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Butantan quer ficar com Naja que picou jovem acusado de tráfico de animais

Segundo o Ibama, instituto paulista manifestou interesse em manter a serpente em seu plantel. Trâmites ainda precisam ser formalizados

atualizado

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Ivan Mattos/ Zoológico de Brasília
Naja no Zoo de Brasília
1 de 1 Naja no Zoo de Brasília - Foto: Ivan Mattos/ Zoológico de Brasília

O destino da cobra Naja kaouthia que picou e quase matou o estudante de medicina veterinária Pedro Henrique Santos Krambeck Lehmkul está a um passo de ser decidido de vez. Após a Fundação Jardim Zoológico de Brasília (FZB) anunciar que não poderá ficar com a serpente, o Instituto Butantan manifestou interesse em manter a cobra em seu plantel. A informação foi confirmada nesta terça-feira (4/8) pelo Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais (Ibama).

A Naja está no Zoológico de Brasília desde o dia de sua captura, em 7 de julho. Dentro de serpentário da instituição, em um ambiente separado de outras cobras, ela ganhou espaço nos noticiários do país após ter picado o universitário Pedro Krambeck, 22 anos, que a mantinha ilegalmente em cativeiro.

O caso acabou envolvendo a Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF), que deflagrou a Operação Snake, com o intuito de desvendar um possível esquema de tráfico de animais silvestres na capital do país.

Entre os supostos participantes do bando, um grupo de estudantes de medicina veterinária de uma universidade particular do DF. Pedro Krambeck e o amigo Gabriel Ribeiro, 24, chegaram a ser presos, acusados de atrapalhar a investigação da PCDF, mas foram soltos em menos de uma semana.

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Os próximos passos para a transferência da Naja para São Paulo, onde fica o Instituto Butantan, ainda precisam ser protocolados. Até o momento, o Zoo não recebeu o ofício que definirá como serão os trâmites para entrega da serpente.

Ao Metrópoles, o Instituto Butantan disse que foi procurado pelo Ibama para saber se há interesse na manutenção do animal em seu plantel, mas que as tratativas ainda não foram finalizadas. “Está em andamento”, disse o órgão.

“A Fundação Jardim Zoológico informa que a escolha de animais que integram o plantel é feita com base em um documento interno elaborado pela equipe técnica com propósitos de conservação, educação e pesquisa, que prioriza espécies da fauna local e espécies contempladas por programas de conservação nacionais e internacionais que dependam de esforços humanos para não serem extintas”, diz o Zoo, em nota, justificando a decisão de não manter a Naja no local.

Fins científicos

O Brasil tem 1.315 cobras registradas vivendo em cativeiro, de acordo informações do Ibama analisadas pelo (M)Dados, núcleo de jornalismo de dados do Metrópoles.

Desse total, 1.242, ou 94%, estão em instituições com fins científicos. As outras 73 serpentes encontram-se em estabelecimentos comerciais, como museus e aquários.

De acordo com o Ibama, cobras peçonhentas podem ser criadas apenas com fins comerciais por instituições farmacêuticas. Se o criador tiver o intuito de conservação, o animal só deve ser colocado em cativeiro quando não for possível voltar à natureza, por diversos motivos, como ter sido vítima de maus-tratos. No caso de espécies não venenosas, o interessado deve solicitar autorização no órgão ambiental do estado.

A instituição com a maior quantidade de serpentes registradas é o Butantan, referência em pesquisa biológica no Brasil, com 790 indivíduos. É de lá, inclusive, que veio o soro aplicado no estudante brasiliense. Em seguida estão a Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, com 271 cobras, e a Universidade Federal da Bahia, com 181. O gráfico a seguir traz o ranking total.

Desde 2010, mais de mil pessoas morreram por conta de picadas de cobras no país.

“Fica, Naja”

Apesar de todas as justificativas, os brasilienses têm se manifestado a favor de poder visitar e conhecer a famosa Naja. A Ouvidoria-Geral do Distrito Federal (Ouv-DF) passou a receber pedidos para que a cobra permaneça em exposição na capital federal. Há solicitações, até, para que seja feita uma vaquinha virtual “para construção de um recinto especial para a mesma”.

Nas justificativas, os cidadãos argumentam que a cobra “será sempre motivo de curiosidade e, inclusive, de orgulho para todos os brasilienses, pois foi por meio dela que todo um esquema de tráfico de animais foi desarticulado pela Polícia Ambiental”, afirma um dos pedidos.

Nas investidas, os moradores do DF também preveem um aumento de visitantes na instituição após o fim do período mais crítico da pandemia do novo coronavírus. “Acredito que após o retorno normal das atividades do Zoológico no período pós-pandemia, as visitas ao local aumentarão consideravelmente, o que poderia aumentar também o fluxo de caixa.”

O caso

Após o incidente envolvendo a Naja e o estudante suspeito de tráfico de animais, o animal foi abandonado por um amigo do rapaz nas proximidades do shopping Pier 21, no Setor de Clubes Sul. Apesar de estar solto, o universitário continua sendo investigado.

Com a repercussão do caso, a cobra ficou conhecida nas redes sociais e já ganhou inúmeros perfis com deboche por ter sido a responsável por desmembrar o esquema criminoso de transação de animais.

Outra serpente que está no Zoológico de Brasília, mas que ainda não tem destino certo, é a víbora-verde-de-voguel, apreendida durante a Operação Snake.

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