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Surto de doenças contagiosas na Papuda já atinge 1.110 detentos

Sesipe fez nova triagem e detectou mais 410 casos: inicialmente eram 700. Parentes relatam ter que levar pomadas a familiares presos

atualizado

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Arquivo Pessoal
doenca de pele
1 de 1 doenca de pele - Foto: Arquivo Pessoal

A estimativa de que pelo menos 700 presos estavam infectados com doenças de pele no Complexo Penitenciário da Papuda foi atualizada. Agora, o número de casos saltou para 1.110. A Secretaria de Segurança Pública e da Paz Social (SSP-DF) fez nova triagem entre os internos do Centro de Detenção Provisória (CDP) e da Penitenciária do Distrito Federal 1 (PDF 1), detectando haver 350 e 760 casos, respectivamente, nessas unidades. Além disso, o número de doenças infecciosas que acometem a população carcerária também é maior.

Em princípio, os técnicos do Governo do Distrito Federal suspeitavam que os detentos estavam com duas moléstias: impetigo e sarna. Segundo informações da Subsecretaria do Sistema Penitenciário (Sesipe), embora o impetigo não tenha sido confirmado, a nova triagem comprovou ainda ocorrências de tineas (micose), pitiríase e furunculoses. Todas são doenças altamente contagiosas, que provocam coceira, feridas e bolhas purulentas na pele.

Assim como a sarna, também conhecida como escabiose, as outras três doenças são infecções de pele. A tinea é provocada por um fungo e causa erupções cutâneas em formato circular. A pitiríase acarreta manchas e coceiras, e a furunculose faz eclodir uma série de furúnculos.

Todas as unidades prisionais do Distrito Federal estão passando por triagem. Os médicos realizam a consulta com os detentos, verificam se eles estão com alguma doença de pele, passam a medicação nos pacientes em casos que forem diagnosticados e dão orientações de higiene, como a lavagem de mãos

Trecho de nota divulgada pela Sesipe

Ajuda de casa
Parentes dos detentos, no entanto, contam que está sendo exigido um suporte externo, das famílias, para o tratamento. Alguns receberam uma lista de remédios (veja abaixo) que deveriam levar para os parentes. O problema é que na PDF 1 e no CDP esses materiais não podem entrar. Então, segundo relatos de esposas dos presos, houve transferências de detentos infectados para a Penitenciária do Distrito Federal 2 (PDF 2), onde o ingresso dessas substâncias é autorizado.

Reprodução
Lista de remédios entregue aos familiares

 

“Meu marido saiu da PDF 1 e agora está na PDF 2. Levei pomada e remédio para ver se ele melhora. Eu também peguei a doença de pele. Fui ao médico. Ela passou uma pomada e estou bem melhor. Mas aqui fora é mais fácil, né?”, diz a mulher de um interno que preferiu não se identificar.

Problema detectado
O Metrópoles denunciou o caso de doenças de pele altamente contagiosas na Papuda, até entre os visitantes, em 13 de julho. Na ocasião, os relatos dos familiares revelavam que, devido às condições sanitárias precárias, os presos haviam adquirido doenças, mas não estavam sendo tratados.

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Em princípio, a Sesipe informou somente casos de impetigo. Depois de investigação e triagem, os diagnósticos foram aumentando e outras doenças acabaram encontradas: o impetigo, por sua vez, acabou descartado. Porém, em maio, a Vara de Execuções Penais (VEP) já havia recebido denúncias anônimas sobre um possível “surto de doenças de pele” em unidades dentro da Papuda. A Juíza titular da VEP, Leila Cury, mandou um ofício à Sesipe e pediu celeridade nas informações.

A juíza também oficiou a Secretaria de Saúde para fornecer as medicações aos detentos ou, em caso de falta, que a VEP fosse comunicada para adotar as medidas necessárias. O Ministério Público do Distrito Federal também começou a investigar e acompanhar as ocorrências das doenças de pele.

Higiene preventiva
Nesta semana, a sessão DF da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-DF) se pronunciou sobre o caso. Pediu, por meio de ofício, que a Secretaria de Segurança Pública e Paz Social encaminhasse à entidade explicações das medidas que estaria adotando para conter o surto. Segundo a OAB-DF, a integridade física dos internos está comprometida, assim como o convívio e a visitação dos familiares.

O ofício foi encaminhado na última quarta-feira (19/7), mas até o momento a OAB não recebeu resposta alguma. “É importante acompanharmos de perto como esse surto está sendo contido. Em uma questão mais ampla, é preciso garantir que essas doenças não voltem a atingir os presos”, afirmou o presidente da Comissão de Direitos Humanos da entidade, Daniel Muniz.

O MPDFT continua acompanhando as ações do GDF para controle do problema. Em 17 de julho, recebeu relatório da Gerência de Saúde Prisional, que informou sobre a realização de mutirões para diagnóstico e tratamento dos casos, além de ter formulado série de recomendações aos gestores do sistema prisional para evitar o surto de dermatopatias.

Com base neste relatório, o Nupri —Núcleo de Controle e Fiscalização do Sistema Prisional — oficiou a Subsecretaria do Sistema Penitenciário do DF e os diretores de todos os presídios para assegurar que as ações para resolução do problema sejam efetivamente realizadas

Trecho de nota divulgada pelo Ministério Público

Algumas das medidas exigidas são: “garantir o banho de sol diário e a manutenção de estoque de medicamentos apropriados para o tratamento, assim como possibilitar a lavagem da roupa de cama diariamente (com secagem ao sol) e a correta higienização das algemas e das mãos dos presos e agentes após as escoltas”.

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