Literatura de Brasília não cansa de surpreender e gerar bons autores
O mais recente é o defensor público José de Almeida Júnior, vencedor do Prêmio Sesc
atualizado
Compartilhar notícia
Com minha decisão de desistir da minha candidatura ao cargo de deputado federal, volto a escrever semanalmente aqui na Dedo de Prosa. E volto com uma grande notícia! Ocorre, nesta terça-feira (5/12), o lançamento oficial do romance “Última Hora”, do potiguar radicado em Brasília José de Almeida Júnior. O livro venceu a última edição do Prêmio Sesc de Literatura em sua categoria.
O Prêmio Sesc consiste na publicação pela Record da obra ganhadora, necessariamente inédita. Almeida Júnior, que é defensor público, já havia chegado à final da competição no ano passado. O evento ocorre no Teatro do SESC, Setor Comercial Sul, Quadra 2, a partir das 19h30.
Ao contrário de outros prêmios importantes, em que o nome do escritor costuma ter peso, o Prêmio Sesc é totalmente impessoal. As inscrições são feitas sob um pseudônimo e a leitura da obra pelos jurados é realizada às cegas, sem conhecer o nome do autor. Por isso, se trata de um bom termômetro e teste para escritores novatos. É a principal condecoração para garimpar revelações.
Nos últimos anos, a categoria romance foi vencida por escritores desconhecidos do grande público, mas com qualidade certamente garantida: Franklin Carvalho, com “Céus e Terra”, Sheyla Smanioto, em “Desesterro”, e Débora Ferraz, de “Enquanto Deus Não Está Olhando”. Em 2010, a ganhadora foi uma jovem colega diplomata e autora de “Prosa de Papagaio”, Gabriela Gazzinelli.
Trata-se de um romance histórico muito bem estruturado, com pesquisa impecável, sobre o surgimento e a consolidação do jornal “Última Hora”, a partir a perspectiva de Marcos, um jornalista dividido entre os ideais comunistas e as oportunidades profissionais que representavam a empreitada de Samuel Wainer, um dos empresários de mídia mais ousados do Brasil.
Uma ficção repleta de personagens e passagens reais sobre os ambientes político e jornalístico durante o segundo governo de Getúlio Vargas. Mestres da mídia, como os jornalistas Carlos Lacerda, Armando Nogueira, Nelson Rodrigues e Samuel Wainer, aparecem na história. Personalidades políticas, a exemplo de Carlos Prestes, Gustavo Capanema, o próprio Getúlio, Jango, Café Filho, Tancredo Neves, Assis Chateubriand, o Chatô, e Roberto Marinho também são citados.
Partindo do ponto de vista de Marcos, o leitor consegue reviver o ambiente, a tensão e os paradoxos de um período em que estavam em gestação os antagonismos responsáveis pela crise de 1964.
Trata-se da história do “Última Hora”, mas o livro é finalizado com a morte de Getúlio. O jornal ainda perdurou até a década de 1970, mas não resistiu ao período militar e foi vendido ao grupo Folha da Manhã, que edita a “Folha de São Paulo”.
Não poderia deixar de me gabar pelo fato de ter recebido o primeiro exemplar da edição das mãos do autor, dias após ter sido finalizado na gráfica. Mas a fama precedia o volume e o material não decepcionou. O prêmio caiu em boas mãos.
Exílio
O que mais dói no exílio
é não poder voltar
para enterrar meus mortos
O que mais dói na cidade natal
é não poder fugir
para enterrar meu vivos
poema meu, do livro “Terminal (2016)”, que um amigo tatuou nas costas.
Depois disso, pensei: “vale a pena aparecer aqui”