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Cooperativas se reinventam na crise com inovação e adaptações dos negócios

Empresas que adotam esse tipo de sistema têm gerado emprego e mostrado força com um modelo baseado no coletivo

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1 de 1 cooperativa - Foto: Getty Images

atualizado

Centrado nas pessoas e no coletivo, o cooperativismo se consolidou como uma alternativa para muitas pessoas fugirem da crise econômica causada pela pandemia no novo Coronavírus. A criatividade e os princípios do sistema foram decisivos para que diversas organizações, dos mais variados portes, conseguissem superar as dificuldades, sem deixar de lado a preocupação com a sustentabilidade e a saúde – dos negócios e das pessoas.

Em um momento em que se precisa demitir e enxugar os gastos, as cooperativas tiveram que se reinventar e buscar novas frentes de trabalho. Em uma cooperativa, demitir não é uma opção. Então só resta inovar.

Fabíola Nader, gerente de Relações Institucionais do Sistema Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB)

Como alternativa, muitas delas optaram por adiantar as “sobras” (dinheiro que é repartido entre os membros no fim do exercício fiscal) para os cooperados, adquirir novos materiais para produção e se organizar para negociar crédito mais baratos para os membros, por exemplo.

A tecnologia também se mostrou uma grande aliada para solucionar as dificuldades causadas pela pandemia. “Uma cooperativa de psicólogos no Rio de Janeiro, por exemplo, criou rapidamente um aplicativo de celular para atender os pacientes em home office”, conta Fabíola.

Visão holística para o mercado

Atualmente, os empreendedores e consumidores estão cada vez mais atentos ao papel desempenhado por todos os entes que compõem uma cadeia produtiva. De forma holística, se atentam para o jeito como as organizações lidam com o meio ambiente, com o capital humano e a transformação social. Como em uma cooperativa não há chefes ou acionistas, todos fazem parte do sucesso e ou não, por isso, se reinventar diante das adversidades é uma característica determinante de muitas delas.

Presente há mais de 20 anos no mercado, a Cooplem Idiomas teve que ajustar o formato das aulas para atender os 5 mil alunos. Entre as iniciativas para não interromper o ensino estão a contratação de uma plataforma digital personalizada e a assinatura do Meet, ferramenta do Google para transmissões ao vivo. Os cursos passaram a mesclar aulas gravadas e presenciais com os professores.

“Nossa preocupação era não reduzir a carga horária e a qualidade do ensino. Por isso, assim que surgiu a crise, reunimos nossos 130 cooperados para definir quais seriam os próximos passos”, lembra Joice Asevedo, diretora de marketing e coordenadora do curso de espanhol da “Cooplem Em Casa”, modalidade que nasceu durante a pandemia. 

Outra maneira de não prejudicar a educação dos alunos foi firmar parcerias. Juntamente com a Livraria SBS, a Cooplem usou um motoboy para entregar os materiais didáticos na casa dos estudantes.  

Os salários e jornadas foram reduzidos em 20% e o fundo de reserva foi usado para cobrir os gastos de forma igualitária entre os cooperados durante os meses de maior dificuldade, conta Joice. 

Cooperada há 17 anos, ela abandonou a carreira no serviço público para se dedicar a esse modelo de negócio e não se arrepende. “Sou apaixonada pelo cooperativismo. Dentro de uma empresa, o lucro sempre fica com o dono, por mais que o funcionário trabalhe bem. Na cooperativa, tudo é feito para o bem dos sócios. Isso torna o ambiente mais leve”, comemora.

Crédito contra a crise

Muito além de pequenas redes regionais, esse tipo de sistema alcança também grandes empresas com atuação nacional. A Unimed, uma das maiores cooperativas desse modelo, no país e no mundo, é prova disso. Atuando na linha de frente do combate à Covid-19, conseguiu empregar cerca de 20 mil pessoas entre março e outubro deste ano. Uma das primeiras iniciativas adotadas foi colocar as áreas administrativas de cerca de 87% das cooperativas do grupo em home office.

Para Ana Flávia Rodrigues, gerente de gestão de pessoas e desenvolvimento humano da marca, os princípios do cooperativismo garantem o serviço de qualidade para o cliente final. “O foco nas pessoas leva emprego e condições melhores para o meio hospitalar. O ambiente, o salário e o desenvolvimento são melhores porque envolve o coletivo, já que os próprios médicos são os cooperados”, explica. Em março de 2018 a Unimed tinha no quadro 97 mil colaboradores. Em outubro deste ano, esse número subiu para 124 mil, uma alta de 27% em dois anos.

As cooperativas de crédito aparecem na liderança das instituições que aprovaram empréstimos a pequenos negócios durante a crise do coronavírus, de acordo com pesquisa do Sebrae e a Fundação Getúlio Vargas (FGV). No período, empresas como Sicoob, Sicredi, Viacredi, Unicred, entre outras, foram responsáveis por 31% das concessões – à frente de bancos privados, instituições bancárias públicas ou outros agentes do segmento. 

O empresário e preparador físico Fernando Wigeneski foi um dos milhares de empreendedores que tiveram que recorrer a uma cooperativa de crédito neste ano. Dono das academias Concept Fit, localizadas em Sobradinho 1 e 2 e em Planaltina, ele viu a necessidade de fechar as portas das unidades por 110 dias. Após realizar um planejamento, adotou a política de demissão zero e buscou apoio da Confebras para não reduzir os salários dos 60 funcionários. A cooperativa negociou uma linha de crédito de R$ 400 mil com condições especiais. 

Fernando Wigeneski buscou apoio em uma cooperativa de crédito para manter os negócios na pandemia

Associado há quatro anos, ele garante que os benefícios vão além dos financeiros.  “Um fator que me faz indicar esse modelo a outros amigos empresários é o espaço que existe para a troca de experiências. Estamos sempre aprendendo uns com os outros”, comenta. Mesmo com a reabertura do comércio no DF, ele teve que mudar para atrair alunos ao novo normal, reforçando a segurança para quem frequenta as academias. “Seguimos todos os protocolos de saúde, higienizando sempre os aparelhos e reforçando os cuidados com os professores e alunos”, explica.

Cooperativismo pós-pandemia

O presidente da Organização das Cooperativas do Distrito Federal (OCDF), Remy Neto, aposta no crescimento e popularização de segmentos cooperativistas relacionadas a atividades como crédito, transporte e tecnologia para os próximos anos. “A sociedade está adotando esse modelo por perceber suas vantagens como alternativas ao emprego formal ou ao concurso público. As cooperativas foram essenciais para manutenção de vários negócios nos últimos meses, prorrogando vencimentos e renegociando contratos”, ressalta.

O deputado federal Arnaldo Jardim, que faz parte da diretoria da Frente Parlamentar do Cooperativismo (Frencoop), também defende esse modelo de negócio e destaca sua importância para a retomada da economia no pós-pandemia por se basear na humanização e no papel social. Para ele, além do agronegócio, setores como saúde, moradia, transporte e crédito devem liderar o processo de recuperação de empresas, sejam elas de grande ou pequeno porte.

“A tendência, dentro e fora do Brasil, é de um consumo cada vez mais focado na sustentabilidade, medido não apenas na forma quantitativa, mas de maneira qualitativa. Isso contribui para uma melhor distribuição de renda”, ressalta.

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