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Coronavírus: por amor, médicos e enfermeiros não voltam para casa

Lidando diariamente com infectados, profissionais da saúde, para preservar parentes, têm se hospedado em flats ou casa de amigos

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Hugo Barreto/Metrópoles
Médicos profissional de saúde equipado com máscara (sem rosto visível)
1 de 1 Médicos profissional de saúde equipado com máscara (sem rosto visível) - Foto: Hugo Barreto/Metrópoles

Entre cumprir o dever imposto pela profissão e cuidar da família, centenas de profissionais da saúde no Distrito Federal tomaram a difícil decisão de se manter distantes das pessoas que mais amam. Com medo de levar o coronavírus para dentro de casa, médicos, enfermeiros e técnicos têm dormido em hotéis ou flats.

E eles têm razão para se preocupar. De acordo com o último boletim da Secretaria de Saúde, do total de 1.140 infectados na capital do país, 14% trabalham em hospitais e outras unidades de atendimento a pacientes.

No caso do endocrinologista Fernando Martins Alves, 35 anos, do Hospital Santa Lúcia, a saudade já dura três semanas. Após ser chamado para trabalhar no Hospital Regional da Asa Norte (Hran) para ajudar no combate à doença, ele precisou, em nome do amor, ficar longe da esposa e dos filhos.

Ele conta ter contato frequente com infectados e não quer correr o risco de ser o vetor de transmissão para a família. “Acabei indo para a casa de outro amigo, médico. Foi a melhor opção para não precisar gastar com diária em hotel por tanto tempo”, conta.

Impossibilitado de manter contato físico, Fernando ameniza a saudade com videochamadas diárias. “Eu até tento ver de fora de casa, às vezes, fico na porta, mas não entro. Não posso arriscar”, conta.

Uma vez que o número de casos no DF não para de subir, ele ainda não sabe quando poderá retomar a rotina e se mostra apreensivo com o tempo que a pandemia pode durar na cidade. “Não tem como não ficar angustiado com a situação”, confessa.

Veja o depoimento do médico Fernando Martins:

Mãe no grupo de risco

O enfermeiro Fernando Carlos da Silva, 36, do Hospital Sírio Libanês, também achou mais prudente manter-se longe da família. Até o fim de março, ele morava com a mãe, que está no grupo de risco. Em contato diário com pacientes infectados com Covid-19, ele preferiu alugar um flat próximo ao local de trabalho.

Segundo ele, o coronavírus impôs a necessidade de morar sozinho, mesmo não sendo da sua vontade. “Minha mãe, no ano passado, teve uma pneumonia e precisou ficar internada. Foi em decorrência de uma gripe. Imagina se sou eu que passei para ela?”, preocupa-se.

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Ele também tem recorrido à tecnologia para manter contato com a mãe. “Mando mensagem, conversamos por vídeo. É o jeito que dá”, resigna-se.

Veja o depoimento do enfermeiro Fernando Carlos:

 

Aflição

“Somos seres humanos. Medo eu sinto, mas a vontade de ajudar é maior”, contou a enfermeira Eva Portugal, 23 anos. A profissional trabalha na Unidade Básica de Saúde 12, de Samambaia, e atua nos postos de testagem rápida para diagnóstico do novo coronavírus.

A aflição no coração é por causa da família. Eva é casada e é mãe de uma menina. “Tenho medo de transmitir a doença para ela”, explicou. Segundo a jovem profissional, mesmo na testagem, os profissionais de Saúde se arriscam, afinal, muitas pessoas não usam máscaras.

“Corremos o risco de contaminação, porque estamos em contato com pacientes sem máscara”, explicou. Por isso, a enfermeira considera correto o decreto que estabelece a obrigatoriedade do uso dos equipamentos de proteção no DF.

Quando volta para casa, todos os dias, antes de abraçar a família, Eva vai para uma área reservada, onde tira as roupas e as coloca em uma sacola. “No trabalho, tomamos todos os cuidados e buscamos seguir os protocolos”, pontuou.

Apesar de admitir sentir medo, Eva segue em frente. “Estamos tendo orgulho de trabalhar nas testagens, porque comprovam, com números, o quanto o isolamento social é benéfico”, afirmou.

A enfermeira ressalta: “Este é um excelente momento para a Enfermagem ser reconhecida como ela merece”.

Entre cumprir o dever imposto pela profissão e cuidar da família, são vários os profissionais da saúde no Distrito Federal que precisaram tomar a difícil decisão de se isolar dos entes queridos.
Eva se preocupa com a possibilidade de contaminar familiares
Sentimento difícil de lidar

A pediatra Natália Kairala, 27, do Hospital Materno Infantil de Brasília (Hmib), esteve contaminada com Covid-19 e precisou ficar duas semanas sem ver a filha, Maria Eduarda, de 5 anos.

Para ela, foi o período mais difícil da vida. “A pior parte do isolamento foi ficar longe dela. Eu estava com medo que ela contraísse [o coronavírus]. Ficava sozinha em casa e isso me deixava muito triste. Só podia falar com ela pelo WhatsApp”, lembra.

Depois de 13 dias de distanciamento social, a médica realizou um novo exame para constatar que estava plenamente recuperada da doença. Com o resultado negativo, preparou o reencontro com Maria Eduarda, que ocorreu no último dia 5.

Veja o momento do reencontro de mãe e filha:

Depois do episódio, Natália conta que passou a tomar ainda mais cuidados no trabalho, justamente para não precisar passar por esse sofrimento novamente. “Enquanto estou no trabalho, ela fica na casa da avó. Antes de buscá-la, tomo banho lá mesmo e, quando chego em casa, tomo outro para garantir.”

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O pai de Maria Eduarda, também médico, achou mais prudente ficar sem ter contato com a filha, dado o elevado risco de se contaminar. “Ele atende adultos e é mais fácil de pegar. Apesar de minha filha sentir muitas saudades, tanto de mim como do pai, ela sempre entendeu que é uma necessidade”, conta.

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