Integrante do PCC morto no Entorno DF fez “entrevista” para entrar na facção
Material de 58 páginas com perguntas de praxe e dicionário disciplinar foi apreendido pela Polícia Civil do DF após homem ser executado
atualizado
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Como em grandes empresas, onde candidatos aos cargos passam por rigorosos processos seletivos, a facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC) também criou mecanismos de sabatina que precedem o “batismo” de seus pretensos integrantes. O brutal assassinato de um membro durante um tribunal do crime revelou como a maior organização criminosa do país age para aliciar novos soldados na capital do país e no Entorno do DF.
Arquivos digitais e em papel apreendidos pela Polícia Civil (PCDF) na casa onde morava Elber Silva Santos, o último condenado à morte pelo tribunal do crime, mostram como a cúpula da organização escolhe seus integrantes. Além de seu estatuto já conhecido, ao longo de 58 páginas o PCC discorre sobre o que os criminosos chamam de “Livro Branco dos Estados e Países”. O trecho do material é chamado de “perguntas de praxe” e conta com 11 questionamentos que precisam ser respondidos pelos criminosos sabatinados.
Entre as indagações estão variadas questões, como o desejo da facção em saber se o criminoso arguido é usuário de drogas como crack e oxi (integrantes do PCC são proibidos de consumir esses tipos de droga) e se possui alguma dívida com o mundo do crime que comprometa seu batismo. Os líderes da cúpula ainda perguntam se o criminoso é homossexual assumido e se mantém relações homoafetivas esporadicamente ou com regularidade.
Dicionário disciplinar
Entre o material apreendido por investigadores da Seção de Repressão às Drogas (SRD) da 1ª Delegacia de Polícia (Asa Sul), logo após a execução de Elber, constava um documento onde no cabeçalho estava escrito: “Dicionário Disciplinar”. Formado por 45 itens, o texto serve como uma espécie de código de conduta.
Para cada transgressão cometida por um integrante da organização, a pena é estipulada pelo dicionário e pode variar de uma suspensão de 90 dias, à morte. O veredito é proferido pela “sintonia” – como são conhecidos os departamentos da facção. A sintonia final é a principal instância e concentra a alta patente criminosa. O grupo é formado por membros de diferentes estados, com o objetivo de analisar tratativas da organização em âmbito nacional.
Entre as faltas mais graves está a prática de traição. Segundo o código, quando um integrante leva informações de detento da facção para outro grupo criminoso ou à polícia, a morte do membro é excluída e tem a execução decretada pelos líderes, sem direito à defesa prévia.
Tribunal de rua
O carregamento de drogas que motivou o tribunal de rua conduzido pelo PCC a julgar, condenar e executar um integrante, seria distribuído em áreas nobres do Distrito Federal. Os 10 quilos de maconha trazidos de São Paulo por Elber Silva Santos, morto a tiros após ser considerado culpado, tinham como destino a Asa Sul.
Segundo investigações conduzidas pela SRD da 1ª DP, os tijolos de maconha acondicionados dentro de uma mala deveriam se transformar em cerca de R$ 50 mil após serem escoados em pontos de venda de drogas no Plano Piloto.
A ação policial interceptou o carregamento dentro de um veículo de transporte por aplicativo, quando o carro passava por Brazlândia, conforme adiantou o Metrópoles em matéria publicada em 9 de maio. A companheira de um integrante do PCC, identificado como Ocimar Chaves Costa, foi presa na operação. Ele acabou poupado pela organização criminosa e está sendo procurado pela PCDF.