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Por uma escola que construa sonhos e combata a evasão

Em artigo no Metrópoles, a deputada Tabata Amaral (PDT-SP) defende uma educação integral e integrada com as necessidades dos jovens

Daniel Ferreira/Metrópoles
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1 de 1 Eja-ensino-educacao - Foto: Daniel Ferreira/Metrópoles

atualizado

Antes de “quarentena” e “pandemia” fazerem parte do nosso vocabulário, os desafios estruturais a serem enfrentados na nossa educação já eram muitos, em especial no ensino médio. A evasão escolar e a distorção idade série fazem com que 3 em cada 10 jovens entre 15 e 17 anos não estejam nessa etapa de ensino, enquanto os demais não necessariamente tem um nível adequado de aprendizagem, como comprovam as avaliações nacionais.

Desses problemas, derivam outros, os quais ficam evidentes assim que adentramos uma sala de aula. Quando tenho a oportunidade de lecionar ou palestrar para estudantes de escolas públicas, sempre faço questão de perguntar aos alunos quais são seus sonhos. Quando a sala de aula é do ensino fundamental, as respostas vêm de todos e são as mais variadas possíveis – de médico e bombeiro a astronauta e professor. Ao fazer a mesma pergunta a estudantes do ensino médio, a reação é a oposta. Quase ninguém levanta a mão.

Os nossos jovens, via de regra, vão perdendo a capacidade de sonhar ao longo de sua jornada escolar. O que lhes é ensinado, muitas vezes, tem pouca aplicação prática, não contribui para a construção de seus projetos de vida e não está conectado com os problemas atuais.

Por isso, decidi que a minha atuação na área de educação nos próximos dois anos do mandato terá como objetivo que nossos jovens tenham oportunidades reais de desenhar e alcançar seus sonhos.

Primeiro, precisamos de escolas em tempo integral – verdadeiramente integrais. Ou seja, que além de receberem os alunos no contraturno, desenvolvam suas habilidades socioemocionais e lhes apoiem no desenvolvimento de seus projetos de vida. O Ministério da Educação está extremamente atrasado na implementação de uma política de fomento à educação integral, como apontou o boletim do final de 2020 da Comissão Externa que acompanha os trabalhos do MEC. Por isso, dedicarei parte dos meus esforços à fiscalização e acompanhamento desse programa.

sala de aula vazia na escola
Sala vazia: perda com evasão escolar no país é de R$ 214 bilhões por ano, ou 3% do PIB

No âmbito das proposições legislativas, destaco primeiro um projeto voltado para o ensino técnico e profissional que foi apresentado dois anos atrás, durante o lançamento da Agenda Social da Câmara dos Deputados, e que ainda precisa ser aprovado. O PL 6494/2019 tem como objetivo garantir que o ensino técnico e profissional esteja conectado com as demandas da economia e com a evolução tecnológica, e dê oportunidades reais de capacitação para os nossos jovens.

Outro projeto de extrema importância é o PL 54/2021, de minha autoria, apresentado recentemente na Câmara dos Deputados. Ele cria um incentivo financeiro para alunos em situação de pobreza ou extrema pobreza, que será dado ao final de cada ano do ensino médio concluído, além de um bônus caso o estudante tenha pontuação igual ou superior à média no Enem. De acordo com experimentos e estudos que já foram conduzidos inclusive aqui no Brasil, programas como esse não só reduzem a evasão escolar, como também estimulam a aprendizagem. O custo estimado desse projeto é de 1,7 bilhão de reais em 2021, o que representa menos de 1% do que o Brasil perde por ano com a evasão escolar, segundo uma pesquisa conduzida pelo economista Ricardo Paes de Barros.

Como deputada, lutarei para que todos esses projetos sejam aprovados. Quero, com essas e outras ações, voltar para a sala de aula e ouvir uma resposta diferente. Meu desejo é que, quando questionados sobre os seus sonhos, todos os alunos de ensino médio de uma escola pública levantem a mão.


Tabata Amaral é cientista política, astrofísica e deputada federal pelo PDT-SP. Formada em Harvard, criou o Mapa educação e é cofundadora do Movimento Acredito.