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Desigualdade marca chegada de Brasília aos 59 anos, aponta PDAD

Renda domiciliar no Plano Piloto é seis vezes maior do que a dos moradores do Varjão. Abismo também é registrado em outros indicadores

atualizado

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Michael Melo/Metrópoles
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1 de 1 dc4 - Foto: Michael Melo/Metrópoles

Prestes a completar 59 anos, Brasília não consegue se livrar da pecha de ser uma das cidades com maior desigualdade do país. Dados da Pesquisa Distrital de Domicílios (PDAD) 2018, divulgada nesta quarta-feira (20/3) pela Companhia de Planejamento (Codeplan), confirmam o abismo entre a população mais rica e a mais pobre da capital federal, que encerrou o ano passado com 2.904.030 habitantes.

Nas regiões administrativas de alta renda, 76,8% da população com mais de 25 anos têm curso superior completo – percentual que cai para 9,9% no grupo de baixa renda. Nessas cidades (Fercal, Itapoã, Paranoá, Recanto das Emas, SCIA – Estrutural e Varjão), a maioria da população (33,9%) tem ensino fundamental incompleto, seguido (32,9%) de médio completo.

A escolaridade reflete na remuneração. A maioria dos moradores do Lago Sul (30,8%) ganha salário bruto entre R$ 4.470 e R$ 9.540 (cinco a 10 salários mínimos), enquanto a maior parte (54,8%) de trabalhadores da Estrutural ganha entre R$ 954 e R$ 1.908 (um a dois salários).

O levantamento mostra que o rendimento domiciliar mensal da maioria dos moradores do Plano Piloto (29,7%) é de mais de 20 salários mínimos (R$ 19.080), valor pelo menos seis vezes superior ao de um grupo familiar do Varjão, que varia entre R$1.908 e R$ 4.470 – renda domiciliar de 40,7% das famílias da cidade.

Na média, os moradores do DF ganham salário bruto de R$ 3.459,22. Já a renda domiciliar estimada foi de R$ 6.231, montante que resulta em um valor médio por pessoa de R$ 2.526,8 (cada domicílio tem uma média de 3,1 moradores). O valor do salário mínimo considerado foi de R$ 954.

A PDAD dividiu o DF em quatro grupos de regiões, RAs, definidos a partir do rendimento médio de cada localidade. O grupo 1, de alta renda, é composto por Plano Piloto, Jardim Botânico, Lago Norte, Lago Sul, Park Way e Sudoeste/Octogonal. No grupo 2, de média-alta renda, estão Águas Claras, Candangolândia, Cruzeiro, Gama, Guará, Núcleo Bandeirante, Sobradinho, Sobradinho II, Taguatinga e Vicente Pires.

O grupo 3, considerado média-baixa renda, é formado por Brazlândia, Ceilândia, Planaltina, Riacho Fundo, Riacho Fundo II, SIA, Samambaia, Santa Maria e São Sebastião. No grupo 4, de baixa renda, estão Fercal, Itapoã, Paranoá, Recanto das Emas, SCIA – Estrutural e Varjão.

Creches
O presidente da Codeplan, Jean Lima, explica que o objetivo da PDAD é subsidiar e orientar o planejamento governamental, o acompanhamento e o monitoramento da dinâmica do desenvolvimento socioeconômico do DF. “Estamos divulgando os dados no início da gestão justamente para o gestor do GDF pensar em políticas públicas articuladas para o território”, explica. “Precisamos dar atenção para as desigualdades.”

Segundo ele, um dado que o governo vê com atenção é a falta de creches públicas. Enquanto 40,3% das crianças de até 3 anos frequentam a escola nas cidades de alta renda, mais de 83% das que vivem em cidades de baixa renda não estão na escola.

Isso mostra a falta de creches para a população que não tem condições de pagar uma mensalidade

Jean Lima, presidente da Codeplan

Saúde
A PDAD também pesquisou se os moradores do DF estão cobertos por um plano de saúde. Enquanto 81,1% da população do grupo 1 (cidades de renda mais alta) tem esse serviço, 86,7% dos moradores das cidades mais carentes não o possuem.

