Presas na Papuda, travestis ainda comandam prostituição em Taguatinga

Organização criminosa foi desarticulada durante a Operação Império, desencadeada em setembro, que resultou na prisão de 11 travestis

Carlos Carone
Compartilhar notícia

Mesmo após ser desarticulada pela Polícia Civil durante a Operação Império, uma organização criminosa formada por travestis continua operando no Distrito Federal. Apesar de presas em uma ala especial do Centro de Detenção Provisória (CDP), no Complexo Penitenciário da Papuda, as cafetinas ainda comandam a exploração sexual nas ruas de Taguatinga Sul. Para manter o controle sobre a região, suspeitos têm promovido espancamentos e extorsões.

Todas as 11 travestis presas durante a ação, deflagrada em 26 de setembro deste ano, permanecem encarceradas em duas celas. O grupo foi dividido porque as integrantes compõem facções rivais. Atualmente, membros das quadrilhas utilizam emissários para levar as ordens de cobrança, ameaças e também arrecadar o dinheiro recolhido com os programas sexuais.

De acordo com informações apuradas pelos investigadores da Delegacia Especial de Repressão aos Crimes por Discriminação Racial, Religiosa ou por Orientação Sexual ou contra a Pessoa Idosa ou com Deficiência (Decrin), pelo menos cinco cafetinas estão presas, mas ainda se intitulam “donas das ruas”.1/8
Em 26 de setembro, policiais cumpriram 11 mandados de prisão preventiva
Cinco cafetinas foram presas
A movimentação foi intensa na delegacia
O grupo praticava crimes graves na região de Taguatinga
A operação também contou com a participação de equipes do Departamento de Polícia Especializada (DPE) e das Divisões de Operações Especiais (DOE) e Aéreas (DOA) da Polícia Civil do DF
Cinco carros também foram apreendidos

 

Pagamento e hospedagem
Segundo as denúncias feitas à Decrin, certos visitantes se encontram com as travestis no chamado parlatório – local onde presos e visitas conversam por meio de telefones instalados em cabines – e recebem as ordens a serem cumpridas pelas mulheres que permanecem nas ruas. Mesmo da Papuda, as cafetinas, donas das hospedarias onde os grupos ficam, cobram comissão por cada programa.

De acordo com a delegada-chefe da Decrin, Gláucia Cristina da Silva, as aliciadoras tentam mascarar a exploração sexual, vinculando o pagamento recebido às diárias pela hospedagem.

Como elas ainda possuem as casas onde as travestis dormem, cobram R$ 50 em dias úteis e R$ 70 nos fins de semana. No entanto, sabemos que elas recebem esse valor duplicado, por conta de cada programa feito nas ruas próximas às pensões

Gláucia Cristina da Silva, delegada

Além de explorá-las sexualmente, mesmo atrás das grades, as cafetinas extorquem essas mulheres durante a permanência nas hospedarias. Brigas são punidas com multas altíssimas. “Elas cobram valores inventados na hora, como R$ 1 mil por eventuais desentendimentos. Fatos corriqueiros, como quebrar um copo ou utensílio, também são cobrados”, afirmou a delegada.

Cabelos cortados como punição
A cobrança financeira não é a única forma de coagir outras travestis: dependendo do caso, o castigo pode ser obrigá-las a cortar os cabelos.

“Entre elas, esse é um dos maiores medos. É uma vergonha muito grande para o grupo, é como se tivessem a imagem destruída”, ressaltou Gláucia Cristina da Silva.

Silicone industrial
As cafetinas ainda contam com uma estrutura precária para a aplicação de silicone industrial nas vítimas. Além dos riscos à saúde, elas pagam altos valores pelo serviço. Segundo as investigações, as líderes da organização criminosa compram os produtos por cerca de R$ 35 o litro. No entanto, cobram até R$ 500 por uma aplicação.

Material apreendido pela PCDF: silicone industrial injetado nas travestis

 

Como as mulheres aliciadas pagam por aplicações de um litro em regiões do corpo como cintura, nádegas e seios, podem desembolsar até R$ 2 mil pelo procedimento de risco. “Além disso, a chance de terem complicações para a saúde é agravada pela aplicação de hormônios femininos trazidos clandestinamente do Paraguai, sem qualquer controle sanitário”, comentou a delegada.

Gláucia Cristina da Silva ressaltou ainda que a operação não é contra a prostituição, mas sim para coibir a exploração das travestis. “Essas pessoas acabam vivendo em situação análoga à escravidão”, comparou. “Queremos protegê-las, no sentido de que possam ser livres. Vamos começar a campanha ‘A Rua é Livre’. Com isso, também pretendemos dar um basta na situação calamitosa da briga por pontos de prostituição”, completou.

Sair da versão mobile