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Líder de atos no QG diz que acampamento tinha reza e “curava doenças”

Major Cláudio Mendes, líder de atos golpistas no QG, relativizou violência no acampamento e disse que lugar era “espiritual” e curava doença

atualizado

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Reprodução/CLDF
major claudio mendes dos santos em CPI segurando bíblia e constituição
1 de 1 major claudio mendes dos santos em CPI segurando bíblia e constituição - Foto: Reprodução/CLDF

Cláudio Mendes dos Santos, major da reserva da Polícia Militar do DF (PMDF) que liderou o acampamento em frente ao Quartel-General do Exército, reletivizou os atos golpistas no local e defendeu que aquele movimento era “espiritual”, com rezas e até cura de doenças.

O militar deu a declaração na manhã desta quinta-feira (9/11), na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) em andamento na Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF).

“Pessoas foram curadas ali, isso é espiritual, curadas de doenças”, afirmou. Cláudio estava sendo questionado pelo presidente da CPI, Chico Vigilante (PT), sobre a intenção golpista do movimento.

Acompanhe ao vivo:

Em outro trecho do depoimento, ele disse que uma afirmação repetida por Jair Bolsonaro (PL) vinha mantendo as pessoas no QG. “Essa frase: ‘[Vamos fazer] tudo dentro das quatro linhas [da Constituição]’ levou a gente a ficar ali.”

O major seria ouvido em 19 de outubro, mas alegou ter passado mal, e a sessão acabou remarcada. Em fase final, a CPI do DF deve ouvir somente mais uma pessoa após o depoimento do militar, o coronel da PMDF Reginaldo de Souza Leitão, que era chefe do Centro de Inteligência da corporação no 8 de Janeiro.

Leitão deve ser ouvido em 16 de novembro, encerrando a fase de oitivas. O relatório da CPI da Câmara Legislativa, feito por Hermeto (MDB), está sendo concluído e pode ser apresentado ainda este mês.

Quem é o major

Cláudio Mendes dos Santos, 49 anos, é major da reserva da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) e liderou o acampamento golpista em frente ao Quartel-General do Exército por mais de 60 dias, usando o título que tem na corporação para ganhar notoriedade entre os bolsonaristas do QG.

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Ele acabou fugindo depois dos ataques antidemocráticos de 8 de janeiro e chegou a comemorar, em mensagem de WhatsApp: “Ainda não ‘tô’ preso”, como mostrou o Metrópoles em 29 de janeiro. Cláudio acabou detido na Operação Lesa Pátria, da Polícia Federal, em 23 de março.

O militar era um dos líderes que mais discursava no palco improvisado montado em um caminhão no QG de Brasília e chegou a levar o filho de 8 anos para o acampamento. Ele se apresentava como major Cláudio Santa Cruz e se vangloriava por ter sido do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope).

Máfia do Pix e táticas de guerrilha

Fontes ouvidas pela reportagem denunciam ainda que o oficial ganhava dinheiro com os atos bolsonaristas, na chamada “máfia do Pix”.

No dia da posse de Lula (PT), Cláudio foi figura central de uma discussão entre os próprios apoiadores de Jair Bolsonaro (PL), que reclamaram de mais um pedido de dinheiro feito pelo major e o chamaram de covarde. “Só quer saber de Pix”, acusou um homem. Relembre:

No Instagram, que ele excluiu depois dos ataques bolsonaristas na Praça dos Três Poderes, o militar ainda informava que era instrutor de tiro. Depoimentos colhidos pela CPI do DF apontam ainda que o major da reserva ensinava táticas de guerrilha no acampamento golpista.

“Encher a Esplanada”

Dias antes do atentado, ele esteve em um programa de uma rádio comunitária fazendo convocações e pedindo cumplicidade de policiais contra manifestantes.

“Quero fazer um apelo aos meus colegas policiais. Eu sou um comandante policial, um major policial, estou na reserva, mas pelo amor de Deus. Polícia Federal, vocês contam com nosso respeito, não se vendam, não deixem alguém fazer vocês rasgarem a Constituição, não pratiquem prisões desleais. Da mesma forma a Polícia Civil.”

Durante a participação no programa, ele ainda diz que “o presidente foi bem claro ao dizer que as Forças Armadas estão nos apoiando”, e instiga cada pessoa que votou em Bolsonaro a “encher o QG, encher a Esplanada”. A rádio fomentou discursos golpistas por mais de uma hora, pedindo até Pix para Renan Sena, bolsonarista que viria a ser preso semanas depois pela Polícia Federal por participação nos ataques à democracia.

Zambelli como defensora

Em outro episódio no acampamento, o major da reserva chegou a citar a deputada Carla Zambelli (PL-SP) como defensora do movimento. Cláudio Mendes dos Santos comentou, em vídeo gravado dentro do QG, sobre ter aberto o espaço do carro de som principal do local para alguns políticos.

“Abrimos algumas exceções para pessoas que sofreram. Porque nós temos também ao nosso lado. Temos aqueles também que nos defendem. O deputado [Daniel] Silveira, a própria Carla Zambelli. São pessoas que também estão sofrendo muito com perseguição, e outros aí”, afirmou o golpista, em vídeo de 27 de novembro de 2022.

Bolsonarista assumido, Cláudio usava as redes sociais para convocar mais “patriotas” para atos contra o resultado das urnas. “Vem para rua, vem para Brasília, vamos lotar tudo. Agora é QG, é rua, é rampa… Vai ter brasileiro subindo em pé de árvore, vai ter que ser assim”, convocou, em um dos vídeos. Em outro, afirmou que “o Brasil está em combate, está em luta”, e chamou “milhares de pessoas” para ocupar as ruas da capital.

Em plena pandemia, em 2020, ele também se gravava saindo de casa, fazendo exercício físico na rua, em meio ao lockdown, e elogiando o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). “Essa corja de canalhas não vai levar o país no grito, chefe. O país precisa trabalhar, o senhor está certinho. Força, presidente!”.

Ocorrências

Cláudio Mendes dos Santos é nome comum em ocorrências de violência contra a mulher no DF. Impedido por medida protetiva de se aproximar de uma ex-esposa, ele já foi investigado por descumprir a medida, perseguir a mulher e até divulgar um vídeo com cenas sexuais dela, para familiares e filha, menor de idade.

Um dos registros na Polícia Civil informa que ele chegou a ter a arma recolhida em uma ocasião. De acordo com uma pessoa do núcleo familiar do militar, ouvida em sigilo pela reportagem, ele também já foi alvo de “várias denúncias” na Corregedoria enquanto estava na ativa da PM, mas “sempre acabava se safando”.

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