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Locutor denuncia racismo durante protesto de bolsonaristas: “Macaco”

Alex Soares, conhecido como Blau Blau, diz ter sofrido inúmeras ofensas racistas de bolsonaristas enquanto fotografava Brasília

atualizado

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Matheus Veloso/Metrópoles
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1 de 1 Foto-Alex-agredido-em-protesto-bolsonarista - Foto: Matheus Veloso/Metrópoles

“Volta para casa, macaco, aqui você vai morrer”. Essas foram as palavras ouvidas por Alex Sandro Soares, mais conhecido como Alex Blau Blau, 45 anos, no início da tarde desta quarta-feira (2/11). O locutor da Rádio Metrópoles fotografava Brasília para um trabalho de fotojornalismo da faculdade diz ter sido alvo das ofensas criminosas. Segundo ele, as agressões ocorreram próximo ao Quartel General do Exército, localizado na capital da República, onde manifestações bolsonaristas ocorrem desde terça-feira (1º/11).

À reportagem Alex disse que, por ter tido o dia de folga, aproveitou para sair pela cidade para fazer os registros. Ele, então, teria percorrido pontos turísticos de carro, ao lado da esposa Débora Soares Pedro, e retornado para casa, no Cruzeiro, pelo Eixo Monumental. Nesse momento, viu a movimentação dos manifestantes e resolveu registrá-la. De repente, um homem teria se aproximado e passado a provocá-lo.

“Ele [agressor] me viu e gritou: ‘Tira foto minha aqui agora, filho da puta’. Eu ignorei, mas o homem veio em direção ao meu carro xingando a mim e a minha esposa. Quando ele estava bem perto, desci do veículo e pedi que ele nos respeitasse, mas não adiantou. Outras pessoas perceberam o que estava acontecendo e se aproximaram dando força às ofensas do primeiro agressor”, detalhou Alex.

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De acordo com a vítima, que estava trajando uma camiseta vermelha com a logo do portal e rádio Metrópoles, uma multidão se juntou ao redor dele e, enquanto três pessoas se aproximaram para tentar ajudá-lo a sair do local, os criminosos passaram a agredi-lo verbal e fisicamente.

“Eles gritavam ‘saia daqui seu macaco’, vaza ‘baleia preta’, seu ‘porco gordo’ e ‘você vai morrer’. Quando me virei para agradecer o Gabriel, um homem que veio me ajudar, recebi pancadas na cabeça”, disse o estudante, emocionado, enquanto mostrava o galo na altura da nuca, resultado das agressões que sofreu.

Segundo ele, não satisfeita, a multidão que o cercou passou a jogar garrafas em Débora e proferir ofensas contra a mulher. “Me senti impotente. Acertaram minha esposa, enquanto a xingavam, e ameaçavam nos matar. Depois de muita dificuldade consegui entrar no carro, mas as agressões não cessaram. Aquelas pessoas passaram a jogar coisas no meu carro e a chutar a lataria, pensei que não fossemos conseguir sair dali”, declarou.

“A gente sempre lê notícias sobre esse tipo de coisas, mas nunca pensa que pode acontecer a gente. Minha esposa, inclusive, chegou a pegar o crachá do Metrópoles na intenção de fazer as pessoas perceberem que a camisa era da empresa, caso o problema fosse a cor vermelha, mas eles pegaram o crachá da mão dela”, contou.

Revoltado, Alex disse que após conseguirem sair do local, ele e a esposa se dirigiram à 3ª Delegacia de Polícia (Cruzeiro) para registrar queixas contra os agressores, que aparecem nas fotos dele. Segundo o homem, nunca passou pela cabeça dele sair de casa para fazer um trabalho e acabar em uma delegacia.

“É triste, revoltante. Jogaram uma garrafa no rosto da minha esposa. Fui vítima de inúmeras ofensas racistas. Nunca fui tão agredido em toda a minha vida. E o problema não é só a agressão física, pois as marcas uma hora passam, mas sim a verbal, já que essas palavras me acompanharão por toda a minha vida. Não é de hoje que tentam me diminuir por conta da cor da minha pele, mas não vou desistir de denunciar o racismo, mesmo que muitos tentem legitimá-lo”, completou.

Um boletim de ocorrência foi registrado e a 3ª Delegacia de Polícia (Cruzeiro) investiga o caso.

Confira as fotos feitas por Alex antes das agressões

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