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Ex-sargento é condenada por desviar mais de R$ 70 mil de hotel de trânsito da FAB

A defesa alegou que a militar desviou os recursos para arcar com o tratamento de saúde do pai. Argumento, porém, não foi aceito pelo STM

atualizado

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Rafaela Felicciano/Metrópoles
Ministerio da defesa comando da aeronáutica
1 de 1 Ministerio da defesa comando da aeronáutica - Foto: Rafaela Felicciano/Metrópoles

Uma ex-terceiro sargento da Aeronáutica foi condenada, no Superior Tribunal Militar (STM), à pena de 6 anos e 6 meses de reclusão, por desviar dinheiro do hotel de trânsito do Cindacta 1, em Brasília. A decisão do tribunal confirmou a condenação em primeira instância, pelo crime de peculato.

Segundo os termos da denúncia, a ex-militar foi designada para a função de encarregada da Secretaria do Hotel de Trânsito do Cindacta I, entre 25 de julho de 2018 e 20 de março de 2019. Durante esse período, adotou rotina de recebimento de diárias de hospedagem em espécie, contrariando os regulamentos que determinam pagamento por desconto em folha do militar ou por recolhimento de GRU (Guia de Recolhimento da União).

Para obter os pagamentos em espécie, a denunciada, como responsável pelo setor de reservas, passou a enviar aos potenciais hóspedes, no momento da confirmação, um e-mail informando que, após o dia 25 de julho de 2018, não seria feito desconto em folha e pagamentos via GRU, e que os os pagamentos passariam a ser feitos em dinheiro.

A mesma orientação foi repassada aos cassineiros-de-dia (militares que desempenham o papel de recepcionista do alojamento), que passaram a receber e encaminhar à denunciada os pagamentos feitos pelos hóspedes, em dinheiro. Segundo informaram em juízo, a sargento teria justificado a mudança do procedimento alegando “inoperância dos sistemas de implementação do desconto em folha de pagamento e de emissão de GRU”.

Verificou-se, também, a ocorrência de uma diminuição substancial na arrecadação do Hotel de Trânsito ao comparar o ano de 2018 com o ano anterior, 2017, quando o total arrecadado fora de R$ 87,3 mil, sendo que em 2018 foi de apenas R$ 16,1 mil, apesar do intenso movimento de hóspedes. Calcula-se que a fraude resultou em um prejuízo ao erário no valor de R$ 72,8 mil.

Na sessão de julgamento da primeira instância da Justiça Militar da União, em 3 de dezembro de 2020, o Conselho Permanente de Justiça para a Aeronáutica decidiu, por unanimidade de votos, condenar a ré à pena de 6 anos e 6 meses de reclusão.

STM confirma ilicitude
A defesa da acusada decidiu recorrer ao STM, alegando, entre outras coisas, que a militar desviou o dinheiro recebido a título de diárias no hotel de trânsito para ajudar no tratamento médico do seu pai, que estava com câncer. O advogado pediu que o tribunal aplicasse a excludente de ilicitude.

O relator da ação no STM, o ministro Artur Vidigal de Oliveira, citou, entre as evidências que comprovam o envolvimento da ex-militar, os depósitos em sua conta corrente de valores acima do que recebia como remuneração e o fato de ela ter apagado os arquivos de uso do alojamento de trânsito com a intenção de excluir provas que pudessem incriminá-la, como mostram câmeras de segurança.

“Assim, da mesma forma que a materialidade delitiva, a autoria ficou demonstrada pela confissão da apelante em juízo, pelas provas periciais juntadas aos autos e pelas oitivas das testemunhas, amoldando-se perfeitamente ao tipo penal insculpido no art. 303 do CPM, na modalidade ‘peculato-desvio’”, declarou o ministro.

Quanto à alegação de que a então militar teria desviado o dinheiro para pagar as despesas do tratamento do pai, o ministro afirmou que, além de a ré não ter apresentado nenhuma prova de uma eventual situação, ela “deveria ter buscado outras medidas lícitas para custear o tratamento da enfermidade, pois, ao que tudo indica, o risco de acontecer um fato indesejado não era iminente, sendo inadmissíveis as justificativas apresentadas pela defesa”.

 

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