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“Estou tentando me perdoar”, diz amiga de jovem que se afogou no lago

Ariela Amaral saltou com Giovanni Maurício de Souza da Ponte Honestino Guimarães e revelou ao Metrópoles como a tragédia ocorreu

atualizado

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Reprodução/Facebook
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1 de 1 giovanni2 - Foto: Reprodução/Facebook

Dois dias após o universitário Giovanni Maurício de Souza, 23 anos, morrer ao saltar da Ponte Honestino Guimarães, a amiga Ariela Amaral, que estava com ele no momento da tragédia, quebrou o silêncio e concedeu entrevista exclusiva ao Metrópoles.

Ainda muito abalada, a estudante de cinema e mídias digitais diz ter feito todo o possível para salvar o jovem. “O Giovanni praticava esportes radicais. Comentei sobre uma galera que às vezes pulava da ponte, e meus irmãos já tinham feito isso há uns anos. Ele se empolgou e me pediu para a gente ir lá pular, quando ele estivesse aqui [em Brasília]”, relata. Giovanni morava em Pelotas (RS).

No domingo (22/7), após se encontrarem com um grupo de amigos, Giovanni, Ariela e um outro rapaz resolveram saltar da Honestino Guimarães. Ela lembra estar, no dia marcado, com um pressentimento ruim. “Nosso amigo pulou primeiro. Eu estava muito nervosa e com uma sensação ruim. Comentei isso com o Giovanni, falei que não queria pular e morrer. Aí ele disse: ‘Ano que vem, você ainda vai pular de paraquedas comigo’. Falou com tanta firmeza que me acalmei e em seguida pulamos”, contou a moça.

Ela caiu de mau jeito e começou a sentir dores no abdômen, mas, ao voltar para a superfície, encontrou o amigo sorridente e tranquilo. “Ele me falou para boiar e respirar. Perguntou se eu estava bem para nadar e me tranquilizou. Então, começamos”, afirma Ariela. Nesse momento, Giovanni disse se sentir cansado e ela pediu para ele ficar calmo.

“Ele disse: ‘Ariela, estou fraco’. Voltei e pedi que ele se acalmasse e tentasse boiar. Um amigo nosso gritou para nadarmos de costas”, resume. A estudante relata as inúmeras tentativas que fez para não deixar o rapaz afundar.

Tentei sustentar o corpo dele com as minhas pernas e braços, mas, quando eu soltava, ele afundava um pouco. Então, eu o segurei em cima do meu peito e passei a nadar de costas, puxando ele. Ainda estava consciente, mas respirava com dificuldade

Ariela Amaral, amiga de Giovanni, que se afogou no lago após saltar de ponte

Momentos de desespero
Contudo, Giovanni tinha 1,80m de altura, e Ariela também sentia fraqueza. “Ele começou a ficar pesado. Decidi ficar de costas para ele e tentar puxá-lo, porque assim eu teria mais forças para nadar. Nadei, nadei, nadei muito”, lembra a estudante. “Nosso amigo também estava fraco e conseguiu chegar perto da gente, mas não deu conta de nos puxar. Giovanni ficou extremamente pesado nas minhas costas. Eu gritava por socorro, mas as pessoas que estavam na margem só assistiam [à tragédia]”, diz.

Nesse momento, Ariela começou a afundar junto com Giovanni. “Eu, que antes estava calma, entrei em desespero e comecei a engolir muita água. Tive que empurrar o corpo dele de cima de mim. Quando subi, tentei puxá-lo pelo braço, mas não alcancei. Quis mergulhar, mas havia engolido muita água e estava desgastada pela força que usei para sustentá-lo”, relata, angustiada.

Foi então que Ariela começou a gritar o nome de Giovanni. O amigo dos dois conseguiu se aproximar e a puxou para o raso. Com sentimento de culpa, a moça acredita que poderia ter salvado a vítima.

Mais umas três braçadas e eu conseguiria. Só faltava isso. Em parte sinto culpa, pois queria muito ter sido mais forte para salvá-lo. Teria dado minha vida se soubesse que com isso o Giovanni se salvaria. Só fico pensando no momento em que precisei empurrar o corpo dele de cima de mim. Estou tentando me perdoar por tê-lo soltado

Ariela, sobre a morte do amigo
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Ariela é grata por ter convivido com Giovanni, o qual conheceu em um grupo do Facebook, há cerca de um ano e meio. “Era um dos meus melhores amigos. Cuidou de mim no lago. Queria muito ter feito o mesmo por ele”, lamenta Ariela.

Mãe e esposa devastadas com a perda
Em post no Facebook, a mãe de Giovanni lamentou a morte do filho. “Deus me deu dois príncipes e uma princesa. E, hoje, meu príncipe Giovanni Maurício de Souza se foi. Sei que nada suprirá seu sorriso, sua simpatia, sua gentileza, o respeito aos pais. O que farei agora? Sei em quem tenho crido, e o meu Redentor vive e me sustentará nas minhas fraquezas”, desabafou.

 

Marlene Souza veio a Brasília a fim de realizar os trâmites para liberação do corpo do filho, que deve ser enterrado no Cemitério Jardim da Memória, em Novo Hamburgo (RS), onde a família mora.

A esposa de Giovanni disse estar “devastada” com a morte do jovem. Regina Souza, 22 anos, contou ao Metrópoles que estava casada com o rapaz há apenas sete meses. O universitário veio passar férias em Brasília.

Era uma pessoa cheia de luz e energia. Por onde passava, deixava sua marca. Todos o amavam. Eu, principalmente. Era meu mundo

Regina Souza, 22 anos, esposa de Giovanni

Giovanni, que era natural de Novo Hamburgo (RS), morava em Pelotas, onde cursava direito na Universidade Católica.

Prática comum no DF
Aventuras nas pontes do Distrito Federal não são incomuns. Nas redes sociais, principalmente no YouTube, é possível ver vídeos de jovens se arriscando ao saltar dos elevados sobre o Lago Paranoá sem utilizar nenhum equipamento de segurança (veja vídeo abaixo).

 

Segundo o major do Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal (CBMDF) Gildomar Alves, que participou do atendimento de Giovanni, os riscos de pular de qualquer uma das pontes sobre o Lago Paranoá são grandes e, portanto, a prática é desaconselhada. “Não recomendamos, pois existe risco de fratura ou mal súbito. A pessoa pode não saber nadar tão bem quanto imagina e acabar se afogando”, informa o militar.

Com base em levantamento feito pelo CBMDF, entre janeiro e junho de 2018, foram pelo menos cinco afogamentos no Lago Paranoá – dois resultaram em óbito.

De acordo com o major Gildomar, os amigos da vítima, um rapaz e uma moça, também pularam da estrutura – não há relatos de que qualquer um deles tenha ingerido bebida alcoólica antes de se lançarem no lago. Giovanni foi o único a não retornar à superfície. Acionados, os bombeiros chegaram ao local em cerca de três minutos. Os mergulhadores levaram um minuto e meio para resgatar o estudante.

Veja imagens do socorro: 

 

Os socorristas tentaram procedimentos de reanimação por aproximadamente uma hora, antes de declararem a morte de Giovanni. A corporação mobilizou cinco viaturas, um helicóptero e 25 militares, quatro deles mergulhadores, para o resgate.

A 1ª Delegacia de Polícia (Asa Sul) abriu inquérito para apurar as circunstâncias da morte de Giovanni Maurício de Souza.

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