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Cláudio Monteiro, o arrecadador de propina no submundo da Copa

Monteiro foi policial civil, distrital, chefe de gabinete de Agnelo e secretário do GDF. Homem-forte do petista, está preso com o aliado

atualizado

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Michael Melo/Metrópoles
claudio monteiro
1 de 1 claudio monteiro - Foto: Michael Melo/Metrópoles

As devastadoras delações de executivos da empreiteira Andrade Gutierrez levaram para a cadeia figurões da política do Distrito Federal e personagens que, embora aparecessem menos sob os holofotes, atuavam com destaque nos bastidores. Um deles é Cláudio Monteiro — conhecido como Cláudio Buchinho —, homem-forte do ex-governador Agnelo Queiroz (PT) ao longo da carreira pública do petista. Companheiro de projetos e de falcatruas, Monteiro tinha papel central nos desvios de recursos públicos do Estádio Nacional de Brasília Mané Garrincha, remodelado para a Copa do Mundo de 2014.

Agente aposentado da Polícia Civil, Cláudio Monteiro foi o primeiro distrital eleito com votos de colegas de corporação. Na época filiado ao PRP, fez parte da Legislatura inaugural da Câmara Legislativa, entre 1991 e 1994, ao lado de Agnelo Queiroz, eleito pelo PCdoB. Na terça-feira (23/5), ambos estavam entre os 10 presos pela Polícia Federal por suspeita de desvios na reforma do Mané Garrincha.

O esporte, aliás, uniu a dupla. Após uma segunda temporada na CLDF, desta vez pelo PDT, Monteiro foi chefe de gabinete de Agnelo Queiroz entre 2003 e 2006, quando o amigo comandou o Ministério do Esporte no governo Lula. Em 2007, Agnelo deixou a pasta e assumiu a chefia da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Cláudio Monteiro foi atrás. Naquele período, manteve uma relação próxima a Rafael Barbosa, que viria a ser secretário de Saúde do DF na gestão de Agnelo.

Monteiro pegou carona na ascensão de Agnelo, que, já filiado ao PT, venceu a corrida pelo Governo do DF em 2010. No Buriti, Cláudio Buchinho era o chefe de gabinete do petista. Em abril de 2012, entretanto, sofreu um baque e foi afastado do cargo por suspeita de receber uma espécie de “mesada” do bicheiro Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira.

Agnelo foi forçado a exonerar o amigo, mas ficou sensibilizado. Em junho de 2012, Buchinho teve de se explicar à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que investigava a atuação de Cachoeira com políticos. Gravações interceptadas pela Polícia Federal indicaram que Monteiro tinha influência em contratos e nomeações de interesse do grupo do bicheiro.

Em quatro horas de depoimento, Monteiro, que havia apresentado um habeas corpus para ficar calado, decidiu se defender. Negou as acusações, entregou os sigilos bancários dele e dos filhos. Ele ainda chorou negando qualquer irregularidade.

Veja o depoimento dele à CPMI

 

Reviravolta em campo
Como o escândalo nunca foi provado, Monteiro voltou ao GDF em setembro de 2012. Daquela vez, na condição do todo-poderoso chefe da Secretaria Extraordinária da Copa.

Quando as obras do Mané Garrincha começaram, Monteiro tinha um espaço reservado na praça desportiva. O secretário despachava diretamente do estádio, em uma espécie de contêiner, onde recebia políticos, empreiteiros e até times de futebol para organizar a agenda dos eventos-teste.

Com um empurrãozinho do amigo…
Foi naquela época que começou a receber propina da Andrade Gutierrez (AG), uma das empreiteiras responsáveis pelo Mané Garrincha. Segundo a delação de Rodrigo Leite Vieira, funcionário da construtora, o próprio governador intercedeu por Monteiro. A pedido de Agnelo, a AG pagou R$ 250 mil de propina “em razão dos problemas financeiros” do ex-chefe de gabinete.

As informações constam em inquérito que apura desvios milionários no Mané Garrincha, aberto na 10ª Vara Federal de Brasília. “Foram realizadas cinco entregas de R$ 50 mil cada. A primeira se deu no Balão do Periquito, no Gama, próximo à residência de Monteiro, e as demais no estacionamento em frente ao Living Park Sul e no Estádio Nacional de Brasília”, diz o documento que o Metrópoles teve acesso.

Em setembro de 2014, já no fim do governo Agnelo Queiroz, a secretaria que cuidava dos assuntos da Copa foi extinta, e Cláudio “Buchinho” Monteiro assumiu a pasta de Turismo. O órgão, então, ficou responsável pelas operações do estádio. Antes do fim do governo Agnelo, ainda comandou a Secretaria de Justiça, seu último cargo público.

 

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Irmão ostentação
Na época da Copa de 2014, outra pessoa muito próxima a Cláudio “Buchinho” Monteiro se tornou conhecida da população do DF. Em junho daquele ano, a revista Veja Brasília revelou que o secretário tinha um “irmão ostentação”: o então diretor administrativo do Hospital Regional do Gama, Lincoln Monteiro. Embora naquele tempo tivesse salário líquido de R$ 10,4 mil, ele aparecia, nas redes sociais, em carros conversíveis, jet skis e lanchas no Lago Paranoá. Os bens, segundo Lincoln, eram de parentes e amigos.

Agora, aos 58 anos, o ex-secretário da Copa do Mundo no DF está preso na sede da Polícia Federal. Até que a prisão temporária de cinco dias vença, ele dividirá a cela com Agnelo Queiroz e Tadeu Filippelli, também preso no âmbito da Operação Panatenaico.

Ao pedir a prisão de Buchinho, a delegada da Polícia Federal Fernanda Costa de Oliveira ressaltou que o acusado “teria recebido, a pedido de Agnelo, o valor de R$ 250 mil”. Por essa razão, a delegada quer que ele responda pelos crimes de corrupção passiva, lavagem de dinheiro e associação criminosa.

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