A Polícia Federal (PF) desencadeou operação, neste sábado (6/8), contra pesca ilegal no Vale do Javari, no Amazonas, e cumpriu sete mandados de prisão, expedidos pela Justiça Federal. Entre os presos, estão três suspeitos de participação na ocultação dos corpos do indigenista Bruno Pereira e do jornalista Dom Phillips, assassinados em 5 de junho na região.
Os alvos da ação são integrantes de um grupo que atua com pesca ilegal na terra indígena Vale do Javari e imediações. Segundo a PF, eles são ligados a Amarildo Oliveira, o Pelado — denunciado pelo Ministério Público Federal (MPF) por ter participado do assassinato de Bruno e Dom —, e a Ruben Villar, o Colômbia, investigado por esquema de pesca na área.
As prisões preventivas foram solicitadas pelo MPF e deferidas pela Justiça, com o objetivo de apurar a participação dos investigados em organização criminosa que financia e pratica a pesca ilegal na região, inclusive dentro de terra indígena.
A pesca clandestina do pirarucu ocorre com frequência na localidade. O peixe é uma das carnes mais apreciadas do país, especialmente na Região Norte. A reserva indígena no Vale do Javari seria invadida constantemente por pescadores irregulares. Os criminosos faturariam cerca de R$ 100 por cada quilo do pescado vendido.

Em 5 de junho de 2022, o jornalista Dom Phillips e o indigenista Bruno Pereira viajavam juntos para que Dom realizasse entrevistas para o livro que escrevia sobre a preservação da AmazôniaPhoto by Victoria Jones/PA Images via Getty Images

Naquele dia, eles foram vistos pela última vez na comunidade ribeirinha São Rafael, pela manhã, e saíram em direção ao município de Atalaia do Norte, seguindo pelo rio ItaquaíArquivo pessoal

Contudo, nesse percurso, os dois desapareceram. As equipes de vigilância indígena da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja) fizeram as primeiras buscas, sem resultadosDivulgação

No dia seguinte, a Univaja emitiu comunicado informando, oficialmente, o sumiço dos homens. Em seguida, equipes da Marinha, Polícia Federal, Ministério Público Federal e do Exército foram mobilizadas e deram início a uma operação de busca Reprodução/Redes sociais

Em 8 de maio, a força-tarefa efetuou a prisão do primeiro suspeito pelo desaparecimento: Amarildo da Costa de Oliveira, conhecido como Pelado. Vestígios de sangue foram encontrados na lancha de Amarildo após perícia da Polícia Federal Arquivo pessoal

Em 12 de junho, uma semana depois, mochilas com os pertences pessoais de Dom e Bruno foram encontradas. Não muito tempo depois, Oseney da Costa de Oliveira, conhecido como “Dos Santos”, irmão de Pelado, foi preso sob suspeita de envolvimento no crimeReprodução/Redes sociais

Em 15 de junho, Pelado narrou à Polícia Federal que a perseguição à lancha na qual Bruno e Dom estavam durou cerca de 5 minutos. Jeferson Lima, outro envolvido no crime, teria atirado contra o indigenista, que revidouPhoto by Victoria Jones/PA Images via Getty Images

Bruno, no entanto, foi acertado e perdeu o controle da embarcação, que entrou mata adentro. Depois disso, Pelado e Jeferson teriam ido até a lancha e executado os dois Material cedido ao Metrópoles

Os suspeitos, então, teriam retirado os pertences pessoais das vítimas do barco em que estavam e o afundaram. Em seguida, queimaram os corpos de Dom e BrunoRedes sociais/reprodução

A tentativa de ocultação, porém, não teria dado certo. Jeferson e Amarildo retornaram no dia seguinte, esquartejaram os corpos e os enterraram em um buraco escavado. A distância entre o local em que os pertences foram escondidos e onde os corpos foram enterrados é de 3,1 kmDivulgação/Polícia Federal

Depois de fazer uma reconstituição do caso junto a Amarildo, a força-tarefa anuncia ter encontrado “remanescentes humanos” que, mais tarde, se confirmariam como os corpos de Dom e BrunoReprodução/Redes sociais

Em 16 de junho, os corpos chegaram a Brasília para realização de perícia e confirmação de identidade. Dois dias depois, a polícia prendeu Jeferson da Silva Lima, conhecido como Pelado da DinhaIgo Estrela/Metrópoles

Em 19 de junho, a polícia informou ter identificado outros cinco suspeitos que teriam atuado na ocultação dos cadáveres. Segundo a PF, “os executores agiram sozinhos, não havendo mandante nem organização criminosa por trás do delito”Reprodução/Twitter/@andersongtorres

O exame médico-legal indicou que a morte de Dom Phillips foi causada por traumatismo toracoabdominal por disparo de arma de fogo com munição típica de caçaPhoto by Victoria Jones/PA Images via Getty Images

A morte de Bruno Pereira foi causada, segundo os peritos, por traumatismo toracoabdominal e craniano por disparos de arma de fogo com munição típica de caça, “que ocasionaram lesões no tórax/abdômen (2 tiros) e face/crânio (1 tiro)”Funai/Divulgação

Bruno era considerado um dos indigenistas mais experientes da Funai. Ele dedicou a carreira à proteção dos povos indígenas. Nascido no Recife, tinha 41 anos. Ele deixa esposa e três filhosReprodução

Dom Phillips, 57 anos, era colaborador do jornal britânico The Guardian. Ele se mudou para o Brasil em 2007 e morava em Salvador, com a esposaTwitter/Reprodução
Presos
Pelado e Colômbia estão presos preventivamente em Manaus. O primeiro, pela participação no duplo homicídio. O segundo, por uso de documentos falsos — Colômbia tem documentos de identificação do Brasil, do Peru e da Colômbia.
Em 21 julho, o Ministério Público denunciou três pessoas pelos assassinatos de Bruno e Dom. A iniciativa do MPF foi recebida pela Justiça Federal em Tabatinga (AM), o que fez com que os três envolvidos se tornassem réus.