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Bike Tour ganha adeptos, mas visitantes criticam estado das atrações

Má conservação dos pontos turísticos, falta de iluminação e calçadas desniveladas são alguns dos problemas para quem recorre ao passeio

atualizado

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Rafaela Felicciano/Metrópoles
Tour de bike por Brasília
1 de 1 Tour de bike por Brasília - Foto: Rafaela Felicciano/Metrópoles

Uma novidade pouco tradicional tem atraído muitos turistas brasileiros e estrangeiros que visitam a capital federal. A empresa Camelo Bike Tour, fundada em 2014, no Dia Mundial sem Carro, teve a ideia de oferecer passeios turísticos por diversos pontos de Brasília, mas o percurso, como o próprio nome sugere, é feito de bicicleta. O grande problema é que a infraestrutura fornecida a ciclistas e o estado de conservação das principais atrações da cidade não colaboram com o passeio.

Graco Santos, 50 anos, é um dos idealizadores do projeto e contou ao Metrópoles como surgiu a iniciativa. “Não queria guiar dentro de um ônibus ou de uma van, porque isso muitas pessoas já fazem. Havia feito esse turismo de bicicleta em outras cidades que visitei. Em Brasília, é algo praticamente inexistente. Por isso, resolvemos apostar e vem dando certo”.

Mas, ao mesmo tempo que se empolga ao falar do projeto, Graco cita as dificuldades enfrentadas em função da infraestrutura precária. “Em alguns pontos, a pintura das ciclovias e ciclofaixas está muito apagada. Alguns trechos estão completamente destruídos. Também falta sinalização vertical, identificando se a ciclovia é compartilhada ou não. Há ainda a iluminação precária, principalmente para quem costuma pedalar no período da noite”, avalia.

Ele relembra o caso do ciclista Arlon Fernando da Silva, estudante da Universidade de Brasília (UnB) que foi morto, aos 29 anos, em 7 de dezembro do ano passado, enquanto pedalava por uma ciclovia do Eixo Monumental, na altura da Câmara Legislativa. Graco também defende a necessidade de instalar mais postes de luz, além de podar copas de árvores.

Ele critica ainda a inexistência de paraciclos, locais próprios para guardar bicicletas. “Elas ficam presas em postes, lixeiras, corrimãos, semáforos ou mesmo guardadas dentro das lojas”, relata.

Quatro opções
Apesar dos problemas, o Bike Tour tem atraído muita gente, tanto que a empresa antes só operava virtualmente e, agora, está abrindo uma sede física no Setor Hoteleiro Sul. São quatro opções de passeios, que custam de R$ 150 a R$ 230. A duração também varia, entre três e cinco horas. São, em média, três ou quatros tours realizados por semana. O número máximo de pessoas por passeio é de 15.

A estudante de nutrição Glendha Bastos, 20, veio de Fortaleza (CE) para um congresso e aprovou a novidade. “Primeira vez que visito Brasília. Queria algo que não fosse clichê para conhecer os pontos turísticos. Fiquei sabendo do passeio de bike e me interessei na hora”.

Além dos brasileiros de outros estados, a empresa tem recebido pessoas de países como Estados Unidos, Inglaterra e Canadá, além do Leste Europeu.

É o caso da sérvia Zorana Kostovich, 50, que é arquiteta e diz ter ficado encantada com a capital. “Estudei todos os monumentos antes de vir e percebi como o conceito da cidade se encaixa na vida das pessoas. Achei superinteressante”, conta.

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Reparos
Consultada sobre os problemas relatados pelos ciclistas, a Secretaria de Mobilidade do Distrito Federal (Semob) informou que, em agosto de 2017, foi lançado o Plano de Ciclomobilidade +Bike, o qual prevê a melhoria e a ampliação da infraestrutura cicloviária da capital, conectando as ciclovias já existentes e criando uma rede integrada para facilitar o deslocamento dos usuários.

Por meio do plano, foi elaborado um diagnóstico a fim de identificar os problemas de conexão e infraestrutura para que as falhas sejam reparadas. O projeto prevê ainda a implantação de 750 quilômetros de nova infraestrutura cicloviária para os próximos anos. De acordo com a pasta, somado aos 428 quilômetros já existentes, Brasília será a cidade com maior malha cicloviária da América Latina.

