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Don Juan ataca no DF, engravida mulheres e as deixa com dívidas

Suspeito já foi acusado de prestar falso testemunho à Polícia Federal em escândalo político. Pelo menos seis vítimas tiveram filhos com o criminoso, que dizia ser vasectomizado. O caso foi registrado na 30ª Delegacia de Polícia (São Sebastião). Veja vídeo com o depoimento de uma das vítimas

atualizado

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Facebook/Reprodução
donjuan
1 de 1 donjuan - Foto: Facebook/Reprodução

O computador e a lábia aguçada se tornaram armas para um homem deixar mulheres desiludidas e afundadas em dívidas em várias cidades do Distrito Federal. O “Don Juan” seduziu, enganou e devastou a conta bancária de pelo menos 10 vítimas — cinco delas moradoras do DF. O estelionatário chegou a engravidar algumas e jurar amor eterno antes de desaparecer. Pelo menos seis delas tiveram filhos com o criminoso. Uma registrou o caso na 30ª Delegacia de Polícia (São Sebastião), na tarde de segunda-feira (4/7).

A reportagem conversou com duas mulheres que tiveram o azar de cruzar o caminho de Luiz Armando Silvestre Ramos, 41 anos. Uma delas deu à luz uma filha do golpista. Ana (nome fictício), 38, que trabalha como secretária no escritório de uma construtora no Lago Sul, conheceu o estelionatário em julho de 2014, e ainda tenta se reerguer após o golpe. Ela conta que o primeiro contato com o homem ocorreu por meio das redes sociais.

Moradora de São Sebastião, Ana vive em um conjunto de quitinetes e era vizinha de Luiz Armando. “Não sabia, mas ele já estava morando com outra mulher quando se aproximou de mim. Ele mentiu, dizendo que estava sozinho”, lembra-se. Alto, de cabelos negros e olhos verdes, o homem foi galanteador e envolveu a vítima.

O relacionamento logo evoluiu. Ana chegou a alugar um apartamento para o golpista e mobiliou a nova residência. “Paguei por tudo, cada móvel e roupa que ele usava. Fui alertada pela mulher que morava antes com ele que se tratava de um Don Juan, mas não dei ouvidos, estava enfeitiçada”, recorda-se.

Carro zero
Com o passar do tempo, a mulher se viu afundada em dívidas que não conseguia arcar. A secretária tentou arrumar um emprego para o estelionatário, mas não deu certo. Ele acabou demitido por suspeita de furtar objetos de colegas de trabalho. Charmoso, o golpista ainda convenceu a então namorada a comprar um carro zero quilômetro.

Eu me vi afogada em contas. As prestações começaram a atrasar, e ele me enrolava dizendo que tinha dinheiro para receber, pois dizia trabalhar com eventos fora da cidade.

Ana (nome fictício), vítima do golpista

 

Falsa vasectomia
Desconfiada, a mulher começou a pesquisar sobre a vida pregressa do namorado e ficou aterrorizada com a descoberta. Ele mantinha vários perfis no Facebook em que se relacionava simultaneamente com diversas mulheres. Ana descobriu pelo menos quatro vítimas no DF e outras cinco na cidade de Pouso Alegre (MG). Todas estavam sendo enganadas pelo Don Juan.

Dessas mulheres, seis acabaram engravidando, pois ele mentia dizendo que havia passado por uma cirurgia de vasectomia. Pura mentira, tanto que minha filha com ele está prestes a completar 8 meses.

Ana

Ana resolveu se libertar do Don Juan após descobrir as mentiras, mas não escapou do rombo em sua conta bancária. Ela teve dificuldades para tentar recuperar o carro que havia comprado e só conseguiu após o golpista bater o veículo. “Ele me entregou o carro todo detonado. Tive mais um prejuízo de R$ 7 mil com o conserto. Precisei fazer um acordo com meus patrões para me emprestarem o dinheiro e, todo mês, R$ 500 são descontados do meu salário”, explicou.

Vítima na Esplanada
A ânsia por mais dinheiro e novas mulheres prontas a bancar a vida fácil fez o Don Juan investir em vítimas com vida financeira estável. Uma das mulheres enganadas é servidora pública federal e trabalha no Ministério de Ciência e Tecnologia. Renata (nome fictício) contou à reportagem que começou a se relacionar com Luiz Armando depois de terem se conhecido por meio do bate-papo do Facebook.

Mais uma vez usando sua lábia, o golpista conquistou a mulher, que é separada e tem uma filha adolescente. “Ele vivia me pedindo dinheiro, sempre de forma insistente, e achei estranho. Comecei a pesquisar o nome dele nos sites dos tribunais e descobri muitas ações cíveis e criminais contra ele, principalmente em Minas Gerais. Resolvi terminar o relacionamento no ato”, disse Renata.

Mesmo agindo rápido, a servidora ainda passou apuros. Um cartão de crédito em nome da filha dela, que estava guardado na carteira, desapareceu. “Tive que bloquear e pedir outro. Depois disso, ele nunca mais me procurou.”

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Grupo no WhatsApp
A quantidade de mulheres vítimas do Don Juan fez com que parte delas se unisse. Juntas, criaram um grupo no WhatsApp, no qual trocam experiências e informações para tentar levar o golpista para a prisão. Com o passar do tempo, elas encontram mais vítimas e ainda tentam alertar outras mulheres que continuam se relacionando com o estelionatário pelas redes sociais.

A vítima atual seria uma empresária do ramo de confeitaria do DF. A nova namorada do Don Juan estaria com ele em Pouso Alegre (MG), segundo as duas mulheres ouvidas pela reportagem. “Tentamos alertá-la sobre o perigo que ela está correndo, mas não nos deu ouvidos”, ressaltou Ana, que completou dizendo que os móveis comprados por ela ainda estão na casa da nova companheira do Don Juan.

O Metrópoles entrou em contato com Silvestre Ramos por meio das redes sociais dele, mas, até a última atualização desta reportagem, ele não havia respondido.

Dossiê Vedoin
O hábito de se passar por outra pessoa parece não ser novo na vida de Silvestre Ramos. Em 2006, em Pouso Alegre, ele foi personagem de um grande escândalo que envolveu a Polícia Federal. Na época, foi acusado de participar de uma farsa ao se apresentar como testemunha da entrega de R$ 250 mil em espécie a Hamilton Lacerda, ex-coordenador de comunicação da campanha de Aloizio Mercadante (PT) ao governo de São Paulo.

O caso ficou conhecido como Dossiê Vedoin. O documento acusava o então candidato ao governo do estado de São Paulo pelo PSDB, José Serra, de ter relação com o escândalo das sanguessugas, que denunciou uma quadrilha que tinha como objetivo desviar dinheiro público destinado à compra de ambulâncias.

Na ocasião, Ramos se apresentou com nome falso de Aguinaldo Henrique Delino. À PF, disse que trabalhava para um homem cujo nome era o dele mesmo: Luiz Armando Silvestre Ramos. Segundo Ramos, ele teria ajudado o suposto patrão a levar R$ 250 mil para Hamilton Lacerda, em São Paulo, um dia antes da prisão do advogado Gedimar Passos e do empresário Valdebran Padilha com o dinheiro para o dossiê.

Mas a confissão de Ramos, tida inicialmente como a solução para a origem do dinheiro do dossiê, não passou de farsa. Menos de 24 horas após o que seria o depoimento bombástico do caso do dossiê, a PF confirmou que o suposto produtor cultural não fez movimentação bancária alguma e que seu nome verdadeiro era Luiz Armando Silvestre Ramos e não Aguinaldo Henrique Delino.

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