A quantidade de moradores do DF que dependem prioritariamente de hospitais públicos também é expressiva nos grupos de média-alta e média-baixa renda: 51,1% e 81,4% respectivamente.

Segundo o governador Ibaneis Rocha, o objetivo do novo governo é exatamente buscar a redução dessas desigualdades. “Estamos começando pela saúde pública, que está recebendo atenção integral do governo, e pela geração de emprego e renda”, informa.

Para atingir esse objetivo, estamos criando um novo ambiente de negócios no Distrito Federal, com incentivos aos empreendedores e aos empresários. O DF ficou abandonado por muito tempo, mas o processo de recuperação já começou

Ibaneis Rocha, governador do DF

Nativos
De acordo com a pesquisa, os brasilienses são a maioria na população do Distrito Federal: 55,3% da população nasceu nas 31 regiões administrativas (RAs). O estudo aponta que a população total do DF, na área urbana, era de 2.904.030 pessoas em 2018.

Joel Rodrigues/Agência Brasília

 

Na casa da aposentada Júnia Costa (foto acima), 56 anos, por exemplo, são três gerações de brasilienses: ela, as duas filhas e a neta. Júnia nasceu em 1963, três anos após a inauguração da capital, e formou uma família genuinamente brasiliense: teve duas filhas, Pollyana e Salma – de 31 e 17 anos, respectivamente –, e a neta, Maria Júlia, 5 anos. “Antigamente, as pessoas me diziam que eu era a primeira pessoa nascida aqui que conheciam”, conta. “Hoje já é mais comum.”

A proporção de brasilienses é ainda maior nas cidades de média (alta e baixa) e baixa renda. No grupo 2, que reúne 922 mil pessoas com renda média domiciliar de R$ 7.299, o percentual de nascidos no DF é de 55,7% e de 55,9% no grupo 4, formado por 307 mil moradores com renda média domiciliar de R$ 2.463. Mas esse índice chega a 58,6% nas cidades do grupo 3, onde estão reunidas 1,2 milhão de pessoas e a renda média domiciliar é de R$ 3.087.

Entre os que moram no Plano Piloto, Jardim Botânico, Lago Norte, Lago Sul, Park Way e Sudoeste/Octogonal, cidades do grupo de alta renda com população de 401 mil pessoas e renda média domiciliar de R$ 15.662, os nascidos fora do DF representam 56,5% da população.

Mineiros na ponta
A maioria dos que vieram de outros estados para o DF nasceu em Minas Gerais (16,1%), Goiás (12,2%) e Bahia (11,1%). A mãe de Júnia, Geny Costa, 79 nos, é do interior de Goiás. Chegou de Nerópolis, em 1958, para acompanhar o pai, que veio trabalhar na construção da nova capital. Aqui ela conheceu Baldur Costa, com quem se casou e teve dois filhos. Baldur era funcionário do Senado Federal e veio transferido do Rio de Janeiro.

Apaixonadas por Brasília, mãe e filhas dizem que não morariam em outra cidade. “É uma cidade maravilhosa, boa para criar filhos, você ainda consegue ir almoçar em casa, buscar e deixar os filhos na escola porque não tem tanto trânsito como nas outras capitais”, exalta Júnia. “Até gosto de passear em outras cidades, mas morar, nunca. Sua caçula, Salma, completa: “Um professor da faculdade veio do Rio há três semanas e eu falei pra ele que Brasília é a melhor cidade do mundo”.

A PDAD também mostra que 42,8% dos que chegaram de outros estados para o DF disseram ter se mudado para acompanhar parentes. Na classe mais alta, onde os de fora são maioria, 39,4% relataram que vieram ao DF por causa de trabalho. No Grupo 4, 25,3% da população veio para o DF procurar trabalho.

A pesquisa é realizada a cada dois anos pela Codeplan, feita por critério de amostragem, com entrevistas em 21.908 domicílios localizados na área urbana do Distrito Federal. Investigam-se aspectos demográficos, migração, condições sociais e econômicas, situações de trabalho e renda, características do domicílio, condições de infraestrutura urbana, entre outras informações, com o objetivo de oferecer um diagnóstico detalhado da situação atual da cidade. (Com informações da Agência Brasília)

 

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