A implantação foi dividida em etapas. A primeira fase prevê a construção de 218 quilômetros de nova infraestrutura até o fim de 2018, dos quais 65 já estão em obras.

Má conservação de pontos turísticos
Dentre os locais visitados durante o passeio de bicicleta, destacam-se pontos turísticos tradicionais da capital como o Museu Nacional da República, a Praça dos Três Poderes, a Torre de TV, o Parque da Cidade e a Catedral Metropolitana.

A situação mais grave é a do Teatro Nacional, fechado desde 2014 por conta de várias irregularidades apontadas pelo Corpo de Bombeiros. Do lado de dentro do espaço, as salas foram lacradas. Já na parte externa, pichações, lixo e um forte cheiro de urina tomam conta do local.

O lixo também é visível na Catedral. É possível encontrar, dentro do espelho d’água, itens como jornais, garrafas e sacos plásticos boiando. Na entrada da igreja, uma grande rachadura corta o chão, sendo coberta por um tapete vermelho mais à frente.

Ao lado, o Museu Nacional da República foi tomado por pichações, tanto na calçada quanto nas paredes do lado externo da estrutura. Outro que não escapa do descaso é o Panteão da Pátria, onde fica localizada a “Chama eterna da liberdade”, que, por ironia, se apagou por falta de manutenção e agora está interditada. As marcas de vandalismo também estão presentes na parte externa do monumento.

Na Praça dos Três Poderes, chama atenção o estado das calçadas, que apresentam um grande desnivelamento, além de várias pedras soltas. Ao subir o Eixo Monumental, chega-se à Torre de TV, cercada por tapumes em razão de obras de revitalização. Após os recentes episódios do desabamento de um viaduto no Eixão e do descarrilamento de vagões do Metrô-DF, os reparos estão sendo providenciados. Laudos de 2014 e 2015 já apontavam as falhas.

E se engana quem acha que todos esses problemas passam despercebidos aos olhos dos visitantes. O empresário sérvio Miladin Kostovich, esposo de Zorana, critica o descaso com as obras arquitetônicas. “É uma cidade linda, mas poderia ser mais bem cuidada, sem dúvida”.

Rosiclei Ferreira, 42, é advogado, mora no Amapá e também comenta a falta de manutenção. “Fiquei surpreso ao notar que em alguns locais, caso da Catedral, os problemas ficam evidentes. Brasília é um lugar que precisa ser preservado”, cobra.

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Jogo de empurra
Consultado sobre os problemas encontrados principalmente na Esplanada, o Ministério do Turismo respondeu que “a gestão, manutenção e operação dos pontos turísticos das cidades são de responsabilidade dos governos locais”.

O órgão ressaltou que, quando demandado, “apoia obras de construção, ampliação ou reforma de equipamentos turísticos, espaços públicos de circulação do visitante e projetos relacionados a acessos, sinalização e acessibilidade”.

Em entrevista, o secretário de turismo do Distrito Federal, Jaime Recena, reconheceu que muito da má conservação dos pontos turísticos de Brasília é de responsabilidade dos órgãos locais, mas dividiu boa parte da culpa com as pessoas que depredam o patrimônio público.

“É óbvio a nossa responsabilidade na gestão dos equipamentos, mas boa parte da situação atual é fruto de má utilização do público e atos de vandalismo. O Estado não tem a capacidade nem recursos disponíveis para, a cada pichação, fazer nova pintura”, disse.

Sobre a recuperação dos espaços, Jaime ressaltou que as manutenções devem ocorrer a partir do próximo mês. “Nossa previsão é de uma grande ação de revitalização de boa parte desses espaços agora em maio. Devemos, a partir da próxima semana, assumir a gestão da Praça dos Três Poderes. No caso do Museu da República, há pouco tempo foi realizada a nova pintura. Também estamos em contato com a arquidiocese local para auxiliar na revitalização da Catedral”, completou o secretário.

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