtualmente. “Eu passei a postar vídeos nas redes sociais. Numa dessas publicações, uma amiga me pediu para tirar dúvidas que ela tinha para finalizar um quadro e logo veio a ideia do curso pela internet”, relembra Carmen que já conta com três alunos particulares.
“Tem sido bem interessante. Pretendo me aprimorar com os vídeos e colocar algumas dicas no meu canal do YouTube“, adianta.
