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Vídeo: Ari Lima volta à UnB e tem episódio de racismo questionado

Ari Lima foi vítima de racismo em 1998 e o caso resultou na criação do sistema de cotas da universidade

atualizado

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Hugo Barreto/Metrópoles
Pessoa andando em corredor
1 de 1 Pessoa andando em corredor - Foto: Hugo Barreto/Metrópoles

Arivaldo Lima, ex-aluno da Universidade de Brasília (UnB) – conhecido por ter sido o motivo inicial para a criação do sistema de cotas – voltou à universidade para participar de uma conferência. Durante o evento, o episódio de racismo que ocorreu com ele em 1998 foi questionado por uma professora que estava na plateia e o caso repercutiu nas redes sociais.

A conferência foi realizada em 16 de novembro. Em certo momento, o público pôde direcionar perguntas a Ari. Foi quando uma mulher, identificada como professora do Departamento de Antropologia (DAN) da UnB, pediu a palavra e começou a questionar o episódio de racismo que Ari sofreu em 1998.

Ela dava a entender que Ari não teria sido reprovado por questões raciais. “Você atribui essa tentativa de exclusão à questão racial, exclusivamente?”, questionou.

“Eu era sua colega também. Eu, como outras pessoas, poderíamos ser vistas como negras também. Como colega do Ari, eu sempre soube que as coisas eram mais complexas do que isso”, completou.

Ela começou a citar supostas reprovações anteriores de Ari. Porém, a professora foi interrompida pelos participantes do evento.

Veja o vídeo da conferência:

Carta de ex-estudantes

Após o ocorrido, ex-estudantes do Departamento de Antropologia da UnB publicaram uma carta aberta de solidariedade aos estudantes negros da instituição.

“Prestamos nossa solidariedade a esses discentes e dizemos: vocês não estão sozinhos, como muitos de nós nos sentimos quando a presença negra, indígena e de estudantes de baixa renda nas pós-graduações era ínfima. Estendemos nosso carinho e solidariedade a Ari, que é um símbolo na luta contra o racismo e sua perversidade nas universidades brasileiras. A violência da qual foi vítima motivou a aprovação das cotas raciais na UnB, primeira universidade federal a implementar a política, em 2003”, diz o texto.

Os ex-estudantes também defenderam o sistema de cotas implementado na UnB. “Qualquer justiça só pode vir daí e não do questionamento à violência racial sofrida por um homem negro.”

Em nota, o DAN reafirmou a luta contra o racismo e criou uma comissão para enfrentar  a questão. “[…] o colegiado deliberou pela constituição de uma comissão para elaboração de um programa de reconhecimento, combate e reparação do racismo estrutural no âmbito do DAN com o objetivo de identificar as práticas e dispositivos que contribuem para sua reprodução e propor recomendações para seu enfrentamento.”

A história de Ari Lima

Em 1998, Arivaldo Lima era estudante do curso de doutorado do Departamento de Antropologia da UnB e foi reprovado em uma disciplina. Ele foi o primeiro aluno da pós-graduação a ser reprovado.

Dois anos depois, a UnB reviu a nota de Ari e ele foi aprovado, por falta de justificativas para a nota baixa. O caso motivou o orientador de Ari a elaborar o sistema de cotas, implementado em 2003 na universidade.

Com isto,  a UnB foi a primeira instituição de ensino superior federal do país a implementar cotas. Atualmente, Ari é professor do Programa de Pós-Graduação em Crítica Cultural da Universidade do Estado da Bahia (Uneb).

O Metrópoles tentou contato com a Uneb e com Ari, mas, até a última atualização desta reportagem, não havia obtido retorno. O espaço segue aberto para eventuais manifestações.

Resposta da UnB

Em nota, a Reitoria da UnB repudiou todo e qualquer ato de racismo, violência ou intolerância. “A UnB tem orgulho de ser pioneira na implantação do sistema de cotas raciais, em 2003”, diz o texto. A universidade também afirmou que não há queixa formal sobre o ocorrido com Ari na conferência.

“A instituição sempre foi um ambiente de promoção de ações afirmativas com foco na missão de ser um agente transformador por uma sociedade mais justa e igualitária”, completa a nota.

“Neste sentido, a UnB tem dado passos para fortalecer os Direitos Humanos nos campi. Uma das últimas ações, foi a criação da Secretaria de Direitos Humanos (SDH). Entre as atribuições da SDH estão campanhas de conscientização, capacitação de servidores da universidade para atenção, respeito e acolhimento da diversidade e implementação de políticas afirmativas.”

A professora que aparece no vídeo é Kelly Silva, do Departamento de Antropologia (DAN). Após o episódio, ela pediu desculpas e disse que não teve intenção de violentar o colega, se retratou e afirmou ter “compromisso com o contínuo aprendizado”.

“Peço minhas sinceras desculpas ao colega professor doutor Ariovaldo de Lima Alves, aos membros do Coletivo Zora Hurston e a todos e todas que, involuntariamente, violentei ou insultei em razão da questão e comentários por mim realizados”, publicou.

Kelly também escreveu um agradecimento a quem a fez “compreender os impactos não intencionais das falas” e “propiciaram a expansão da compreensão sobre a reprodução do racismo em nossa sociedade”. “Como mulher negra, filha da classe trabalhadora e, por isso, também vítima de múltiplas violências, reafirmo meu compromisso com o contínuo aprendizado, autocrítica e ações para construção de um mundo mais justo”.

 

 

 

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