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Pesquisa mostra idade, sexo e cidade dos 2 mil desaparecidos no DF

Em média, a Polícia Civil registra cinco sumiços por dia na capital do país. DNA é a nova arma para resolver casos

atualizado

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Arte/Metrópoles
Arte sobre desaparecidos
1 de 1 Arte sobre desaparecidos - Foto: Arte/Metrópoles

Após quatro dias longe da família, Marcos Roberto Desidério dos Santos, 45 anos, foi localizado pela Polícia Militar, em Samambaia, e encaminhado ao hospital na última terça-feira (15/2). Bastante agitado e desorientado, o homem, que sofre com problemas psiquiátricos, saiu de casa, em Ceilândia, levando apenas uma mochila e deixando os familiares desesperados.

O drama vivido pelo brasiliense se repetiu com 2.042 crianças, adolescentes e adultos que moram no Distrito Federal. Em média, a Polícia Civil registra cinco casos de desaparecidos por dia. O dado consta no último levantamento feito pela Secretaria de Segurança Pública e corresponde ao período de janeiro a dezembro de 2021.

As características de Marcos Roberto também reforçam o perfil predominante dos desaparecidos: 64% são do sexo masculino. Desses, 733 têm entre 31 e 50 anos.

De acordo com o estudo, é comum o sumiço de adultos devido ao uso de drogas. Há, ainda, os casos conhecidos como “involuntários”, que ocorrem a vítimas de crimes com restrição de liberdade, homicídios, acidentes e crise psiquiátrica. Com relação aos adolescentes, o principal motivo é a fuga devido a conflitos familiares, violência doméstica e uso de entorpecentes.

Outro fato observado pelas autoridades foi o desaparecimento reincidente. No último ano, cinco adolescentes de 12 a 17 anos fugiram da casa dos pais três vezes. Outros 20 menores deixaram o lar duas vezes.

Das 2.042 pessoas desaparecidas em 2021, 1.732 foram localizadas entre janeiro de 2021 e 23 de fevereiro de 2022, ou seja 84,8% do total. Ainda há 15,2% desaparecidas.

O balanço traz outros detalhes que ajudam a retratar tal cenário. Dados apontam a região de Ceilândia como líder em ocorrências. No ano passado, foram registrados 284 casos. A segunda posição ficou com Taguatinga (174), seguida de Samambaia (154), Planaltina (145) e Recanto das Emas (129).

“Nota-se que as 10 regiões administrativas com maior incidência representam 65% do total das pessoas desaparecidas no ano de 2021 e são cidades com as menores rendas per capita do DF, exceto Brasília e Taguatinga”, observou a SSP ao elaborar o estudo.

No período de janeiro a dezembro de 2020, a média mensal foi de 165 pessoas desaparecidas, enquanto no ano de 2021, essa média ficou em 172. Variação para mais de 4%.

Pistas no DNA

A partir de junho do ano passado, parentes de pessoas sumidas passaram a contar com um novo aliado para localizar os familiares: o DNA. O material genético é coletado no Instituto de Pesquisa de DNA Forense (IPDNA), da Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF).

Instituto de Pesquisa de DNA Forense (IPDNA)
Instituto de Pesquisa de DNA Forense (IPDNA)

 

A amostra é processada e os perfis genéticos obtidos são inseridos no banco de dados do instituto e de toda a Rede Integrada de Bancos de Perfis Genéticos (RIBPG), do Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP), que tem cerca de 3 mil amostras de familiares e mais de 4 mil restos mortais não identificados.

De forma voluntária, a doação é feita, preferencialmente, por familiares de primeiro grau da pessoa desaparecida, seguindo a ordem de preferência: pai e mãe, filhos e irmãos.

O diretor do IPDNA, Samuel Ferreira, explica que, em alguns casos e dependendo do contexto, é possível que o DNA do próprio desaparecido também possa ser extraído a partir de itens de uso pessoal – escova de dentes, escova de cabelo, aparelho de barbear, aliança, óculos, aparelho ortodôntico, dente de leite, amostra de cordão umbilical. “Já tivemos caso da entrega de cordão umbilical guardado pelos familiares”, informa o diretor.

Como funciona

O DNA coletado é enviado para o Laboratório de Genética Forense da Polícia Civil, onde o perfil genético é obtido e enviado ao Banco Nacional. Nesse local, o dado coletado é comparado aos perfis de pessoas com identidade desconhecida e a restos mortais.

O perfil genético da família só é retirado do banco após a identificação. Se o desaparecido for encontrado, a família será avisada pela delegacia ou pelo Instituto Médico Legal.

Atualmente, o Banco Nacional de Perfis Genéticos tem 4.169 restos mortais não identificados e material genético de 3.152 parentes de pessoas desaparecidas, de acordo com o Ministério da Justiça.

Caso esclarecido

O filho de Jandira Araújo Santos desapareceu em 11 de maio de 2020, na cidade de Anápolis (GO). Foi mais de um ano de procura, que ela definiu como “uma tortura”, até saber da coleta de DNA para identificar desaparecidos.

“Passei um tempo que mãe nenhuma merece passar. É pior que a morte. A gente não sabe se seu filho está vivo, se está morto, se está com frio, se está com fome, o que houve. Procuramos sem resposta, sem sucesso”, relatou Jandira.

Após colher o material genético em 2021, ela logo descobriu o que havia ocorrido com o filho. Valmor Araújo de Oliveira foi encontrado morto. O desfecho só foi possível porque o DNA da vítima havia sido cadastrado no Banco Nacional de Perfis Genéticos.

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