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Sejus vai documentar 200 mil notas de serviços funerários no DF

Secretaria de Justiça criou comissão para catalogar os documentos emitidos nos cemitérios do DF desde 1960

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Ele se chama Evilásio. Tem uns quarenta anos, mora em Vicente Pires. Chegou ao balcão da Subsecretaria de Assuntos Funerários (SUAF) da Secretaria de Justiça e Cidadania do DF (SEJUS) enviado pela empresa que cuida do Campo da Esperança. Procura um documento de setembro de 1994, quando sua família seu despediu de Dona Ana, sua mãe.

Ele se chama Kaissar. Já viveu em vários lugares do mundo, e seu expediente agora se dá num lugar que por muito tempo também foi sinônimo de viagem: a antiga Rodoferroviária de Brasília. É lá que, há mais de um mês, não larga a máscara, mexe e remexe em caixas, exatas 213, que contêm um testemunho da história de Brasília: seus mortos.

São mais de 200 mil notas fiscais do serviço funerário do Distrito Federal. Desde 1960, escritas à mão, nem sempre legíveis, nem sempre em bom estado, mas preservadas. Quase que milagrosamente depois de passar por vários endereços e depósitos públicos.

Quando Kaissar termina de digitalizar os documentos, deixando para depois aqueles mais danificados, entram em cena Aline, Matheus, Gabriel, até mesmo Maria Luiza, a estagiária, para nomear, datar e organizar os arquivos. Um trabalho em grupo para, às vezes, tentar decifrar nomes que atestam que Brasília acolheu gente do mundo inteiro, alguns com patrônimos exóticos.

Evilásio não sabe deste trabalho que demorou quase 60 anos para começar, mas não escondeu a agradável surpresa de receber em poucos minutos a cópia da nota fiscal do jazido de Dona Ana comprado há 25 anos. Ele agora vai poder regularizar o período da concessão junto à empresa privada que recebeu a outorga de cuidar dos seis cemitérios do DF em 2002. O balcão da SUAF recebe assim mais de 120 pessoas por mês, procurando documentos que eles achavam não poder encontrar nunca mais.

 

O Subsecretário José Carlos Medeiros. Foto: Jacqueline Lisboa/Especial para o Metrópoles
Um delegado apaixonado por história

Quando o doutor José Medeiros chegou à Subsecretaria em agosto deste ano, ele não se deixou impressionar pelo assunto da pasta. O delegado agora aposentado da Polícia Civil aplicou as mesmas receitas que outrora na 38ª Delegacia de Polícia (Vicente Pires) ou à frente do  da Central de Atendimento e Despachos (CIADE) que ele ajudou a reestruturar para virar o atual Centro Integrado de Operação de Brasília (CIOB) antes de chefiá-lo.

Mal sentado na última sala do prédio da antiga rodoferroviária, que abriga a SEJUS, Medeiros lançou seus planos de metas mensais, semestrais, anuais e até quinquenais para os próximos cinco anos. Com direito a relatórios detalhados, com centenas de páginas.

Mas seu lado metódico também deixou lugar a uma conexão pessoal com a pasta. Ali, o serviço ao público é especial, porque quem está do outro lado do balcão lida com emoções, com homens e mulheres que passam por um momento doloroso de perda de um parente muito próximo. O mesmo momento que experimentou o Subsecretário com a morte de seu pai há poucos meses.

O primeiro documento, 01/01/1960. Foto: Jacqueline Lisboa/Especial para o Metrópoles

Apaixonado confesso por história, ele logo se interessou pelos arquivos guardados nas duas centenas de caixas. E criou uma comissão especial, oficialmente formada por quatro de seus dez subordinados, mas na qual todo mundo está envolvido, até mesmo seu braço direito Nilson, que se desdobra também com os preparativos do dia de Finados, onde mais de 400 mil visitantes estão esperados nos cemitérios do DF.

Utilizando uma palavra que possa talvez soar estranho para este dia, Medeiros diz que é uma festa. A festa do reencontro entre pessoas queridas, separadas no resto do ano pelo ritmo cada vez mais rápido da cidade, do trabalho, da vida ativa. Um dia para rememorar, sem nostalgia, com o carinho da lembrança de bons momentos.

Está no plano de metas: a digitalização deve terminar até meados de março do ano que vem. Ainda sobrarão alguns documentos que precisarão passar por reconstituição de profissionais da área. Mas certamente haverá a felicidade de toda a equipe de ter permitido a centenas, milhares de Evilásios completar a história de suas famílias. Uma página será virada, mas o livro continua.

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